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Gabriel Barbosa

- Ótimo, então faça melhor.- me virei pra Pamela- Ligue para a imobiliária e mande tirar tudo do quarto, já que está dando trabalho sem ao menos usarmos.

- Se você mover um dedo pra mexer em qualquer coisa que seja desse quarto, eu peço o divórcio sem pensar duas vezes.- se exaltou.

- Peça então, já não estamos bem mesmo.- fiz o mesmo que ela - Se quer arranjar um motivo besta como esse para se livrar de mim, que faça o que achar melhor!

- Motivo besta?- percebi os olhos dela se encherem de lágrimas- Esse motivo é a nossa filha.

- O quarto dela!- aumentei o tom de voz- O quarto, foi a única coisa que nos restou!

- Que seja Gabriel, ainda continua sendo nossa filha.- apontou enquanto as lágrimas rolavam em seu rosto- Não quero me livrar de você, eu suporto esse inferno aqui por sua causa.

- Eu não te pedi pra que fizesse isso.- a encarei e percebi ela ficar sem reação- Você tá livre pra ir embora quando quiser, já me provou tudo que me prometeu.

- Como é?- abaixou o dedo e deu alguns passos pra trás até suas costas se chocarem com a porta.

- Você disse que está suportando esse inferno por minha causa e eu não quero ser culpado por nada, então estou te deixando livre pra ir.- fui frio - Peça o divórcio e a anulação do casamento na igreja, eu assino e não teremos problema em relação a nada. Vá viver sua vida e ser feliz como bem entender.

A Isabella parecia estar assustada, seus olhos cheios de lágrimas e suas mãos que antes estavam apontadas pra mim estão tremulas, era perceptível as ver agitadas de longe. Minutos depois me dei conta de que ela estava travada, no mesmo lugar sem ao menos se mexer um músculo, confesso que fiquei com medo e me assustei um pouco. 

Não sabia o que fazer, até que ela se moveu. Era como se tivesse perdido as forças das pernas já que deslisou pela porta até ficar agachada no chão. Fui me aproximar mas senti alguém me puxar.

- Licença.- ouvi a Pamela que estava atrás de mim se aproximar passando a mão em volta dela - Vamos pro quarto, vou te levar até lá.

- Não quer ajuda?- perguntei a ela.

- Desculpa Gabriel, mas primeiro você causa isso e depois quer ajudar?- me questionou.

Engoli em seco enquanto observava ela a retirar dali. Faz anos que não vejo a Isabella chorar, muito menos ficar do jeito que está, a última vez foi no enterro da nossa filha, ali ela estava tão destruída que a minha dor tinha se tornado pequena perto da dela. 

De qualquer forma, por mais que a situação não fosse propicia, sei que tomei a decisão certa. Ela precisa se livrar do inferno que diz viver comigo, isso tem que acontecer. Senti meu celular vibrar e ao ver a notificação vi que era minha mãe.

- Boa noite Gabriel, lembrou que tinha mãe?- falou assim que eu atendi a ligação.

- Desculpa mãe, as coisas aqui foram corridas. Aconteceu alguma coisa?

- É que eu liguei pra você e pra Isa mas nenhum dos dois atenderam, achei estranho.

- Chegamos de um jantar agora pouco e ela tá bem cansada, já foi dormir.- dei um desculpa.

- Tadinha, ela trabalha tanto que mal tem tempo pra descansar.- ouvi a voz da minha irmã no fundo, logo depois minha mãe falou - Vamos fazer o seguinte, a Dhiovanna já está de férias da faculdade. Avisa pra a Isa pra ela organizar as coisas do trabalho que vamos chegar na semana que vem pra ficar com ela.

- O que?- perguntei espantado.

- É isso ai mesmo, já imaginou como deve ser pra a sua esposa ter que te aturar todo dia?- falou no tom mais provocativo dela- Tenho certeza que ela vai amar a nossa chegada, então a avise pra tirar umas férias antecipada.

