02°🦋

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Isabella Barbosa

O Gabriel conseguia ser tão patético e arrogante que me dava raiva, até mesmo o andar e o respirar dele me parecia ser provocativo. Ele não liga nem se importa com o nosso casamento mas não suporta que outra pessoa se aproxime de mim, ele não faz questão de me acompanhar mas quando outro faz ele se estressa e me agarra como se eu o pertencesse.

E eu sei que o pertenço, até porque, jurei perante a Deus e aos pais dele de que estaria até na  hora da morte com ele. Mas o fato de dividirmos o mesmo sobrenome mas não suportarmos dividir a mesma cama, me intriga.

Observei ele me puxar e entrelaçar nossos dedos, encarei nossas mãos e o ato tão inesperado dele. Não sou acostumada com isso, antes era, mas hoje não é nada igual comparado a o que um dia fomos. Ele segura minha cintura justamente pra não ter que tocar tanto em mim, diz que segurar justo a mão onde está a minha aliança parece soar irônico pra ele.

No fundo de toda intriga e desavença nossa, eu só queria que pudéssemos ser nós novamente. Sinto falta do toque quente e dos braços aconchegantes dele, da forma como ele me olhava e me desejava. Sinto falta de tudo que um dia fez com que eu me apaixonasse por ele.

- Conta trinta minutos e finge que não está se sentindo bem.- falou e me dei conta de que já estava encarando nossas mãos a muito tempo.

- O que?- o olhei.

- Você disse que quer ir embora logo.- me encarou - Então faça o que eu pedi.

Não tive nenhuma reação, meus pensamentos ainda estavam presos no passado. Concordei, segurei firme a mão dele a ajustando na minha, forcei um sorriso pra não parecer estressada ou desesperada e o puxei pra entrar junto comigo.

Nada disso se compara a quando nos conhecemos, o Gabriel era um fofo comigo, diziam que a forma como ele me tratava era diferente de todas as outras pessoas. Isso me fazia amar tudo nele, dos grandes aos pequenos detalhes.

Esperei ele por anos, até com que o contrato acabasse e só assim, com ele aqui no Brasil e eu lá em Portugal, namoramos por dois anos. Depois de um tempo viver longe um do outro, cada um em sua casa era insuportável e nos amávamos tanto que noivamos e nos casamos. Foi o casamento mais lindo e cheio de amor que muitas pessoas puderam assistir.

Com três anos de casamento e depois de muitas tentativas nós engravidamos, era uma menina, o Gabriel estava tão encantado que até o pisar dele mudou. Estava tudo pronto, o nosso mundo era lilás, tudo nosso era pra nossa bebê...até que no sétimo mês eu tive um aborto espontâneo e perdi nossa filha.

Desde então nossa vida se tornou esse caos, ao invés de nos protegermos e ficarmos do lado um do outro, nós nos afastamos. Ele encontrou na empresa e no futebol o conforto e eu no meu trabalho e na empresa. Assim a gente foi se virando.

Esperei justo trinta minutos no relógio, fingi sussurrar no ouvido do Gabriel e ele pegou o paletó colocando sobre meus ombros me cobrindo.

- Peço perdão mas teremos que ir, minha esposa não está se sentindo muito bem.- ele falou ao pegar a minha bolsa.

- Não se preocupe, outro dia podemos marcar e terminar nosso jantar.- a esposa de um dos acionistas falou se levantando.

- Isso, leve ela pra casa, cuide dela.- um deles falou nos cumprimentando. 

Ele fingiu me ajudar a levantar e saímos do restaurante, chegamos no estacionamento e ele ainda estava com as mãos nos meus ombros e segurando minha bolsa. Esperei pararmos na vaga dos nossos caros, ficamos em frente e ainda assim ele não tirava as mãos de mim.

- Acho melhor irmos logo.- me afastei e iria retirar o paletó.

- Vai com ele, tá frio.- me estendeu a bolsa - Toma, chego lá depois.

Concordei pegando minha bolsa e entrando no carro vendo ele fazer o mesmo. Era de se esperar que ele não iria pra casa, querendo ou não ainda tá cedo e eu já entendi que ele só volta quando eu estou dormindo. 

Posso até pagar com minha língua mas tenho certeza e coloco minha mão no fogo me certificando de que ele não me traí. O Gabriel é extremamente cauteloso e nosso casamento pode estar como for, ele não cometeria uma traição, porque um dia ele prometeu aos meus pais que seria leal a mim e pelo menos nisso ele cumpre.

Cheguei em casa, entreguei minhas coisas pra Pamela, a menina que trabalha e me ajuda nas coisas da casa e pedi pra que arrumasse minhas coisas para que eu fosse deitar.

-  Quando o Gabriel chegar me avisa, por favor.- falei antes dela sair.

- Isa, eu acho que ele não vai chegar por hoje, ouvi ele pedi pra Pedro o buscar em algum lugar.

- Você tem certeza disso?- perguntei.

- Bom, certeza eu não posso te dar porque ele não comentou nada comigo. Mas foi o que eu ouvi, talvez eu não duvidaria dele, pareceu estressado na ligação.- disse servindo o whisky com algumas pedras de gelo pra mim.

- Então estarei esperando ele acordada.- dei um gole do copo.

- Tem certeza disso? A senhora vai se cansar.- a Pamela trabalha pra mim desde que me casei, além de ser uma pessoa surreal, eu gostava da sinceridade dela- De qualquer forma, se estiver acordada ou não eu vou estar aqui. 

- Obrigada Pam.-sorri e ela subiu em direção ao meu quarto.

Temos cada um o seu próprio quarto, quando disse que não suportamos sequer dividir a mesma cama eu estava sendo sincera. Mas ainda assim o quarto dele é em frente ao meu, e pasmem, nunca sequer nos esbarramos pelos corredores.

Dei um último gole no meu copo o esvaziando, subi as escadas mas tomei o rumo oposto do meu quarto. Segui o corredor mais curto e parei na porta do quarto que ainda seguia com uma borboleta pendurada, nunca tive coragem de tirar e nem deixei com que tirassem, abri a porta e o cheirinho de bebê ainda tomava conta de tudo.

Eu peço sempre pra que limpem bem o quarto e deixei o cheirinho que seria dela aqui e desde então, esse quartinho tinha se tornado meu aconchego.

- Isa, tá ai?- ouvi a voz de Pamela na porta.

Enxuguei as lágrimas que caiam, respirei fundo e deliguei a luz do abajur.

- Tive que vir pegar uma coisa aqui.- falei mas ao sair e me deparei com ela e o Gabriel.

- Veio pegar o quê no quarto da minha filha?- ele disse ríspido. Ao contrário de mim, o Gabriel prefere passar longe do quarto.

- Você fala como se o filha fosse só sua.- fechei a porta atrás de mim- Meu banho está pronto?- perguntei a Pamela.

- Está sim.- me entrou o roupão que provavelmente teria acabado de pegar no armário.

- Pamela, traga a chave do quarto, tranque e leve pro meu quarto.- Gabriel falou ainda olhando pra mim.

- Você ficou louco? Trancar o quarto?- o encarei.

- Ninguém usa, não tem necessidade de ficar aberto pegando poeira.

- Se esse realmente for o problema, não se preocupe, eles limpam aqui todos os dias.

- Ótimo, então faça melhor.- se virou pra Pamela- Ligue para a imobiliária e mande tirar tudo do quarto, já que está dando tanto trabalho sem ao menos usarmos.

Bella 🦋• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora