Capítulo 1

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Eu nasci dia dezoito de fevereiro do ano de 1973, em Chicago Illinois mas não me lembro da minha vida lá. Quando eu estava prestes a fazer seis meses meus pais, Jane e Patrick, decidiram ir para Pasadena na Califórnia onde eu passei toda a minha infância e adolescência.

Eu me lembro de passar as tardes de verão brincando na rua com as irmãs Mosby. Mas o que eu mais gostava era chegar em casa e saber que papai alugou um filme para nós assistirmos. Eu sempre amei filmes.

Um dia acompanhei papai em seu trabalho, naquela época eu não entendia muito bem o que ele fazia mas gostava de sentar nos bancos de couro dos carros usados que ele vendia. Lembro-me de forma nítida como meu pai me observava criar histórias sentada no banco do motorista de um dos carros. De longe eu escutava-o falar com Buck, um de seus funcionários.

- Harper nasceu para ser uma estrela, Buck. - Consigo lembrar de seu sorriso caloroso, só meu pai tinha aquele sorriso.

Eu sempre soube que eu seria uma estrela, principalmente no início dos anos oitenta quando a minha madrinha, tia Mary, disse que eu ganharia um Oscar se investisse no meu talento e bom, como vocês sabem muito bem, ela estava certa.

Tia Mary era minha segunda mãe, alguém que cuidava de mim mesmo estando longe, ela também cuidava da minha mãe. Mamãe e tia Mary sempre foram carne e unha, uma ligada a outra de forma diferente das demais. Essa é uma das minhas primeiras memórias.

Eu tinha quatro anos de idade, era natal, lembro que ganhei uma linda boneca do papai e da mamãe. Estava ansiosa com a chegada da tia Mary, como sempre ficava todo ano.

- A tia Mary já está chegando? - Perguntei olhando pela janela da sala.

- Em breve. O papai foi busca-lá. - Mamãe me acalmava enquanto aproximava-se com um tabuleiro de cookies quentinhos - Enquanto isso, assei eles só para você.

Com metade de um cookie na boca, dei um salto ao ver minha madrinha entrando pela porta da frente com os braços bem abertos gritando meu nome.

- HarHar! - Ela gritou pegando-me no colo.

Tia Mary nunca carregava suas malas quando estava em Pasadena, papai fazia questão de carregar e acomoda-la no melhor quarto da casa.

- Tia Mary. - Disse abraçando seu pescoço, ela sempre cheirava bem.

- Como está a minha afilhadinha? - Lembro dela me beijar várias vezes no rosto.

- Estava completamente ansiosa para ver a madrinha. - Mamãe riu. Sua risada aquece meu coração até hoje. - Como você está, Ma?

- Estou bem melhor agora por estar com vocês, Jan. Estava morrendo de saudades.

Eu olhava para a mamãe e para a tia Mary e sonhava em um dia ter uma amizade tão arrebatadora como a delas.

- Mary, aquele negócio que você comprou está lá no carro. Quer que eu traga pra você? - Papai perguntou balançando as chaves do carro.

- Pode deixar que eu pego. - Fui deixada no chão - Fique aí com o papai e com a mamãe HarHar, a tia Mary vai buscar o seu presente.

Eu corri para os meus pais, abraçava uma perna da mamãe e a outra do papai. Com eles eu me sentia protegida, me sentia invencível.

Foram cinco minutos até a minha madrinha pegar o presente e voltar para casa, mas para mim durou uma eternidade.

Ao vê-la chegar com um patinete com um grande laço de presente em seu guidão, eu não pude controlar minha emoção. Eu pulava de alegria correndo até ela que sorria de orelha a orelha.

- Antes de te entregar, a tia Mary precisa falar um negócio com você princesa. - Quando percebi já estava sentada em seu colo no chão - Lembre-se que a tia Mary vai estar pra sempre do seu lado da mesma forma que eu sempre estive do lado da mamãe. Eu te prometi isso quando estava na barriga da sua mãe e vou repetir até o fim dos meus dias, você, Harper, vai ter sempre uma melhor amiga em mim. Nunca se esqueça disso.

E eu nunca esqueci.

Em 1980 eu descobri que eu poderia ser atriz quando tia Mary disse que me via ganhando um Oscar depois de mamãe falar que eu era ótima brincando de teatro.

Naquela primavera, mamãe estava grávida de Nancy e Audrey mas não sabia que viriam em dose dupla.

No dia do casamento da minha madrinha conheci Jolene, a irmã da minha mãe e seu filho, Brian. Mamãe sempre foi tranquila mas naquela tarde estava tensa, olhava fixamente para sua irmã. Mas logo Brian tomou minha atenção falando sobre baseball, ele era torcedor dos Cubs, me lembrava do papai falando sobre esse esporte.

Foi naquele dia em que eu oficialmente comecei a torcer para os White Sox, foi o início de uma paixão que perdura até hoje.

Meu pai é o meu herói até hoje, mas naquela época tudo o que ele fazia parecia mágico. Tudo o que ele torcia eu queria torcer igual. Foi a partir daquele final de semana que todos os jogos do White Sox, eu e meu pai sentávamos na frente do sofá, pegávamos um pote de pipoca feito pela mamãe e comíamos assistindo as entradas.

Mamãe, papai e tia Mary sempre me apoiaram nos meus sonhos. Foram eles que me levaram para o meu primeiro teste.

A Misteriosa Vida de Harper YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora