Capítulo 49

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Rafaella podia sentir suas mãos começarem a tremer. Já fazia um bom tempo que ela não tinha essa sensação, que não ficava nervosa assim. Ela sentou no sofá, tentando disfarçar um pouco e vendo Melissa puxar a cadeira para sentar de frente. Desejou o toque de Gizelly para se acalmar, mas queria ter essa conversa a sós com a filha.

Melissa também parecia muito nervosa, ela sentou e ficou calada. Uma mão no bolso, como se mexesse em algo dentro dele e Rafaella logo descobriu que realmente era um objeto. Ela o tirou manteve na mão fechada por alguns segundos antes de estender a mão.

O queixo de Rafaella quase caíu quando ela viu.

— Isso é... meu colar? — Rafaella passou a mão no pescoço, como se procurasse por ele, mesmo que não tivesse usado ele por muitos anos.

Desde o dia em que brigou com Allan. Tinha certeza que no momento da briga, ele havia quebrado e caído, lembrava como havia sido intensa a luta, ela revidou o máximo que pode, mas Allan a machucou muito mais. Lembra como seus braços doeram quando ela jogou as roupas dele pela janela.

Foi nesse momento que ela deu falta do colar. Desse colar. E ela devia ter raiva dele agora, porque tinha sido o primeiro presente de Allan e ela nunca tinha o tirado, mesmo com todo o ódio, todas as brigas e traições, todo o abuso que preferia deixar enterrado em sua mente, ela o usou até o dia em que perdeu na última briga deles antes da separação.

Porém, ela não estava. Muito mais intrigada do porquê Melissa o tinha. A esperou falar.

Sua filha mexia com o colar de ouro entre os dedos, tentando encontrar as palavras e passou alguns poucos minutos assim, até que finalmente conseguiu colocar a voz pra fora.

— Esse colar foi o maior mistério da minha vida! — Melissa começou. — Eu nunca entendi porque o guardei com tanta força. Eu me lembro de olhar pra ele todas as noites nos primeiros dias depois daquela briga! Ainda não sei dizer, mas é a única parte da senhora que tenho comigo e é por minha culpa!

Ela pareceu perder a fala. Rafaella olhou para o colar na mão da filha, ela o mantinha entre os dedos agora, mexendo nele como se fosse uma mania. A mais velha fechou os olhos por um momento, respirando e tentando desviar algumas lembranças ruins que estavam vindo em sua mente.

O choro de Melissa fez Rafaella abrir os olhos. Ela sentiu a garganta apertar com a cena.

— Eu não sei o que fazer! — Melissa começou a falar, a voz completamente diferente, por causa do choro. — Eu não tenho ideia alguma de como é uma boa filha ou o que eu preciso fazer pra tentar pelo menos pagar pelo que eu fiz no passado! Eu sei que não posso mudar nada do que passou, mas eu me arrependo! De tudo, de absolutamente tudo!

Rafaella se segurou pra não chorar, mas estava difícil.

— Eu me arrependo de não ter te dado valor e me perdoa por só ter descoberto isso depois de tanto tempo! E eu sei que não mereço esse perdão, então eu vou entender se não me quiser mais como filha, mas eu estou disposta a fazer tudo e qualquer coisa pra ter essa chance, porque agora eu entendo... — Melissa parou de falar, se entregando ao choro de uma forma que fez o coração de Rafaella doer. O som se fez presente e não só mais as lágrimas e abaixou a cabeça tentando se recompor. Eu prometo que nunca mais vou fazer qualquer mal, eu te amo agora, eu conheci o amor e eu te amo mãe, eu nunca mais vou te tratar mal! Agora eu reconheço!

Rafaella chorava junto, apesar de mais baixo. Ela sentia o coração quebrar e juntar todos os pedaços, tentando emendar o passado.

— Eu não sabia o que era amar, porque eu pensei que amava meu pai, mas aquilo não era amor! Eu idolatrei a pior pessoa e rejeitei a melhor pessoa, eu não fiz uma coisa certa no meu passado, não tomei uma única atitude correta e eu realmente pensei que eu não tinha chance de mudar, porque como corrigir esse passado? Eu não posso desfazer nada do que fiz, mas eu aprendi que eu posso mudar o que eu ainda vou fazer! O passado é imutável, mas o futuro é moldável, eu posso moldar e eu só peço uma única chance de mostrar que eu posso ser uma filha boa, assim como eu posso ser uma mãe também! Porque agora eu entendo o seu amor por mim... eu entendo o que é pensar na minha princesa a todo momento, me perguntando se ela tá bem lá em cima, mesmo que ela com duas pessoas maravilhosas, mas esse ardor no meu peito não vai passar! Não enquanto eu não tiver minha filha perto de mim de novo... não enquanto eu não tiver minha mãe... — Ela sussurrou o final.

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