16 • Fim daquele medo bobo?

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O carro finalmente funciona depois de repor a água e tampar o radiador

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O carro finalmente funciona depois de repor a água e tampar o radiador. Então, voltamos a subir a serra enquanto os nove filhotes de vira latinhas choram no meu colo.

— Sua mãe vai enlouquecer — Addie solta uma risada alta, enquanto percebo a estrada de terra se tornar um conjunto de bloquetes diferentes pintados. — Uai, por que esses trem no chão tão parecendo um quebra-cabeças mal encaixado?

— Esses tem história, viu? — Começa a dizer — Antes, consegue alcançar minha bolsa pra mim?

Confimo com a cabeça, logo pegando a bolsa de adulta da Addie, abrindo e estendendo na sua direção. Imagino que ela vá pegar os óculos escuros e sorrio quando meu pensamento vira realidade.

Vou me visualizar ganhando na mega sena também. Quem sabe cola.

Addie ajeita o acessório em seu rosto e eu a assisto dirigir quase sem piscar por alguns instantes.

Essa Adeline não parece a autora com sorriso treinado para noites de autógrafo, que me colocou tremendo de medo enquanto me perseguia de salto alto com uma postura sem erros.

Essa Adeline parece relaxada, aberta a tudo que o mundo mandar. Tem um sorriso espontâneo, alegre.

Não parece uma namorada de mentirinha.

— Não quer ouvir?

— O quê? — Balanço a cabeça para espantar esses pensamentos e os olhos castanhos enormes se semicerram me olhando.

— Sobre os bloquetes na estrada, Mel.

— Ah... Eles tem historia, então?

— Isso! Não que seja lá algo surpreendente, porque apenas vieram das ruas da cidade para a Serra para melhorar a locomoção daqui e colocarem asfalto lá, ma-

— Mas... — Falo no lugar dela, arrancando um sorriso do seu rosto.

— Essas pinturas, cada bloquete, imagina de onde vieram? Tem coisa ai da copa do mundo, restos de amarelinha das crianças, quantas pessoas não pisaram nisso tudo? Ou quantos joelhos se machucaram ali? As cicatrizes ainda existem?

Ela diz com tamanha empolgação que até mesmo os filhotes se calam a observando.

— Você é mesmo uma escritora — Balanço a cabeça, olhando outra vez para o chão — A primeira vez que eu andei de bicicleta, estava com meu pai, e caí justamente numa rua de bloquetes.

— Tá vendo? Por isso digo que eles tem história.

— Você é uma pessoa...

— Maluca?

— Eu não diria bem isso, já temos esse título há um tempo. — Gesticulo com as mãos enquanto muros baixos aparecem, em meio a cercas e portões de madeira com plaquinhas no topo.

O Café Pode Ser a RespostaOnde histórias criam vida. Descubra agora