Cap 6

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A semana que se seguiu foi um borrão de emoções e reflexões. Eu precisava encontrar uma maneira de lidar com meus sentimentos e, talvez, encontrar uma forma de consertar as coisas com Roberto. Mas, por agora, tudo o que eu podia fazer era tentar juntar os pedaços do meu coração partido e seguir em frente, um passo de cada vez.

A situação que Caio causou me deixou possessa, mas eu estava sobrecarregada demais... Me dei uns dias para pensar e, depois, eu pensaria em foder o Caio. Não quis me explicar para Nascimento; já estava cansada daquilo, e se ele preferiu acreditar no que ouviu, tudo bem. Eu gostava dele, gostava muito, mas eu simplesmente estava consumida pelos meus demônios.

Eu controlava meu ódio no mais puro cinismo quando via Caio pelo quartel... Eu estava no fio da meada, a tristeza que eu sentia deu lugar a uma raiva sem tamanho, e quando eu me sentia assim, o pau cantava. Eu me tornava ainda mais grossa, as instruções ficavam piores para os recrutas.

Nos dias seguintes, tentei me concentrar no trabalho e deixar meus pensamentos sobre Roberto de lado. Mergulhei nas minhas tarefas no quartel, tentando manter minha mente ocupada e afastada da confusão emocional. Mas, inevitavelmente, cada momento de silêncio trazia de volta as lembranças e a dor.

O coronel do meu quartel havia pedido ao coronel do BOPE que mandasse alguns homens para ajudar no treinamento dos recrutas. Eles iriam auxiliar em uma operação no futuro e não tinham experiência como os caveiras do BOPE.

A instrução tinha começado, e na noite anterior eu tinha enchido a cara, era a forma que eu encontrava de tentar esquecer aquilo. Eu tinha tido uma noite de sono péssima, e com isso meu humor não estava dos melhores. Chego atrasada, usando um óculos aviador para esconder a cara inchada.

Eu passo e cumprimento alguns homens do BOPE que ali estavam. Paro um pouco distante e cruzo os braços no peito.

Levanta mais essa, porra! Seu animal! - ouço aquela voz que eu conhecia bem, era ele instruindo um dos recrutas, eu o observo apertando o meu maxilar.

Eu não falei com ele, e ele olhava ao longe com cara de poucos amigos. Era visível.

Me aproximo de um recruta que estava atirando completamente errado, coitado, recebeu todo o ódio que eu sentia.

- Seu 03, o senhor é idiota? - Pergunto em tom autoritário.

- Não, senhora.

- O senhor foi ensinado a atirar onde? O senhor não recebeu o treinamento básico aqui nessa -porra?

- Recebi sim, senhora.

- Então como é que o senhor quer acertar a merda do alvo sem apoiar esta merda deste fuzil na porra do seu ombro direito? - o recruta me olha meio assustado - O senhor quer que essa merda voe e atinja seus colegas? Que me atinja?

- Não, senhora!

- Então apoie essa merda direito, seu 03! Pq se essa porra voar e me atingir, eu acabo com o senhor.

- Desculpa, senhora.

Eu me afasto novamente, cruzo os braços e permaneço assistindo ao treinamento.

Nascimento me olhou de lado, levantando a sobrancelha, seu maxilar estava marcado indicando que ele estava apertando-o.

- Hummm, Problemas no Paraíso. Tá brigada com o zé mané? - Caio diz se aproximando e ficando ao meu lado.

Eu respiro fundo, fico calada, a minha intenção era controlar minha raiva, eu queria matar aquele idiota.

Ele ri e sinto a raiva aumentar dentro de mim.

- eu sabia que isso não ia dar certo. - Ele continua em tom de deboche

Oceano | Capitão Nascimento - Por Agnes B.Onde histórias criam vida. Descubra agora