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Gabriel Barbosa

Amanheci com uma baita dor de cabeça e meu pulso latejava com a tala que Isabella tinha colocado em mim, não cogitei em ir pro hospital, tinha passado pela triagem na enfermaria do clube e confio cegamente na Isabella.

A alguns anos atrás quando começamos a namorar, ela fez alguns cursos de primeiro socorro e de enfermagem básica, segundo ela era necessário que ela ao menos soubesse saber cuidar e controlar a situação quando eu não estivesse bem.

Tomei um banho e separei algumas coisas pra mais tarde, acabou que por conta da minha fratura no punho eu fiquei fora do jogo, mas ainda assim vou pra assistir.

Ontem, naquele jantar me estressei com a forma como o Richard brincava e fazia a Isabella rir, estava na cara que os dois tinham esquecido os outros ao redor, como se só tivesse eles ali. Estava com tanta raiva que fui pro meu escritório e fiquei por lá por um tempo, e depois, já menos estressado eu voltei.

Desci pra sala e estranhei a casa estar tão quieta, a mesa do café da manhã já estava posta e por mais impressionante que seja, ela ainda não estava lá.

- Bom dia Pamela, Isabella não desceu ainda?- me sentei na cadeira.

- Bom dia senhor Gabriel, ela não está em casa.

- Foi trabalhar cedo hoje?- perguntei estranhando.

- Na verdade ela não dormiu em casa, foi pro escritório ontem a noite e não voltou ainda.

- Ela tá louca, virar a noite no trabalho e sozinha?- fiquei intrigado, peguei o celular abrindo em nossa conversas mas não tinha nenhuma mensagem dela.

- Acredito que ela queira dar conta de tudo antes da dona Lindalva chegar.- a olhei de imediato, surpreso com o que ela tinha falado.

- Minha mãe?- ela assentiu- Calma Pamela, me explica isso.

- A Isa pediu para que eu organizasse a chegada da sua mãe pra semana que vem,  pelo que eu sei elas conversaram e combinaram assim.

Balancei a cabeça ainda confuso com tudo, uma hora ela manda eu me preparar para o divórcio e na outra ela decide que vai passar as férias com minha mãe? O que deu na Isabella?

Fui tomando meu café enquanto enviava mensagem pra ela, mas nada de ter um retorno. Por mais que o escritório seja seguro e rodeado de seguranças vinte e quatro horas por dia, ainda assim é perigoso ela passar a noite toda lá sozinha.

- Pedro, peça pra que façam um café mais reforçado e embalem pra viagem.- pedi e ele concordou saindo.

A Pamela ainda estava por perto, comendo alguma coisa enquanto certificava a lista de afazeres do dia. Me virei pra ela, que ao perceber que estava encarando, me olhou também.

- O que ela achou das tulipas?- perguntei.

- Ela não viu, não entrou no quarto desde ontem a tarde.

Ela nem ao menos viu meu esforço, deveria esperar isso mesmo. Tornei a ficar na minha posição que antes estava e esperei o Pedro trazer uma pequena bolsa térmica com as comidas que eu tinha pedido.

- O quarto da Isabella está trancado?- perguntei pra Pamela.

- Não tranquei desde ontem.

- Então tire as tulipas de lá, jogue elas fora.- me levantei ajeitando a bolsa.

- Tirar? Mas a Isa ainda não viu.

- Tulipas são flores sensíveis e delicadas, elas devem estar murchas e feias.- a olhei- Tire todas, jogue no lixo e não comente nada com a Isabella.

- Mas Gabriel...- continuei a olhando- Ela iria adorar.- arqueei as sobrancelhas- Tudo bem, vou tirar elas.

- Pedro, você pode me levar por favor? meu pulso ainda dói.- pedi.

- Claro, vamos!- pegou a bolsa térmica da minha mão e passou na minha frente indo pro estacionamento.

{...}

Cheguei no prédio e fui direto pro setor de advocacia onde eu tinha certeza de que a Isabella estaria. Por já estar em turno de trabalho o movimento estava grande, cumprimentei algumas pessoas e alguns jogadores que estavam por aqui e tomei rumo.

Fui até o escritório dela, bati na porta e como não tive nenhum retorno entrei rapidamente. 

Meu coração estava disparado mas ao me deparar com ela deitada com a cabeça sobre a mesa, tive uma sensação de alívio. Vendo ela assim, quieta e serena me remetia a uma calmaria. Ela parece estar leve e tranquila. Me aproximei da mesa e com cuidado a peguei no colo levando para um canto onde tinha um sofá de couro, igual ao meu. A deitei, tirei o casaco que eu estava usando e a cobri.

Sempre que a vejo eu só consigo me perguntar em como nós paramos onde estamos, sinto saudades de poder toca-la sem medo.

Passei meus olhos pelo seu rosto, tão sereno e relaxado e fui descendo até parar no braço, onde ela tinha a tatuagem de uma borboleta. Na verdade, nós tínhamos a mesma tatuagem, foi uma forma de marcarmos em nós a nossa bebê.

Peguei a bolsa, coloquei em cima da mesa dela e sai dali.

Desci direto e fui pro carro, entrei e pude sentir o peso do meu corpo e principalmente, o cansaço da minha mente. Perder a Nabi foi a maior dor que poderíamos ter passado, ela que foi tão desejada e esperada. Sentimos o gosto da felicidade e logo em seguida ela escapou entre nossos dedos.

De certa forma, não posso julgar ou estranhar o rumo que tomamos. Não fomos capazes de lutar juntos e passar por isso.

{...}

- O senhor volta que horas?- Pamela perguntou ao me ver descer.

- Não vou ficar pra festa, volto assim que o jogo terminar.- ela concordou e foi pra cozinha.

Como eu não iria jogar, estou indo pra assistir o jogo. Já estava pronto, iria comer antes de ir já que por estar tomando medicamento eu preciso me alimentar com frequência. A Isabella não tinha chegado desde de manhã, mais cedo a Pamela foi levar umas roupas já que de lá mesmo ela iria pra alguma audiência.

- Vocês não vão comer?- perguntei a eles.

- Não temos tempo, preciso esperar o senhor terminar pra irmos.- Pedro respondeu.

- De qualquer forma não vai ter que ficar aqui?- olhei pra ele e pra Pamela- Sentem, vocês mandaram fazer muita comida e a Isabella nem está aqui.

- Não posso, tenho que resolver algumas coisas pra ela.

- Pamela, coma logo antes que eu te demita.- falei e ela me olhou debochada.

- Mas a dona Isabella que me contratou.- semicerrou os olhos.

- Nós casamos em divisão de bens, tudo que é dela, é meu e minhas decisões também são as dela.- puxei a cadeira e a empurrei pra sentar.

Bella 🦋• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora