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Gabriel Barbosa

- Como foi a viagem?- Isabella perguntou ao servir o feijão tropeiro.

- Bem tranquila, chegamos mais rápido do que o esperado.- minha mãe respondeu - Ah, e Valdemir mandou um beijo e um abraço pra você, mandou dizer que estava com saudades e pediu desculpas por não ter conseguindo vir.

- Não vou perdoar mas vou aceitar o beijo e o abraço.- rimos.

- Mas e vocês dois, como estão as coisas por aqui?

Imediatamente nossos olhos se cruzaram e permanecemos olhando fixamente um pro outro. Que o show de mentiras comece.

- Tudo tranquilo, mãe. Estamos bem.- tornou a olhar pra ela.

- Que ótimo, gosto de vocês assim.- sorriu - Como uma família linda que eu sempre admirei.

- Não é pra tanto, tia.- Isabella falou.

- Ah te garanto que é.- minha irmã disse rindo - Sempre que alguém vai lá em casa ela fala de vocês dois, do quanto ela se orgulha do filho e na nora.

- Vocês sabem que eu admiro e acho lindo o amor que vocês tem um pelo outro. Não é segredo pra ninguém.

As vezes eu sinto pena da minha mãe, da forma como ela pensa sobre a gente e de como ela fala sobre nós. Fico constrangido em imaginar como vai ser as coisas quando nos divorciamos, ela ama demais a Isabella.

- Obrigada tia, por isso e por muito mais eu amo a senhora.- falou ao se sentar.

Terminei de cortar a carne e após fatiar tudo servi na mesa, me sentei junto com elas ao lado da Isabella. Servi o vinagrete para minha irmã que só estava esperando por esse momento e coloquei no prato da Isabella o que ela normalmente gostava de comer.

- Quer ajuda?- perguntei a ela enquanto a via tentar abrir o vinho.

- Não achei o saca rolhas elétrico.- disse ao me entregar.

- Eu dou um jeito.- me levantei entrando pra cozinha.

Fui até os armários e tirei o saca rolhas manual, com pouco esforço consegui abrir e aproveitei pra já deixar o outro também aberto. Antes de voltar pra área de lazer, enquanto estava próximo a porta consegui escutar a conversa delas.

- Que lindo e generoso, que orgulho do meu filho.- minha mãe falou.

- O Gabriel tem mudado muito mais do que tínhamos imaginado.- foi a vez da minha irmã- É tão bom ver vocês assim.

- Ele nunca muda, por isso amo tanto nossa família.

Ouvir isso da boca da Isabella consegue ser estranho, mas é ainda mais estranho imaginar que algo que soou tão generoso seja mentira. Balancei a cabeça tentando esquecer os pensamentos e tornei a voltar pra onde estávamos.

- Nossa amor, como conseguiu abrir?- ela falou ao pegar da minha mão.

- Achei o antigo no armário.- sorri.

{...}

Terminamos de comer, minha mãe e minha irmã foram descansar um pouco nos quartos enquanto eu e a Isabella estávamos terminado de limpar as coisas.

- Conseguimos fingir bem.- ela falou enquanto colocava a louça na máquina.

- Fazemos isso a anos, não é?- ironizei e ela riu sarcástica.

- Adoro o seu jeito ácido de jogar minhas próprias palavras contra mim.

- É só mais uma coisa que eu aprendi com o tempo.- me virei de costas pra ela e fui limpar o balcão - Ah, e se não for pedir muito, não me chame de amor. É estranho.

- Como quer que eu te chame então?

- De Gabriel, Gabi, menos apelidos fofos ou românticos.

- Nunca te chamei assim perto delas, elas vão estranhar.

- Que seja, contornamos essa situação.- falei e após isso ela não falou mais nada.

Ficou um silêncio absurdo na cozinha, ainda bem que eu me acostumei com isso. Terminei o que tinha que fazer e quando estava prestes a sair, o barulho de panelas caindo no chão me assustou e quando me virei a Isabella estava agachada e com as mãos na cabeça.

- Isabella, o que foi?- me agachei ao lado dela- Me fala o que foi!

- Minha cabeça, não para de doer.- resmungou de dor, suas mãos estavam trêmulas e ela estava agitada, chacoalhava a cabeça com muita força - Tá doendo muito.

- Consegue levantar?- ela negou.

Respirei fundo e a peguei no colo correndo pra sala. Sentei ela no sofá e a mesma continuava do mesmo jeito.

- Vamos pro médico, espera só um segundo que eu vou pegar nossos documentos e chamar minha mãe.- me levantei mas antes que eu ao menos desse um passo, ela segurou minha mão com força me impedindo de ir.

- Não vai.- continuou chacoalhando a cabeça.

- Isabella, eu preciso chamar ajuda pra irmos logo.- a expliquei e o que antes estava ruim, agora ficou pior.

- Minha cabeça...- a voz falhava, o rosto estava avermelhado e o corpo trêmulo - Tá doendo muito, Gabriel.

- Porra!- peguei as chaves em cima da mesa e a peguei no colo novamente - Segura firme em mim, tá?

Corri pro carro, a coloquei sentada no banco de passageiro e dei partida em alta velocidade pro hospital. No caminho eu liguei pra minha mãe e pedi para que ela viesses e trouxesse os nossos documentos.

Eu estou nervoso, óbvio que sim. Mas preciso tentar manter a pouca calma que eu tenho, não posso a desesperar ainda mais. Assim que parei na porta, saltei do carro e a tirei de lá. Alguns enfermeiros trouxeram a maca, coloquei ela em cima e eles correram pra dentro da sala de emergência. Minutos depois minha mãe e minha irmã entraram correndo e vieram até mim.

- Vem cá, meu amor.- minha mãe falou ao me abraçar firme.

- Ela tava com muita dor, mãe.- agarrei em seu abraço tentando achar conforto de alguma forma.

Bella 🦋• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora