Melissa está em silêncio, e não tira os olhos da janela. O taxista puxa alguns assuntos e ela responde naturalmente, mas a atenção está na praia lá fora.
E por algum motivo, a minha está nela.
É verão em Paradise Sea e o sol se põe lá pelas 20:30, e como ainda são quase seis, há famílias caminhando na areia, cachorros grandes e peludos pegando brinquedos, um grupo de adolescentes jogando vôlei... é a energia que essa cidade emana.
— Vim a praia duas vezes no tempo que eu estava aqui. Mas meu lugar no ônibus me dava vista premium para essa visão — Melissa diz em português, comprovando que eu estou certa sobre o motivo do seu silencio.
— Motorista, teria como parar aqui por uns quinze minutos? Eu te pago se precisar — As palavras escapam voltando para o inglês enquanto destravo meus cintos e os olhos verdes se arregalam enquanto ela me olha.
— Vai atrasar para chegarmos no aeroporto, Adeline.
— Que nada. Pelo visto o transito tá muito tranquilo. E estamos saindo com algumas horas de antecedência, vai dar certo. — O taxista abre um sorriso leve e estaciona em seguida na única vaga que meus olhos conseguem encontrar. Era para ser nossa.
— Vamos pra praia? — Destravo seu cinto e saio pela porta, dando a volta e abrindo a dela.
— Se você quiser vir, temos quinze minutos — Estendo a mão e ela segura como auxilio para descer. — Eu também não vinha muito a praia. É engraçado quando só vemos o valor de algo, quando está próximo de se despedir. É tipo quando eu assisto a uma série muito rápido, e quando chega no ultimo episódio sinto toda a carga acumulada enquanto via e começo a chorar porque chegou ao fim.
— Sim. Só nos damos conta quando temos a noção que nunca mais vamos ver novamente — E seus olhos admiravam o mar.
Tiramos os sapatos e o taxista também saiu do carro, com sua garrafinha de água nas mãos. Caminho ao lado da Melissa até onde as ondas sobem na areia e a água passava pelos nossos pés enquanto ela fecha os olhos.
— Eu odeio despedidas.
— Eu também não gosto nadinha delas — Cruzo os braços em frente ao corpo e assisto ela se entreter com a água vindo nos seus pés. — Não vai voltar mesmo?
— Acho que isso tá sendo um sinal para eu ficar com a minha avó. Ela quem insistiu que eu viesse, conseguisse mais dinheiro, que vendêssemos a casa em Belo Horizonte e para ela se mudar pro interior... — Fica por uns segundos em silêncio e passa as mãos no cabelo, soltando um sorrisinho ao encontrar um cachorro correndo atras de uma criança, se divertindo muito. — Quero dar um jeito de me estabelecer lá, nem que precise fazer trabalhos picados como antes.
— A minha filha! Chamem uma ambulância!Minha filha se machucou! — Um homem grita perto de nós, saindo da água desesperado com uma garotinha no colo, ela parece ferida.
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O Café Pode Ser a Resposta
RomanceAdeline Pinheiro é uma autora mineira prestigiada nacional como também internacionalmente e precisava, de alguma maneira, estar namorando no casamento da sua irmã. O problema estava bem ali, encontrar alguém que até o momento não parecia existir. O...