Capítulo 2

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O ambiente da cafeteria era agradável. Mesmo que passasse por Glendale com certa frequência, Gerard nunca tinha se dado ao trabalho de entrar ali. Logo pensou em Ban. A filha gostaria da decoração amadeirada com plantas pendendo do teto e do balcão com azulejos brancos. Parecia uma maldição mesmo, sempre pensar na garota quando ela não estava com ele.

Gerard se aproximou da simpática garota do caixa.

"Olá! Boas-vindas ao Bulletproof. O que você vai querer hoje?", perguntou.

"Oi", disse um pouco tímido. A voz mais reclusa fazia com que não fosse instantaneamente reconhecido. Era sempre algo difícil de lidar. "Eu perdi minha carteira e alguém deixou para mim aqui...", disse hesitante.

"Seu nome, por favor?"

"Gerard Way", disse baixo. A garota que até então não mostrava sinais de que o tinha reconhecido, deixou claro naquele instante que sabia quem estava à sua frente, mas tentou se conter. "E vou querer um café latte com leite de aveia. Coloque meu nome como Arthur, por favor."

A garota se virou para pegar a carteira de Gerard. Recuperar o item perdido trouxe a ele uma calma e um alívio. Ele conferiu se tudo ainda estava lá: não confiava exatamente em qualquer cenário e qualquer pessoa, mas nada parecia ter sido mexido ou alterado.

"Uma última pergunta", ele falou, antes de se virar para liberar a fila. "Você viu quem deixou?"

"Foi aquele senhor ali", disse a garota, apontando com a cabeça discretamente para um homem sentado mexendo no celular. Gerard agradeceu.

Hesitante, o ator fez seu caminho em direção à mesa com o homem, olhando-o com mais atenção. A camiseta preta de banda deixava à mostra os braços completamente cobertos de tatuagens. Ele alternava suas moções entre digitar com as duas mãos no celular e segurar o café com uma delas.

Com as duas mãos nos bolsos da frente da calça, levemente cobertos por sua camisa xadrez, Gerard se aproximou e limpou a garganta, chamando a atenção do homem. Ele tinha medo da primeira reação.

"Sim?", perguntou, até um pouco incomodado. Como se Gerard tivesse o impedido de fazer algo muito importante (fosse o que fosse naquele celular).

"Você é Frank?"

"Por que você quer saber?", perguntou reativo.

"Eu sou o Gerard. Vim agradecer pela carteira", assim que falou, Gerard viu a expressão invocada do outro desmanchar. Calmamente, seus lábios se curvaram em um discreto sorriso.

"Não há de quê", respondeu, estendendo a mão para um cumprimento.

Gerard notou um detalhe pela pequena interação. Ou melhor, dois: primeiro, Frank não parecia fazer ideia de quem ele era (o que era um ponto positivo, é claro), e o segundo era que, pela inclinação do sotaque, aquele homem não era nativo.

O olhar de Frank repousou em Gerard, que corou levemente. Ele não sabia ler o que se passava na mente do homem e tentava, ao mesmo tempo, esconder o que se passava na sua própria mente. Aquele cara era um tremendo de um gostoso. Era difícil manter o contato visual quando Gerard se sentia corar e descia o olhar pelos braços dele.

Gerard ouviu seu segundo nome, indicando que o café estava pronto. "Até mais, Frank", disse, se afastando.

Antes que virasse totalmente, a mão de Frank segurou seu braço com gentileza. "Espera", disse. "Não vai ainda."

Um tanto sem reação, o ator resolveu se desvencilhar com a mesma delicadeza da mão do homem e ir buscar o café. Frank, que estava de costas para o balcão, agora olhava para ele, convidando-o a voltar e se sentar.

Quando voltou, Gerard deixou o celular e a carteira sobre a mesa. Frank riu. "É por isso que você perdeu sua carteira, então. Tudo está claro agora", o sotaque era diferente, mas mais que isso, era delicioso. Era levemente cantado, dramático. Já sabia: aquele era um homem italiano.

"Eu deveria prestar mais atenção nas coisas, mas infelizmente sou um pouco desatento", Gerard falou. "Mas ainda bem que há gente boa no mundo, como você."

