15°🦋

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Isabella Barbosa 

Assim que chegamos do pagode, resolvemos comprar uma pizza e alguns litros de vinho para bebermos e celebrarmos a chegada delas. Eu gosto do calor que é essa casa quando elas estão aqui, me sinto mais acolhida, mais amada e me distrai da falta que eu sinto da minha família. 

Quando decidi vir morar com o Gabriel aqui no Brasil a parte mais difícil foi deixar minhas coisas de lado, por alguns instantes eu pensei que seria egoísta da minha parte ir embora sem "pensar neles". Mas minha mãe, com o jeito doce e compreensivo de ver a vida, me acalentou dizendo: "Eu sei que você ama ele, vá e me deixe. Chegou sua hora de ir."

Queria poder conseguir contar pra ela todas as vezes que não estávamos bem, sei que ela conseguiria me ajudar mas acontece que com a distância, muita coisa mudou. É uma pena.

- Você tá muito cansada?- ouvi o Gabriel perguntar enquanto trazia mais um vinho. 

Olhei ao nosso redor e me dei conta de que elas não estavam mais aqui, talvez tenham ido que eu nem percebi. 

- Não tanto, gostei do dia de hoje.- sorri e peguei nossas taças estendendo para que ele as enchesse. 

- Podemos ir na praia amanhã, o que acha?- assenti com a cabeça e ele continuou dando atenção ao que estava fazendo. 

Assim que terminou de encher nossas taças, se sentou ao meu lado e me puxou para que eu ficasse deitada em seu ombro. Aconcheguei minha cabeça ali, por mais pouco distante que estivesse, eu ouvia o coração dele bater forte como se fosse saltar do peito a qualquer momento.

Coloquei minha mão livre sob ele e passei meu polegar acariciando, não conseguia ver o rosto do Gabriel mas sei que ele estava sorrindo, então involuntariamente acabei sorrindo também.

- Por que seu coração voltou a bater tão forte?- perguntei erguendo um pouco a cabeça para o olhar.

- Porque você está aqui.- desceu o olhar para o fundo dos meus olhos e acariciou meus cabelos - Ele sempre dispara quando você chega muito perto.- sorriu. 

- Sei disso.- falei orgulhosa e senti ele puxar o meu cabelo pra trás, dei um tapa em seu ombro rindo. 

Tornei a deitar minha cabeça sob os ombros dele mas dessa vez, antes eu coloquei nossas taças na mesinha de centro da sala onde estávamos. Ele passou o braços pela minha cintura, se deitou no sofá e me puxou pra cima para que eu ficasse aconchegada e deitada em seu peito. 

As mãos dele faziam um carinho suave e tranquilo enquanto se perdiam nos fios do meu cabelo. 

- Posso te confessar uma coisa?- perguntei e ele murmurou concordando - Estava com saudades disso. 

- Eu também.- ele falou baixinho, como se fosse pra apenas ele escutar - Sei que já te pedi isso antes, mas de verdade, me desculpa por aquele dia no quarto do bebê. Fui imaturo com seus sentimentos e coloquei nossa briga em algo que não deveria intrometer, te fiz ficar daquele jeito...me desculpa. 

As vezes, eu me perguntava se essas coisas que ele falava seria por medo de ficar com a consciência pesada ou se realmente saia de uma forma arrependida. Depois de tanto tempo em guerra, estarmos em paz por conta de uma notícia chata me trás a sensação de estar vivendo nosso amor todo de novo. 

Talvez seja isso, eu preciso me permitir viver nosso amor de novo, da mesma forma que ele está se deixando permitir. 

- Vamos esquecer esse dia, vamos passar uma borracha e fingir que nunca aconteceu.- falei ao subir minhas mãos até alcançar seu rosto e o acariciar - Como isso nunca existiu, não tem o que te perdoar.

Ele segurou minhas mãos e me fez levantar o olhar e percebi que os olhos dele marejavam. Foi repentino, então não imaginava o ver dessa forma. Por mais que o lado da "fraqueza" dele seja algo que só eu tenho acesso, dessa vez, ele realmente me pegou de surpresa. 

- As vezes, quando eu olho pra você, vejo nossa filha. Sabia?- disse com a voz fraca - Não te dei o suporte que você precisava, fui fraco.

- Não, não foi.- sorri acariciando o rosto dele. 

- Eu me afastei de você, deixei a raiva do momento me consumir.- respirou fundo - Eu deveria ter te acalentado e te reconfortado. 

- Você sabe que eu detesto ser reconfortada. 

- Você detesta ser reconfortada pelos outros, não por mim.- me corrigiu, as lágrimas agora também caiam pelo meu rosto, ele me deixava sensível - Agora em diante, não vou te deixar, nem que você implore ou me deteste por isso. E não pense que estou fazendo isso só por conta da sua condição, eu faça isso porque te amo, Bella. E só você me importa.

- Eu também te amo, Bi.- falei sem ao menos perceber o que tinha saído da minha boca. 

Nós parecíamos dois adolescentes se declarando pela primeira vez. Me lembrou claramente o dia que ele pegou o primeiro avião pra Lisboa depois de vencer a libertadores e foi correndo me ver. Deixou de lado até a comemoração com o time só pra ficar algumas poucas horas comigo.

Cada momento que eu tive com ele, mesmo que contado em segundos, valeu a pena e sempre vai valer meu esforço. 

Nos perdemos algumas vezes, claro. Mas precisávamos de um motivo pra voltar a vida, e esse é um grande motivo: ainda nos amamos e só isso nos importa.

Bella 🦋• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora