Cap 11

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POV Nascimento

Betina e eu estávamos razoavelmente bem. Decidimos que iríamos trabalhar juntos para superar os desafios, e eu faria o que fosse necessário para mostrar a ela que nosso relacionamento valia a pena.

Os dias seguintes foram melhores. Eu estava mais consciente de como meu comportamento estava afetando nossa vida, e fazia um esforço consciente para ser mais presente e menos estressado. Betina notou a mudança e começou a se abrir mais comigo, compartilhando seus sentimentos e preocupações.

No entanto, o trabalho no batalhão continuava exaustivo e estressante, e houve momentos em que senti a pressão aumentar novamente.

Em uma dessas ocasiões, eu estava saindo do quartel quando vi Carolina, a advogada da corregedoria da PM, no estacionamento. Ela estava conversando com alguns colegas, e a visão dela trouxe de volta as lembranças da última vez que Betina e eu discutimos sobre esse assunto.

Carolina era uma mulher bonita, atraente, mas comparada com a minha Betina ela não chegava aos pés. Betina era uma dama na rua e uma puta na cama. Já Carolina era um tanto vulgar e nem tão boa assim de cama. 

Passei ali perto tentando ignorar a presença dela e seguir meu caminho, mas antes que eu pudesse passar sem ser percebido, Carolina me chama.

- Coronel Nascimento! Tem um minuto? - Ela pediu, já caminhando em minha direção se aproximando.

- Pois não?! - Respondo tentando sem o mais profissional possível

Eu sabia que essa conversa poderia complicar ainda mais as coisas, ainda mais se Betina soubesse disso, mas ela não estava ali, não tinha como saber... decidi não fugir.

-  Parabéns pela promoção! - ela diz passando a mão no meu braço - Você merece, sei que com você no comando isso aqui vai dar ainda mais resultado.

- Obrigado!

- Então... Que tal a gente comemorar isso? - ela diz fazendo a maior cara de puta - Como nos velhos tempos?

- Olha só... Não me leva mal, mas...

- Não vem me dizer que você agora tá amarrado? - ela sorri e continua - É aquelazinha do exército que eu vi naquele dia?

- Carol, eu não devo satisfação pra você, cara. Mas eu tô com ela sim, e não é "aquelazinha", é a minha mulher. 

- Ah para! logo você que não queria nada com ninguém, você não pode ta falando sério.

- Eu não queria nada com você. - eu gargalho e ela me olha incrédula - Era só isso que você queria falar comigo?

- é... não. Na verdade é sobre aquele relatório que você me pediu. Achei algumas inconsistências que precisamos discutir. 

Como todo castigo pra filho da puta é pouco,  e eu devo ter tacado pedra na cruz, o que era improvável aconteceu.

Vejo uma SW4 Branca, a placa eu reconheci na hora, era Betina. Porra! Eu sabia que provavelmente ela já tinha visto e isso ia dar uma merda do caralho. Ela ia falar pra porra. E o inferno ia recomeçar.

- é... Vamos marcar uma reunião e então a gente discute sobre isso. Tá? - Digo olhando para o carro de Betina e me afastando ainda mais de Carolina.

- Tá bem!

- Fala com o Paes, pede pra ele marcar uma hora na minha agenda. - encerro a conversa.

Fico olhando o carro de Betina, dou alguns passos para frente em direção ao estacionamento.
O que ela fazia ali, por que não me avisou? 
Antes que eu pudesse falar com ela, ela subiu o vidro do carro enquanto me olhava, seu olhar já me dizia que ela estava possessa de ciúme e desconfiança. Ela manobrou o carro e saiu cantando pneu do estacionamento.

- Caralho, só posso ta cagado de urubu, meu parceiro! - Murmurei para mim mesmo pegando o celular no meu bolso.

Roberto:
" Amor? 
Me responde... não sai dirigindo assim. Vamos conversar... não sei o que você pensou... 
Deixa eu falar com você! Me atende."

A mensagem foi lida e ignorada, assim como minha ligação!

- Caralho! - Grito dando um murro na pilastra que tinha ali.

- O que foi? Problemas no paraíso? - Carolina se aproxima de mim e eu a encaro com ódio.

- Carolina, na boa! Não me faz eu te mandar tomar no cu não! - Eu viro as costas e vou direto para a minha sala. 

Eu sabia que agora a merda tava feita de vez... Betina era desconfiada, insegura com essas coisas, e com toda certeza ela já deveria ter botado na cabeça dela que eu tô de caso com a Carolina.

O dia passou se arrastando, liguei várias vezes para Betina e ela não em atendeu. Eu não sabia do paradeiro dela.  Ligava pra melhor amiga dela e ela também não me atendia. A única que me atendeu foi minha sogra, que disse que Betina não havia falado nada para ela, que ela ligasse ela me falaria. 

Mas eu sabia que era mentira, Betina deve ter falado pra mãe não me dizer nada, autoritária como ela era...

Quando finalmente eu cheguei em casa, estranhei o silêncio. A casa tava escura. Procurei Betina, e nada. Entrei no quarto e o perfume dela tava impregnado ali, parecia que ela tinha acabado de usar. Olho pro chão e alguns sapatos de salto alto dela estavam jogados ali, como se ela tivesse pegado vários para escolher.  Me sento no sofá e ligo pra ela de novo.

- Porra, Betina, pra onde você foi? - Murmuro para mim mesmo enquanto ligo pra ela.

A noite passou e eu acabei adormecendo no sofá. Ouço o barulho da fechadura digital e acordo. 
Me sento e fico esperando ela entra.  Ela entra liga a luz e me ver ali, ela me encara revira os olhos e tira os sapatos de salto que ela tava calçando. Ela tava com roupa de balada.

- Eu te liguei... Você tava onde? - Pergunto a encarando e ela me fitou sem me dizer nada.  - Eu tô falando com você... Onde você tava? Você já viu a hora? 

Ela estala a boca, me olha com desprezo e revira os olhos de novo.
Eu havia me esquecido em como as vezes ela era extremamente birrenta e mimada. Eu tento me controlar, mas eu tava irritado, enciumado. 
Ela era impulsiva, deve ter ficado com outros homens pra se vingar de mim...penso.

- Você saiu com outro cara? - Pergunto 

- O que você acha? - ela me encara enquanto se senta na poltrona a minha frente.

- Não sei. Você as vezes é  uma caixa de pandora. Não dá pra saber. - eu passo as mãos na cabeça - Saiu ou não?

Ela me encara em silencio, com uma cara desafiadora, parecia uma leoa. 

- Ai ai. - ela respira fundo - Eu vou tomar banho, tô cansada. - ela diz se levantando e indo para o quarto.

Quando ela passa por mim, eu seguro seu braço, ela para e me encara.

- Vai ser assim? Você não vai me responder? - pergunto ainda em tom baixo, mas firme.

Ela puxa o braço dela, caminha até a minha frente, apoia as mãos na minha perna e se aproxima do meu rosto lentamente. Seu hálito quente próximo a minha boca, eu sentia seu perfume doce amadeirado misturado com o cheiro de álcool.

- Não, Beto! Eu não dei pra outro se é isso que você quer saber! Você até que merecia...

Eu a interrompo e seguro seus pulsos. 

- Não deu? Mas ficou com outro cara? Não mente pra mim. 

Ela puxa os braços  e gargalha.

- É sério que você ta me cobrando explicações, caralho? - ela se senta na poltrona a minha frente de novo - Eu vi você com aquela advogadazinha de merda. De novo Roberto.

- Você não viu nada, por que não... - ela me interrompe

- Ah vá se foder... Você deve... - dessa vez eu a interrompo

- Fala direito comigo, Betina. 

- VOCÊ DEVE TÁ COMENDO AQUELA PUTA DE NOVO, POR ISSO TÁ DESSE JEITO. -  Ela grita

Eu sabia que ela ia botar isso na cabeça dela... 

- Não! Não e não, Betina! Você tá errada...

- Tô,  tô é uma porra que eu tô.

- Betina, eu tava conversando com ela sim, mas era assunto de trabalho! Nada demais! - Eu respondi ainda tentando manter a calma.

- Ah claro! Com toda certeza... você rindo, ela passando a mão no teu braço. - ela balança a cabeça e volta a me encarar. - Eu vi, seu idiota. 

- Porra, Betina! Presta atenção no que você tá fazendo... Você tá me acusando de uma coisa que eu não fiz! - Eu explodi, sentindo a frustação crescer dentro de mim.

- Eu não confio mais em você, Nascimento! - Ela gritou, segurando a cabeça com as mãos - Isso explica muita coisa... Você deve tá de caso com aquela piranha, a tempos, e ainda vem com estresse pra dentro de casa e...

Vejo ela começou a se sentir mal, e antes que eu pudesse reagir, ela desmaiou.

Merda! Eu a carrego desesperado para o carro para levar ao hospital, no caminho ligo para minha sogra, Dona Rosa,  que imediatamente se dirige ao hospital.

Já no hospital, ela é prontamente atendida e vejo um dos médicos dizer que provavelmente ela teve uma queda súbita de pressão. 

Minha sogra ao lado do meu sogro,  chegam atordoados. E eu estava ali naquela recepção sem noticias do que pode ter acontecido com a minha mulher. 

- O que aconteceu, meu filho? - Dona rosa diz me abraçando

- Não sei, Dona Rosa. Ela chegou em casa ainda a pouco, a gente discutiu e ela desmaiou. A senhora lembra que liguei pra senhora a tarde? - ela assente - então desde aquela hora não tive contato com ela. 

- Meu Deus... Ela me falou que ia sair com a Julia, pediu pra eu não te contar nada, mas não imaginei que essa menina faria isso. 

- Eu falo pra você Rosa, para de ficar ajudando a Betina a esconder as coisas do Nascimento... Tem coisas que não se esconde assim... Você já contou pro rapaz?

- Fique calado, Aldo! - minha sogra diz

- Contou o que ? - eu pergunto e meu sogro sai de perto.

- Nada, filho! - ela acaricia meu braço e eu a olho desconfiado - Nada.

O que diabos esse pessoal tava me escondendo... 
Porra, a Betina me traiu e até os pais sabiam? Caralho.
Só passa merda na minha cabeça, eu fico ali sentando calado perdido nos meus pensamentos. 

- Bom dia! Betina acordou, está bem na medida do possível... - o médico diz olhando para nós - Ela teve um sangramento... Verificamos como está o feto e...

Eu pisco algumas vezes tentando assimilar se eu ouvi aquilo mesmo?

- Pera ai. Como é que é? - eu perguntou e Dona Rosa segura no meu braço - Feto?

- Olha aí a merda... - Seu Aldo fala sentando

- O feto estava  entre 13 a 16 semanas, verificamos os batimentos cardíacos, mas já eram inexistentes... Eu sinto muito 

Eu me sento tentando assimilar tudo aqui... Betina tava grávida de um filho meu...

- Vocês sabiam disso sogra? - Pergunto olhando para Dona Rosa e Seu Aldo

- Oh meu filho, ela pediu para que não contássemos a você. - ela me olha com ternura - ela tava esperando você escolher o rapaz pra comandar sua antiga equipe.

- Eu não concordei com isso. Pra mim ela deveria ter te contado assim que descobriu. - Seu Aldo diz

- Que merda! - eu passo as mãos na minha cabeça

- Vocês podem vê-la. - o médico diz

Assim que entramos no quarto, Dona Rosa vai para próximo de Betina e acaricia a filha com os olhos marejados.

Ela me encara e diz :

- Eu não quero você aqui!  - ela disse, sua voz fraca mas decidida.

- Você não ia me contar? - ignoro o que ela diz

- Eu tava esperando você resolver sua vida no batalhão... Mas eu percebi que ia demorar, foi isso que eu fui fazer lá... A caixa com o teste tava dentro do meu carro. - As lágrimas escorriam do rosto dela

Meu coração tava dilacerado, eu me sentia culpado. Perdi um filho que eu nem sabia da existência e talvez agora eu tenha perdido a mulher da minha vida.

- Oh amor... - digo me aproximando dela, pego em sua mão - Eu não fiz nada, você tem que acreditar em mim, porque é verdade. Eu não mentiria pra você.

- Não quero falar sobre isso... Não agora. Perdi meu filho...

- Nosso... - digo beijando sua testa, tento segurar o choro mas não consigo.

Ver ela ali vulnerável, pensando que eu a trai, perdendo nosso filho... Porra, poderia ser pior? 

Ela acabou pegando no sono, eu pedi aos pais dela que fossem para casa que eu ficaria com ela.
Me sentei na poltrona cinza que havia ali e acabei apagando também. 

Oceano | Capitão Nascimento - Por Agnes B.Onde histórias criam vida. Descubra agora