Frank respondeu com um sorriso com a metade dos lábios que deixou Gerard desnorteado e resolveu esconder a reação com um gole no seu café que, ainda bem, estava gelado.

"Então, Frank, o que você faz aqui, neste lado da cidade?", perguntou.

"Eu me mudei recentemente e moro por aqui. Nenhuma história tão comovente ou excitante. Pensei que, já que ia fazer uma boa ação, poderia fazê-la perto de casa", disse com indiferença.

"Fugir do trânsito. Sempre uma opção inteligente se tratando de Los Angeles", Gerard falou. "Recentemente é quanto tempo?"

"Uns dois meses agora em maio", silêncio. Lá fora a cidade se movia com uma velocidade difícil de acompanhar. Pessoas passavam pela frente da cafeteria e os carros faziam barulhos comuns conforme os semáforos se abriam e fechavam. Havia outros sons também que valiam a pena prestar atenção: o barulho das louças, o cheiro do café sempre sendo moído e hidratado, os nomes sendo chamados para buscar os pedidos.

Esperando que Frank entrasse em detalhes sobre a sua carreira e sua existência como pessoa pública, Gerard acabou construindo uma barreira. Na verdade, era uma pequena película. Como se aquilo o fosse proteger de algo. Estava claro para quem o via de fora que ele não queria interações, mas isso não se aplicava a Frank.

Na verdade, o ator que tinha tanta facilidade em ser outra pessoa, tinha, muitas vezes, uma certa questão com ser ele mesmo. Esperava a deixa na fala das pessoas que nunca chegava. Era sempre mais fácil quando as falas tinham sido escritas por roteiristas, no fim.

A garota gentil do caixa veio discretamente à mesa em que Gerard e Frank estavam sentados. Frank estava claramente incomodado com a interação. Ela tentou ser o mais discreta possível, mas pediu um autógrafo para Gerard em um papel.

Frank tentou se manter impassível, mas seguiu incomodado com a situação. Ela então perguntou se poderia tirar uma foto com Gerard, que negou.

"Desculpa, mas eu preciso te perguntar... Você é alguém, né?"

"Como assim? Todos nós somos alguém", Gerard continuou bebendo seu café gelado. Recebeu como resposta de Frank um rolar de olhos – que achou, no mínimo, charmoso.

"Você é famoso ou qualquer merda assim?"

Gerard riu. Entrelaçou os dedos ao redor do copo de café e se ajeitou na cadeira. "É. Vamos dizer que sim. Você jura que não teve a curiosidade de, sei lá, buscar meu nome no Google?"

"Por que eu faria isso?"

"Porque literalmente a carteira de um estranho apareceu na sua frente."

"Não gosto muito dessas coisas de internet. Acho que não quer dizer nada sobre ninguém", Frank ponderou.

Aquilo trouxe certo alívio para Gerard. Ele não tinha visto então nada do que era dito sobre ele online. Sim, talvez nada sobre seu excelente trabalho como ator, mas nada também sobre as polêmicas que ele tinha se envolvido nos últimos anos. Como dirigir alcoolizado em uma noite dois anos atrás ou toda a briga do seu divórcio que tinha, de repente, se tornado pública.

Era uma interação no mínimo curiosa. Ao mesmo tempo em que parecia que Frank queria estar ali, tinha insistido para que Gerard ficasse, por outro lado, parecia sequer fazer questão da sua presença. Ele não conseguia decifrar nada sobre aquele homem. O olhar entregava que ele estava interessado em Gerard, mas ele estava acostumado a receber olhares como aquele: afinal de contas, era um ator conhecido. Mas mesmo assim, vindo de um cara como aqueles, era uma surpresa.

"Sim. Eu sou famoso. Sou conhecido pela minha profissão. Sou um ator."

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N/A:  Oie! Tudo bem? Primeiro de tudo, quero agradecer DEMAIS a repercussão do primeiro capítulo dessa fic. Estou muito feliz de ter voltado e ter sido recebida com tanto carinho! Prometo honrar! ♥

Mais uma vez, agradeço pela sua leitura até aqui. Peço que, se puder, deixe seu voto e comentário. Nos vemos em breve! 

à flor da pele [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora