Capítulo 3

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Com tanto para fazer na reta final da gravação da série, os dias voavam. Muito de seu tempo, Gerard dedicava a memorizar falas, estudar seu processo artístico e ensaiar. Com a outra parte do tempo, tentava não ser um pai tão ruim.

"Pai, você está sendo dramático", dizia Ban quando Gerard confessava seus profundos medos.

"Eu não quero te traumatizar. Eu faço tudo isso por você, você sabe."

"Eu sei", respondia Ban.

A vida na casa da família Way era tranquila, confortável. Tinha melhorado muito com a separação de Gerard e Lindsey, e com a entrada de mais dinheiro. O fato de ser uma casa por si só já tinha mudado bastante coisa.

Agora, Ban tinha um quarto enorme e uma larga parede para encher de posteres. Gerard contratou um arquiteto para refazer o projeto da casa com os palpites dele e da filha. Cada pedaço daquela casa tinha um pouco de Ban. Agora, Gerard tinha não só uma, mas quatro paredes de estantes para acomodar todos os seus livros. Na verdade, nem tantos livros ele tinha.

Nos sábados de manhã, uma suave névoa cobria o quintal, a parte favorita da semana de Gerard. Era uma das vantagens de perder o sono às 4h e não conseguir mais dormir. A casa era dividida em algumas construções. O prédio principal acomodava a casa em si: as duas salas, a cozinha e a sala de jantar e, nos dois andares superiores, os quartos.

Tendo um leve declive e bastante espaço, havia outras partes da casa para trás. A vista da cidade ao fundo fazia um quadro, mas havia também algumas outras pequenas construções: o que tinha se tornado o ateliê de Ban, o escritório de Gerard e um pátio onde Gerard passava um tempo fumando um cigarro com calma, bebericando um café e lendo um livro. Ou o texto que ele precisava decorar.

Em contrato, Gerard tinha ainda mais duas temporadas. Ele sabia que Sandra ia querer propor reajustes de cachê, especialmente depois do desempenho dessa temporada em que vinha trabalhando. Isso significava que, talvez, dentro de dois anos, ele passasse a ganhar cifras inimagináveis para o ator que ele tinha sido, só que por episódio.

Não era uma questão de espaço, mas mais uma questão de sentimento que tornava a casa dos Way uma extensão da casa de Ray Toro. Foi por conta de Gerard que ele tinha se mudado para Los Angeles, foi o incentivo do amigo que o fez buscar oportunidades na cidade dourada.

Era natural que fossem uma família. A família de Gerard tinha ficado junto com a família de Ray, do outro lado do país, em uma cidade que, de repente, parecia pequena demais para os amigos, no estado de New Jersey.

Ray era família. Tinha a chave da casa e ninguém estranhava quando ouvia o barulho dela girando na porta, indicando que ele tinha chegado.

"Tio Ray!", disse Ban, feliz mais uma vez com a chegada do tio de consideração.

"Olá, meu bem. Trouxe um presente para você", ele estendeu uma sacola de papelão na direção da garota. Dentro, havia uma fava de baunilha de Madagascar. Uma das coisas compartilhadas pelos dois era o apreço pela cozinha, então Ray, sempre que podia, incentivava a sobrinha.

Ban recebeu o presente feliz como se fosse ainda uma criança. Abraçou Ray em retribuição e prometeu que faria um creme brûlée com aquilo – estava na fase de explorar a culinária francesa.

Era natural que houvesse sobre a garota uma pressão para escolher o que iria estudar na faculdade, afinal, faltavam poucos anos. Isso era um grande desafio: ela gostava de muitas coisas. Tinha seu ateliê, adorava passar horas pintando quadros, herdara o dom da mãe. Por outro lado, se sentia completa cozinhando. Gerard jamais disse algo para garota ou pos pressão: ele tinha uma abordagem muito diferente na criação da adolescente. Ele queria que ela fosse livre e fizesse suas próprias escolhas.

à flor da pele [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora