Capítulo 10

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Assim que Gerard saiu pela porta da frente, Frank soltou um suspiro de alívio. Mas, pouco a pouco, as coisas começaram a desmoronar dentro de si. Era difícil ter que encaixar aquela realidade que não lhe pertencia mais de volta. Caminhou com passos firmes de volta até a sala.

"Como estávamos falando... Avisem o Jackie que essa é a última vez que vocês vão se envolver nesse assunto. A carga sai pelo porto de Nova Iorque numa quinta-feira de madrugada. Na Sicília, vocês precisam falar com o Vito-"

"Espera aí", interrompe Carm, o mais velho, levantando-se do sofá. "A gente não vai falar sobre o que acabou de acontecer aqui?"

"É, Tony", Chris concorda. "Que porra foi essa?"

Frank pressionou as têmporas com uma das mãos, enquanto a outra descansava na cintura. Ele sabia que, sim, lealdade era um princípio da família expandida (vulgo os Iero e todos que trabalhavam para eles), mas também sabia que transparência e honestidade eram ainda mais importantes.

"Eu ia contar para vocês. Só estava esperando o momento certo."

"Com homem de novo, Tony? Porra!", disse Carm, irritado.

Irritado também, Frank avançou e agarrou a gola da camisa estampada de Carm, encarando-o com um olhar fulminante e falando entre os dentes: "Já tivemos essa conversa, Carmine. Não vou discutir isso de novo."

"Calma, calma", disse Carm, abrindo os braços em rendição. "Tá tranquilo, primo."

Frank soltou a gola da camisa de Carm e respirou fundo. "Agora que vocês já sabem, não quero mais perguntas sobre isso. Se alguém tiver algum problema, resolvemos daquele jeito."

"Não será preciso, primo", interveio Chris, olhando para Carm. "Ele vai ficar de boa, Tony. Relaxa."

Ninguém ousaria desafiar Frank. Ele e sua família ainda dominavam o crime na costa leste, e tanto Carm quanto Chris permaneciam leais, mesmo que a relação familiar fosse sempre conturbada. Num momento, podiam se amar, e no outro, estar com uma arma na mão. No melhor estilo ítalo-americano.

Os dois eram burros demais para tocarem sozinhos as operações que Frank havia deixado. Por isso, vinham esporadicamente pedir orientação. Iero não ganhava nada com isso (exceto pela proteção que garantia a sua nova vida), mas mantinha sua segurança enquanto os primos enchiam os bolsos de dinheiro. Era o arranjo perfeito.

Era também triste. Frank queria se afastar completamente daquela vida, mas sabia que era uma sina. Uma maldição que o acompanharia até o fim. Por isso, continuava dando os conselhos sobre onde expedir as cargas, quem eram os contatos responsáveis. Aquilo garantiria à dupla um bom dinheiro e, com sorte, um sumiço por um tempo.

Os dois saíram da casa de Frank, mas era como se a presença intimidadora deles ainda pairasse no ar. Caralho, por que Gerard tinha que aparecer justo na hora errada?

Agora, Frank estava com medo. Os dois mafiosos não só sabiam que ele estava saindo com alguém, como sabiam o rosto desse alguém. E o pior: esse alguém era um ator conhecido em Hollywood.

Pior ainda, Frank temia que a lealdade dos primos fosse relativa. Se fizessem algo contra Gerard, Frank se veria em perigo constante. E agora, ele tinha algo que odiava: algo a perder.

A pessoa mais perigosa é aquela que não tem nada a perder. Ele estava, definitivamente no grupo dos outros.

A água do chuveiro não era capaz de lavar a sujeira impregnada nele, porque aquela sujeira estava por dentro. Frank queria berrar, riscar a faca na parede, abrir um buraco no chão e se esconder. Mas sabia que o anonimato nunca seria uma opção para ele, fosse pela polícia ou pelas mãos do crime.

Ele conhecia bem a história: ser preso, oferecer informações em troca de liberdade e, no fim, acabar sem liberdade e talvez morto. Esse era um destino que ele não desejava. Então, considerando as cartas na mesa, receber seus dois capangas uma ou duas vezes por mês era uma vantagem.

Frank nunca teve dificuldade em separar as coisas. Adam sabia o que ele fazia, mas nunca foi contra, já que se beneficiava do estilo de vida, dos carros e da casa grande em Catania. Frank conseguia sentar à mesa com o quase-marido e falar sobre amenidades, depois de ter feito alguém implorar pela vida.

Ele podia compartimentalizar com Gerard também. Teve certeza disso quando, horas mais tarde, Gerard abriu a porta de sua casa e o recebeu com um beijo demorado, que logo evoluiu para quase uma hora de exploração íntima. Fazia tempo, e Frank estava cheio de saudades. O corpo de Gerard era um amuleto, um lembrete da vida que ele queria construir.

De repente, a cama de Gerard, posicionada no centro do quarto, parecia muito maior. A pele suada dos dois estava colada, e Gerard repousava a cabeça no ombro de Frank, envolvendo-o com os braços e uma das pernas. Frank o apertava contra si, respirando fundo o cheiro do cabelo dele.

"Senti tanta falta disso", Frank confessou em voz baixa, sem ver o sorriso que se formava nos lábios de Gerard. "Parecia que você não ia voltar nunca."

"Eu também senti saudade de você", respondeu Gerard. Apesar da serenidade do momento, Gerard parecia inquieto. Ele se desvencilhou dos braços de Frank com a desculpa de buscar água. Frank não argumentou, ele também estava com sede.

Enquanto Gerard percorria a casa sozinho, Frank foi deixado a sós com seus pensamentos, olhando para o teto amadeirado do quarto. Parecia que ele tinha se desacostumado a compartimentalizar, porque a sensação arrebatadora de medo de perder tudo o atingiu.

"É estranho falar isso em voz alta depois de tanto tempo na minha cabeça", disse Gerard, entrando no quarto novamente. Dessa vez, ele se sentou na beira da cama, perto o suficiente para que Frank tocasse sua perna com carinho. "Pensei muito em você durante a viagem. De como eu queria que você estivesse comigo, de como sentia falta de estar ao seu lado. Frank, eu quero oficializar as coisas."

Frank foi pego de surpresa. Ele ergueu o tronco, apoiando-se nos cotovelos, e encarou Gerard. Talvez não fosse a reação que Gerard esperava. Uma expressão de choque tomou conta de seu rosto, deixando-o em dúvida.

"Quero que sejamos namorados. Não sei se você está vendo outra pessoa além de mim, mas... eu quero que sejamos exclusivos", disse Gerard.

Frank pegou a garrafa de água da mão de Gerard. "Ok", disse. É claro que ele não estava vendo mais ninguém. Ao menos ninguém que tivesse roubado seu coração como Gerard. Ele podia até frequentar o clube de leitura ou as discussões na loja de discos, mas desde que Gerard entrou em sua vida, só tinha tempo, disposição e amor para ele. "É claro", concordou.

Gerard sorriu genuinamente. Inclinou-se para dar um beijo profundo em Frank, que segurou seu rosto com ternura. "Nossa, é tão bom finalmente dizer isso em voz alta!"

"Espero que você não tenha achado que eu não fosse concordar", disse Frank, afastando uma mecha de cabelo do rosto de Gerard. "Você mudou minha vida, Gerard. Eu... estou completamente apaixonado por você."

Gerard virou o rosto para beijar o braço de Frank, aproveitando para esconder o sorriso que crescia em seus lábios. Era isso, eles tinham dado um passo adiante. Gerard dizia que queria que Frank entrasse ainda mais em sua vida. Queria que ele conhecesse Ray, o amigo que quase os flagrara naquela manhã, e Ban. Ele mal podia esperar para avançar.

Mas Frank sabia que quanto mais ele entrasse na vida de Gerard, mais complicadas as coisas ficariam. E, o que mais tirava seu sono: agora, ele tinha muito mais a perder. Sem uma passagem de volta.

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N/A: Curtinho, mas amanhã tem mais! Obrigada por ler, comentar e votar. ♥ 

Vamos de amorzinho durante um tempo agora, podem respirar em alívio! Hehe

à flor da pele [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora