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Isabella Barbosa

Acordei sentindo uma dor de cabeça forte, parecia que ia explodir. Tomei um remédio e um relaxante muscular antes mesmo que a dor no corpo viesse junto. Ao terminar de me arrumar, tomei meu café e fui ver como estava a organização da casa.

Como tia Linda e a Dhio vai chegar hoje a tarde, achei bom fazermos um churrasco pra recepcionar elas, infelizmente tio Valdemir não vai conseguir vir junto com elas, é uma pena já que eu amo jogar dominó com ele.

Fui pra cozinha ver se estava tudo certo e ir ajudando em algo pra adiantar, hoje estamos com uma cozinheira a menos já que ela não se sentiu muito bem. Lavei os tomates, a cebola e os separei pra começar a cortar em cubos.

- A senhora não quer ajuda?- Pamela perguntou ao entrar na cozinha.

- Não quero que faça nada além da sua função, fica tranquila que aqui eu dou um jeito.

- Eu não me importaria, sério mesmo.

- Mas eu sim.- a olhei - Sem contar que hoje é sábado e daqui a pouco dá seu horário, já deveria estar se arrumando pra ir.

- A senhora tem certeza disso? É muita coisa pra você.- insistiu.

- Pamela, se você não sair daqui e ir pra casa descansar eu juro que te faço ir a força.

- Isso é ameaça em ambiente de trabalho.- brincou me fazendo rir- Estou indo então, Isa. Qualquer coisa me liga.

- Não vou ligar mas muito obrigada.- ela se aproximou me dando um abraço - Não vou trabalhar na segunda, estenda seu fim de semana e volte na terça.

- Sabe viver sem mim?- se afastou do abraço.

- Vai ser difícil mas vou tentar.- sorri e ela fez o mesmo antes de sair.

Tornei a prestar atenção no que estava fazendo e fui terminar de cortar o tomate pro vinagrete, particularmente eu detesto, mas a Dhio é apaixonada pelo que eu faço, ela come em tudo.

Cortei tudo e após separar nos potes certos fui cuidar da carne.

Olhei pra travessa de vidro onde estava e tentei tomar coragem pra pegar. Não me levem a mal, mas eu tenho muito nojo de carne crua e muita fissura com a textura, pra mim é horrível.

Acredito que isso seja um trauma de infância, lá em Portugal é muito comum ver matadouros a céu aberto, principalmente se mora em interior e tiver família dona de fazenda. Uma vez quando fui visitar meu tio, tive a infeliz oportunidade de assistir um. Foi horrível e desde então, comer qualquer carne me dava aflição e enjoo.

Peguei a faca, espetei no meio e quando vi o sangue escorrer senti meu estômago embrulhar.

- Me dá isso daqui.- ouvi o Gabriel se aproximar, pegar a faca da minha mão e me afastar - Por que não me chamou?

- Não sabia que estava em casa.- fui na geladeira pegando água e bebendo rapidamente.

- Vai tomar seu remédio de enjoo antes que fique pior.- tampou a travessa.

- Tenho que terminar de fazer a comida, ainda falta muita coisa.

- Deixa que eu faço.- me estendeu o pano de prato para que eu enxugasse as mãos - Vai pro quarto, a cozinha tá com cheiro de carne.

Balancei a cabeça assentindo e sai dali. O Gabriel é bom na cozinha e melhor do que ninguém sabe das minhas fraquezas. De certa forma isso me dá raiva, é como se ele soubesse a hora perfeita de agir ou de me "salvar". Por outro lado, que bom que pelo menos eu tenho alguém que me compreenda.

Subi pro meu quarto e o cheiro de carne tinha impregnado em mim, ela ainda estava fresca então era óbvio que isso iria acontecer. Tomei outro banho e quando retornei pra a parte inferior da casa, o Gabriel ainda estava na cozinha mas dessa vez, preparando outra coisa.

Me aproximei e como não senti o infeliz cheiro, entrei e fui pegando as comidas que já estavam prontas e passei para as travessas de vidro.

Enquanto as outras ainda estavam sendo feitas, fui arrumar a mesa na área de lazer da casa. Deixei ela posta e conferi se a churrasqueira já estava com a lenha.

- Minha irmã me ligou, elas já estão a caminho.- Gabriel falou ao aparecer na porta de vidro.

- Estou indo.- ele assentiu e retornou pra dentro.

Terminei de ajeitar tudo, me certifiquei de que não faltava nada e tirei o avental o pendurando onde fica. Fui até a sala onde o Gabriel estava olhando o celular e segundos depois ele se levantou.

- Chegaram.- veio até mim - Somos felizes, certo?- assenti- Finja bem.

- Eu finjo a anos e nunca descobriram.- murmurei.

Ele ignorou e foi até a porta a abrindo.

- Minha bebê, que saudades de você!- ouvi tia Linda adentrando e passando direto pelo Gabriel.

- Eu estava com mais saudades.- a abracei.

- Como sempre, você está muito linda.- segurou meu rosto me olhando bem e retornou a me abraçar.

- Boa tarde mãe, também é bom te ver.- Gabriel falou ainda da porta.

- É um sufoco pra você atender uma ligação minha e acha que vai ser o primeiro a quem vou falar?- se soltou do meu abraço e foi até ele.

- Mas eu já pedi desculpas.

- Sua sorte é que eu amo você.- o abraçou também.

A Dhio estava na porta, ainda em êxtase e só sabia rir da situação. Ela estava maior do que quando a vi pela última vez, era uma pirralha quando viajamos pra Santos para passarmos o ano novo juntos. Ela sorriu ao me ver e veio correndo me abraçar.

- Que saudades, irmãzinha.- falou em meio ao abraço.

- Eu senti muito mais, te garanto.- retribui.

Bella 🦋• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora