Capítulo 6

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Cinco minutos foi o tempo que Rafaella falou pra Gizelly que chegaria no hotel e em cinco minutos ela estava descendo do carro e vendo que Gizelly já estava na recepção a esperando. A raiva de Rafaella apenas aumentando ao vê-la se levantar a olhando com expressão de preocupada.

Como? Como uma mulher que ela tinha conhecido a tão pouco tempo estava mais preocupada com ela do que sua própria família? Como quem estava abrindo as portas e a acolhendo era Gizelly e não suas filhas? O que tinha feito de tão errado assim?

— Eu não fiz nada, Gizelly! Não fui eu que errei nessa merda de casamento! — Ela falou assim que entraram no quarto. — Porque elas não enxergam isso? Porque não conseguem ver que Allan me trata só como uma empregada! Eu passei ANOS sendo uma empregada pro meu marido! ANOS! E aparentemente pra minhas filhas agora também, porque o único momento que elas sorriram pra mim, foi quando eu tava jogando a mer-da da pan- que-ca! — A voz dela cortou, com o choro que estava preso saindo como uma explosão de algo que estava a muito tempo guardado.

Rafaella sentiu o tremor nas mãos. Um cansaço imediato a fez buscar por mais ar e tentar diminuir o choro, mas não conseguia. Foi quando sentiu as mãos de Gizelly segurarem as suas. Firmes e quentes, foram as sensações da pele dela sobre a sua.

— Posso te abraçar? — Escutou Gizelly sussurrar.

Assentiu, sem ter forças para negar. E no segundo seguinte se viu sendo acolhida por um calor diferente. O abraço de Gizelly era aconchegante, de uma forma que ela não conheceu antes e o carinho que as mãos dela começaram a fazer nas suas costas fez a tensão do seu corpo começar a se desfazer.

— Você merece mais que isso! — Gizelly novamente sussurrou.

— Eu mereço mais que isso! — Rafaella se viu repetindo.

— Muito mais! — Gizelly falou, um pouco mais firme. — E elas não merecem nem um pouco da pessoa maravilhosa que você é!

Rafaella deixou o rosto afundar no pescoço de Gizelly. Seu choro indo embora rapidamente, ela sentiu, pela primeira vez o cheiro de Gizelly. Claro que já havia sentido o perfume dela levemente hoje, mas não assim como estava agora, que era uma mistura de um forte aroma com o cheiro da pele dela.

Fazia tanto tempo que não tinha um contato humano assim. Muito mais tempo do que gostaria e apesar de desejar todas as noites, só agora Rafaella estava realmente vendo o quanto isso fazia falta, sentindo apenas esse mero contato a acalmar.

Antes que percebesse, moveu o nariz sobre a pele do pescoço dela, cheirando até encostar por trás da orelha dela. Sentiu quando o corpo de Gizelly arrepiou e escutou um suspiro perto do seu ouvido.

Automaticamente se afastou, sentindo o coração bater mais forte. Coçou a garganta. Não iria pedir desculpas, porque não estava arrependida. Mas, estava sim um pouco envergonhada de ter agido assim. Não tinha intimidade para isso.

— Você tem razão... eu não mereço isso e eu preciso me afastar! — Falou e a encarou, torcendo para que não estivesse ultrapassado algum limite. — Isso tá me fazendo mal!

Gizelly assentiu. — Elas já são adultas pelo que me falou, então não tem porque insistir em algo que elas não querem! E eu sei que é triste, mas você merece pessoas que te enxerguem, Rafaella! Elas não tão te enxergando...

A mais velha assentiu.

— Amanhã eu vou buscar minhas coisas de lá! Vou alugar um quarto aqui e fico até sexta só curtindo a cidade mesmo! Elas não vão saber onde eu tô e não vou voltar pra lá! Vou dar um tempo, não vou atender telefonema nem nada!

— E eu vou estar por aqui pra o que precisar! — Gizelly falou e segurou novamente suas mãos, alisando seus dedos com o polegar. — E minha oferta ainda está de pé! Não precisa alugar um quarto se não quiser, a cama é espaçosa! E por mais que tenha soado meio... —  Ela sorriu sem jeito. — Isso não é uma cantada... só... não sei, se fosse eu no seu lugar eu preferiria ter uma companhia pra conversar! — Ela coçou atrás do pescoço.

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