Leiam as notas finais!
Boa leitura!
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Ela estava grávida. Ela estava esperando um bebê na barriga, havia um ser nascendo em seu útero, dentro de si. Soraya segurava o exame médico nas mãos que tremiam, depois de jogar o teste no lixo do banheiro do Senado ela decidiu constar a informação que mudaria o rumo.
A loira estava em seu carro, não conseguia sair dali e quase nem respirava, seu peito disparava com aquelas palavras: “positivo para gravidez de Soraya Vieira Thronicke.”
Ela riu, riu ao ver seu nome mal usado ali e depois chorou ao ler novamente a frase. Gritou, bateu no volante violentamente como se precisasse sentir algo, qualquer coisa.
Se encarou no reflexo do retrovisor, os olhos sem emoções, seu peito estava vazio nem sequer escapava ar do corpo. Ela queria chorar compulsivamente por horas, mas tudo o que fez após longos minutos em silêncio, foi dirigir pelas ruas movimentadas de Brasília até o anoitecer.
Aquele dia estava sendo uma confusão perturbadora. Assim que chegou na casa que dividia com o seu marido, o pai de seu filho, correu para o banheiro e debruçou-se contra a privada, pondo todo o conteúdo ingerido goela a baixo.
Sua barriga dava espasmos doloridos, sua garganta arranhava a cada ânsia posta fora. Se não soubesse o que a fazia estar assim, acharia que estava prestes a morrer. Suas mãos seguravam firmemente nos azulejos da parede, o corpo ficava fraco a cada segundo, o que o fez cair em posição fetal no chão.
Soraya encarava o teto com um cansaço evidente, não sabia como se sentir diante aquilo, parecia estar muito mais do que impotente estava derrotada e se odiava por admitir isso. Como olharia nos olhos do marido e diria estar grávida, porém não haveria nem um mísero sorriso em seu rosto, ele talvez notaria e a desprezaria por sentir tais sentimentos em relação ao seu futuro filho. E sua mãe, como a enxergaria após tanto tempo lhe dar o neto que sempre pedira? E ainda sim sentir que foi um erro.
Simone.
Mesmo assim ainda pensava em Simone, mesmo após tantos anos, a morena ainda pesava em seus pensamentos e futuro. Lembrou de quando rodaram a noite criando planos para a vida:
“Em uma terça, vou chegar na nossa casa, decorada por você, encontrar nosso cachorro me esperando em uníssono com uma mini Soraya. Vou beijar o topo da cabeça dos dois e vou perguntar: onde está a mamãe? Depois vou até seu escritório e te beijar até cansar.”
Era para ser ela, Simone e duas crianças. Mas, não, Simone estava casada e com duas filhas lindas, estava feliz e seguindo sua vida. Soraya parecia sempre estar faltando algo, uma infelicidade constante, uma busca por algo que não encontrava.
E agora, com um filho na barriga. Soava cruel, porém aquele filho estragaria o começo de sua carreira, aquele bebê não vinha em hora certa quando pensava em separar do marido. Soraya sentia-se cada vez mais pecadora, desejava que aquilo não fosse real, que aquela criança não estivesse dentro de si.
Oras, uma criança tem que vir quando convém, quando há dois pais para lhe dar amor e não apenas um e o outro sentir que aquilo é um erro. Soraya não poderia ser a mãe amargurada, mas não queria aquele filho, não podia!
Gemeu pela dor em sua barriga, uma vontade de vomitar surgiu e quando achou que não havia mais nada, vomitou água, a barriga contraia-se em uma dor absurda, certamente não era normal.
— Carlos! — Gritou, sentiu algo molhado em sua perna, sua mão surgiu com o puro sangue.
Como se Deus a punisse e agora estivesse rindo, Soraya gritou e gritou desesperada. Era irônico, não queria a criança naquele momento, mas perder no mesmo dia que descobria a gravidez, parecia crueldade demais.
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Destino: Simone & Soraya
Romance"O destino é entendido como uma sucessão inevitável de acontecimentos que estejam relacionados a uma ordem cósmica. Por isso, de acordo com essa ideia, ele é o responsável por conduzir a vida das pessoas de acordo com uma ordem natural, da qual nada...