- Mãe, a Isabella acabou de pegar um caso muito importante, duvido muito que ela vá querer parar agora.

- De qualquer forma a avise, sei que ela fará o possível pra ficar conosco.- ouvi minha irmã a chamar no fundo- Tenho que ir, fale para minha bebê que amanhã ligo pra ver como ela está. E você tenha juízo, beijos filho, fica com Deus.

Sem ao menos me esperar responder ela desligou o telefone na minha cara. 

Minha mãe ama a Isabella e a Isabella ama minha mãe, na verdade, ela a vê como uma segunda mãe já que a dela mora em Portugal junto com toda a família. Minha mãe percebe que ela sente falta disso, por isso faz tanta questão de estar com ela.

{...}

Desci as escadas e vi a Isabella sentada com a mesa posta, cumprimentei Pedro que é a pessoa que trabalha comigo me ajudando aqui em casa e fui até a mesa sentando lá.

- Bom dia.- falei pegando uma xicara e uma das cozinheiras me serviu.

- Temos um jantar na empresa hoje as dezenove horas, vou direto do escritório pra lá.- disse ainda sem olhar pra mim.

- Tenho treino até tarde hoje não sei se volto pra casa, o último jogo da temporada é amanhã.- expliquei.

- Pouco me importa, esteja no local e no horário marcado.- ela poupou as palavras comigo, tornou a prestar atenção no celular, coisa que nunca fez quando está tomando café - Vou solicitar os papéis do divórcio e os papeis da anulação na igreja ainda hoje, o prazo é de três dias.

- Vamos ter que esperar um pouco.- tentei manter contato visual com ela.

- Você fez aquele showzinho todo pra agora dizer isso?- me olhou- Esteja pronto com seus advogados pra assinar os papéis.

- Minha mãe tá preocupada, ela disse que vai vir aqui na semana que vem e quer passar as férias com você.

- Dê um jeito de explicar isso pra ela.- se levantou.

- Isabella, por favor.- a impedi - Você sabe como minha mãe é, vamos esperar ela vir e eu dou um jeito de fazer ela ir antes do fim das férias.

- Já disse que não.- deu de ombros e me levantei indo atrás dela segurando seu braço- Me solta!

- Me escuta.- a virei pra mim- Não mando desfazerem o quarto, deixo do jeito que tá até resolvermos isso.

- Pra mim já está resolvido! Preciso repetir quantas vezes pra você entender?- se soltou de mim- Destrua o quarto, desabe ele se você quiser.- se afastou- Já que você não quer falar com sua mãe, eu mesma falo.

Ela deu de ombros e foi, pegou a bolsa que Pamela tinha preparado e saiu de casa.

- Se me permite dizer, senhor Gabriel.- Pamela falou se aproximando- A Isa não dormiu a noite toda, só soube chorar e mais cedo as meninas tiveram que levar uma bacia de gelo pra diminuir os olhos inchados. Ontem o senhor a encurralou no único lugar que ela se sente bem nessa casa. Deixe ela em paz, nem que seja só por hoje.

Limpei a garganta sem conseguir falar nada, a observei pedir licença e sair.

- Pedro.- o chamei e ele se aproximou- Sabe me dizer se isso é verdade?

- Eu realmente vi as meninas subindo com bacia de gelo e outros produtos mais cedo.- falou.

Que droga, deveria ter sido menos arrogante com ela.

- Compre tulipas brancas e peçam pra colocar no quarto da Isabella.- estendi a mão e ele me entregou a chave do carro- Não volto pra casa hoje, dou a resposta se chego amanhã.

- Não acha que agora deveria ser o momento de ficar e tentar conversar com a senhorita Isabella?

- A Pamela conhece ela melhor que eu.- o olhei- Se me pediu pra deixar ela em paz, assim vou fazer.

Bella 🦋• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora