Acaso

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— Com licença! — Pediu Build frustrado enquanto esbarrava numa multidão de pessoas bêbadas e barulhentas — Argh!

Tudo parecia passar em câmera lenta diante de seus olhos enquanto tentava sair do centro de todas aquelas pessoas. A escadaria que em sua cabeça levaria a um bom lugar para fugir ficava no canto direito da boate e ela nunca pareceu tão distante. Os degraus pareceram se multiplicar e dificultar sua subida. Seu desespero era eminente em seu rosto e a cada degrau pisado era como se ele fosse errar o passo e cair sabe-se lá quantos lances de escada. De qualquer forma, ele não poderia continuar, ou poderia?

— Senhor! Você não pode entrar aqui!

Build cambaleou para dentro do camarote e seus olhos correram depressa pela sala. Ele estava procurando algo ou alguém que pudesse livra-lo daquela situação, mas ele tinha que pensar depressa. As luzes piscavam em várias cores e em frequências diferentes. As pessoas dançavam umas com as outras e o cheiro de cigarro e álcool exalava no ar, causando-lhe náuseas. Ele precisava fazer alguma coisa antes que todos aqueles seguranças o tirassem dali da pior forma possível, até que ele o viu.

Um homem bem vestido estava sentado na mesa do barzinho enquanto contornava a boca do copo com a ponta dos dedos. Build não pensou duas vezes antes de correr até ele e o beijar para que Jake não tentasse se aproximar e explicar suas desculpas inúteis à aquela hora.

O desespero o tomou e suas mãos trêmulas e gélidas tocaram o rosto macio do rapaz sentado ali e o fizeram virar-se para si. No começo Vegas não teve reação alguma perante a situação, mas quando se deu conta do que estava acontecendo levantou-se depressa e afastou o pequeno de si.

Seu olhar era assustado, já o do maior era repleto de dúvidas. Havia uma interrogação pairando sob sua cabeça enquanto encarava o garoto que agora segurava em seu braço com uma força absurda.

— Desculpe-nos pela irresponsabilidade. Eu vou acompanhar o garoto até a saída!

— Build!

Jake entrou desesperadamente até a metade do camarote, chamando a atenção de Vegas e Build para si, mas esse sim foi impedido pelos seguranças, que não o permitiram chegar mais perto, parando então a apenas alguns passos da porta.

Build voltou a encarar aquele homem a sua frente e seus olhos gritaram por ajuda. Vegas o mirou dos pés a cabeça, e então voltou a encarar Build, que estava assustado por tudo aquilo que estava acontecendo e pelo que acabara de fazer.

As mãos de Vegas envolveram o rosto do garoto e o puxaram para um beijo com gosto de whisky.


Minutos antes

— Build...? O que aconteceu...?

A voz aveludada e preocupada de Malai ecoou em sua mente enquanto seus olhos encaravam a tela do celular, que acabara de escurecer. Seus olhos eram profundos e brilhantes, eles estavam transbordando. Seu mundo pareceu cair com aquele vídeo.

No fundo Build sabia que seus sentimentos eram unilaterais, mas ele queria fingir que não, afinal, Jake era sua pessoa, apenas a sua... Ele aceitaria qualquer coisa para mantê-lo em sua vida, mas desta vez ele estava determinado a fazer diferente, mesmo que seu coração estivesse doendo e gritando para voltar. Sua razão falou mais alto desta vez.

— Build...?

A lágrima fria e salgada escorreu pelo seu rosto e o ar lhe faltou, ele estava quebrado mais uma vez, como em muitas outras vezes que decidiu relevar. Ele precisava de alguém que o ajudasse a diminuir a dor, ele precisaria tirar a dor de seu peito, ele precisaria se libertar.

— Pode me levar até eles...? Eu preciso tirar isso de mim... — Desabafou chorando.

Após ver o vídeo no celular de Build, Malai o pôs dentro do carro e o levou até quem ele desejava ver. Seu choro era silencioso e os soluços baixos eram ainda mais baixos, pois estavam sendo abafados por suas mãos, que escondiam seu rosto molhado. Ele tentava controlar a respiração, mas o choro vinha ainda mais forte, até o carro parar em frente a boate.

Build encontrou coragem em um copo de whisky assim que pôs seus pés dentro do lugar. Ele queria confronta-lo e perguntar o porquê, mas a coragem não fora o suficiente e ao chegar à mesa, Build vacilou. A voz de Malai fora o motivo para Jake parar o beijo e encarar o garoto que o olhava tristonho.

— Build... — Disse boquiaberto.

Malai via o jeito que o amigo estava e só conseguia sentir uma raiva incontrolável crescer dentro de si. Jake não era uma boa companhia para Build. Build merecia alguém que o quisesse sempre e não alguém que mente e o engana, alguém que o esconde do mundo.

Os olhos do pequeno eram tristes e quando Jake levantou-se da cadeira e caminhou em sua direção em passos largos e rápidos, Build correu por entre as pessoas. Ele não queria mais vê-lo, não queria ouvi-lo contar mais mentiras. Ele só queria fugir dali.

— Build! Biu! — Gritou — Droga!

Jake o chamava, mas era inútil, a música alta impedia que Build o ouvisse, embora ele também não quisesse ouvi-lo.

— Com licença! Argh!

Ele corria para tentar fugir de seu namorado e seus passos se atrapalhavam em seus próprios pés. Quanto mais ele corria, mais perto Jake parecia ficar de si, então ele subiu correndo um lance de escadas e passou depressa pelos seguranças que barravam a entrada.

— Build!

[...] 

A saliva de Vegas tinha um forte gosto de whisky, era muito mais forte que o whisky tomado por Build mais cedo, isso queimou ao descer em sua garganta e o fez apertar os olhos durante o beijo, mas logo relaxou.

O beijo seguia o ritmo da música; calmo, porém intenso, profundo. Ambos se deixaram levar; um pela raiva e tristeza que estava sentindo por ter sido enganado, também por estar sob efeito de apenas um pouco de whisky, e o outro apenas se deixou levar pelo beijo. Era bom, ainda que calmo.

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Continua

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