Capítulo 4

21 3 0
                                    

Eu me lembro exatamente do dia em que eu experimentei cocaína pela primeira vez. Já estávamos a dois meses da gravação do filme, eu estava exausta por causa das filmagens longas e com todos os eventos, formais e informais, que eu precisava ir.

Foi quando Joe chegou no meu apartamento balançando um pacotinho de pó branco.

- Bom dia minha linda. - Ele beijou minha bochecha - Trouxe um presentinho pra nós dois.

Se eu e o Joe estávamos namorando? Não. Mas estávamos juntos? Pode-se dizer que sim.

- O que é isso, Joe? - Perguntei sentando-me ao seu lado.

- Pózinho da felicidade. - Sorriu despejando o pó na mesinha de centro da minha sala, fez duas carreiras enquanto me olhava.

- Isso é cocaína? - Eu estava incrédula.

Nesses dois meses tinha usado muitas coisas, mas sem exagero, muitas vezes usava quando estava na cama com Joe.

- Exatamente. - Abraçou-me por cima dos ombros - Vamos linda, só uma carreirinha e já está ótimo. Eu vou primeiro e depois vai você.

Olhei para Joe inclinando-se e em de uma vez só inspirou a carreira inteira como se já tivesse feito isso outras vezes. Ele parecia tão bem, tão extasiado, tão animado.

- Uau! - Gritou colocando as mãos no rosto - É a melhor coisa que eu já cheirei na minha vida!

Sem que eu desse oportunidade para ele falar mais uma vez sobre como estava se sentindo incrível, eu inclinei-me e cheirei o pó encima da mesa.

Meu coração acelerou, minhas mãos começaram a tremer e eu não conseguia parar de sorrir. Pisquei devagar olhando para Joe que tirava sua camisa marrom, era assim todas as vezes, nós usávamos drogas e íamos transar.

Três meses depois, as filmagens tinham acabado mas eu e Joe continuávamos nos encontrando. A situação com as drogas estava saindo um pouco do meu controle. Um dia antes de ir para Pasadena, chamei-o para passar a noite lá em meu apartamento.

Joe estava alterado, já tinha usado algumas drogas antes de ir me encontrar, nunca tinha o visto daquela maneira, estava agressivo.

- Linda, eu trouxe um presente para nós dois. - Ele disse fechando a porta com força - Essa é da boa.

Eu não falei nada, não o respondi, apenas usei do pó que ele havia deixado na mesa. Eu não estava com vontade de transar naquele dia, Joe veio pra cima de mim mas eu o afastei.

- Joe, eu não quero hoje. - Disse afastando-o mais uma vez já que ele insistia em me tocar.

- Você quer sim, Harper. - Com toda força me jogou na parede - Nem ouse dizer que não.

- Eu não quero, Joe! - Gritei desesperada tentando soltar meus punhos que estavam presos por suas mãos.

- Cala a sua boca, sua vagabunda de merda! - Ele bateu em meu rosto.

Joe tinha me batido. Eu nunca senti tanta raiva na minha vida, nunca me senti tão impotente como estava me sentindo naquele momento.

- Joe, por favor. - Eu estava desesperada sentindo seus lábios em meu pescoço - Joe, não faz isso comigo.

- Cala a boca, Harper! - Ele me deu um tapa mais uma vez.

Nem minha mãe tinha me batido, não seria um homem que faria tal coisa duas vezes seguidas. Eu não sei de onde eu tirei forças, mas eu consegui soltar minha mão, peguei o jarro que decorava minha mesa e bati em sua cabeça.

"Merda." Era tudo o que eu pensava ao vê-lo no chão.

Arrastei-o para o lado de fora do meu apartamento, com toda a força que eu tinha. Suspirei vendo-o apagado, antes de fechar a porta dei um chute em sua costela, com certeza ia doer quando acordasse.

- Filho da puta. - Bati a porta.

Não me orgulho dessa fase da minha vida, dos meus dezenove anos até os meus vinte e um anos eu usei muitas coisas diferentes, escondida de todos.

A primeira vez que meu pai me questionou sobre as drogas foi em seu aniversário naquele mesmo ano. Eu estava dentro do meu quarto, cheirando a carreira que eu cheirava todos os dias depois do almoço para que eu pudesse aguentar todos os meus dias.

Eu não tinha problema com a família, tinha muitos amigos, não era desempregada e estava sendo cogitada para um novo filme. Eu era apenas uma menina que foi levada para esse péssimo caminho por um péssimo namorado. Infelizmente esse era só o início de uma longa caminhada.

Escutei alguém bater na porta, era papai chamando meu nome.

- Só um minuto! - Gritei limpando meu nariz. Pisquei algumas vezes para que quando entrasse não reparasse de cara que eu não estava sóbria - Pode entrar.

- Com licença. - Papai entrou e naquele mesmo instante me sentiu. Ele me sentia de uma forma que ninguém conseguia, era como se o meu coração fosse ligado ao dele - Harper, o que é aquilo?

Ou talvez fosse o pó que eu esqueci de limpar.

- Caiu do meu teto, ia te falar agora. - Joguei no chão, com dor no coração por ter sido tão caro - Como eu posso te ajudar, papi?

Ele não estava muito convencido.

- Ia te chamar para ir tomar um sorvete comigo, aceita?

- Claro que eu aceito. - Levantei-me da cama - Vamos, eu vou pedir um sorvete de morango, aposto que vai pedir um sorvete de chocolate.

- Exatamente, querida. - Beijou-me na cabeça - O bom que vamos poder conversar sobre sua vida em Los Angeles.

Minha vida em Los Angeles. Esse era um tópico que eu queria que fosse evitado. Nós caminhamos até a sorveteria no final de nossa rua, após pedirmos nossos sorvetes nos sentamos nas mesinhas do lado de fora com os nossos potinhos de isopor.

- Conte-me Harper, como está sendo a vida em Los Angeles? - Deu uma colherada em seu sorvete de chocolate - Como foi a filmagem?

- A filmagem foi tranquila, não precisei regravar muitas cenas. Joe também ajudou, nós terminávamos nossas cenas antes que todos. - Eu mexia a massa com a colher de plástico - E a vida em Los Angeles tem sido ótima, muitas festas, ótimas propostas de trabalho.

- Anda se alimentando direito? Está tão magrinha.

- Sim papai. - Não era mentira, mas do que adiantava alimentar-se bem mas cheirar cocaína todos os dias - Como estão os negócios?

- Você não quer saber princesinha. - Riu deixando dois tapinhas na minha mão - Quero que você saiba que não importa o que aconteça, conte com o papai e com a mamãe, nós nunca vamos te condenar.

- Nunca entendi o porque vocês não me julgam como os outros pais. - Olhei-o por cima da colher que estava dentro da minha boca.

- Porque os seus pais já passaram por muita coisa e julgamentos nunca foram feitos. - Deixou a colher dentro do pote vazio - Se eu fosse ligar para o que os outros falavam eu não teria me casado com sua mãe, eu não teria aberto a minha primeira mecânica e eu não teria me tornado seu pai.

- Mas você fez tudo isso pro bem e se eu fizesse algo muito errado?

- Eu já fiz muita coisa errada, Harpie. - Olhou-me - Mas não existe coisas sem solução.

Assenti com a cabeça enquanto dava a última colherada no sorvete. Papai sempre sabia o que falar, tinha medo de nunca ser boa o bastante para ele ou para a mamãe.

A Misteriosa Vida de Harper YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora