Cap 33

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POV Betina

Sentada no sofá da sala, envolta pela meia-luz amarelada que ilumina suavemente o ambiente, conferindo uma atmosfera aconchegante e tranquila. O som baixo da televisão preenche o espaço, mas minha mente está longe dali, revisitando a cena que ocorreu mais cedo com Rosane. A expressão dela quando a confrontei ainda está fresca na minha memória, e sinto uma mistura de satisfação e raiva percorrer meu corpo ao lembrar de cada detalhe.

Eu estava sedenta para partir pra cima dela, mas me contive por causa da minha filha. Além disso, sabia que se o Coronel Quintana tivesse presenciado a situação, certamente eu enfrentaria mais uma punição, e já tinha problemas suficientes para lidar. Ainda assim, não me arrependo do que fiz. Rosane passou dos limites, e eu não sou do tipo que leva desaforo para casa.

Suspiro profundamente, tentando afastar esses pensamentos da minha mente. Culpar o Beto por tudo isso é tentador, afinal, se ele não tivesse ido consolar Rosane naquela vez, talvez nada disso estaria acontecendo agora. Mas não quero alimentar mais ressentimentos. Prefiro manter o silêncio para evitar brigas desnecessárias. Sei que ele entende meu silêncio e respeita meu espaço, demonstrando seu apoio de outras maneiras.

O som da fechadura girando me traz de volta ao presente. A porta se abre, e Beto entra carregando as sacolas do restaurante que vende a carne de sol que eu tanto gosto. Ele me lança um olhar rápido, avaliando meu estado de espírito, antes de seguir direto para a cozinha sem dizer uma palavra. Posso sentir a preocupação e o cuidado em seus gestos, mesmo sem palavras.

Alguns minutos depois, ele retorna à sala carregando dois pratos servidos com generosas porções de carne de sol acompanhada de feijão tropeiro, exatamente como eu gosto. O aroma delicioso invade a sala, despertando meu apetite que até então estava adormecido.

— Aqui, amor. — Ele diz com suavidade, estendendo um dos pratos para mim, acompanhado de um sorriso caloroso que aquece meu coração.

Surpreendo-me ao notar o feijão tropeiro no prato, algo que não era comum no restaurante.

— Tropeiro? — Pergunto, erguendo as sobrancelhas e olhando para ele com um sorriso agradecido.

Beto dá uma piscadela brincalhona antes de se sentar ao meu lado no sofá.

— Pedi especialmente pra você. Sei o quanto gosta. — Responde ele, mantendo o olhar fixo em mim, demonstrando todo o carinho e atenção que tem por nós.

A televisão continua exibindo mais um episódio de "Two and a Half Men", uma das nossas séries favoritas. Enquanto comemos, o silêncio entre nós é confortável, preenchido apenas pelas risadas ocasionais que escapam quando os personagens soltam alguma piada boba. Sinto a tensão do dia começar a se dissipar lentamente, substituída por uma sensação de conforto e segurança na presença dele.

Após terminarmos a refeição, coloco o prato vazio na mesa de centro e me viro para ele.

— Obrigada. — Digo sinceramente, olhando em seus olhos. Ele se inclina em minha direção e deposita um beijo suave nos meus lábios, um gesto simples, mas cheio de significado.

Beto permanece próximo, seus olhos fixos nos meus, e começa a acariciar meu rosto com a ponta dos dedos, seus toques leves traçando linhas imaginárias na minha pele. Sinto a intensidade do seu olhar, e percebo que há algo mais que ele deseja dizer.

— Me desculpa, amor. — Sua voz é baixa, carregada de remorso. — Se eu pudesse voltar atrás...

Antes que ele possa continuar, coloco um dedo sobre seus lábios, interrompendo-o gentilmente.

— Beto, não quero mais falar sobre isso. — Digo com firmeza, mas de maneira suave. — O que passou, passou. Infelizmente, não temos como mudar o que aconteceu. — Seguro seu rosto entre minhas mãos e olho profundamente em seus olhos, querendo que ele entenda a sinceridade das minhas palavras. — O que importa agora é o que vamos fazer daqui pra frente. Precisamos pensar na nossa filha, no Rafa, em nós dois, na família que estamos construindo. Estamos bem, e quero que continuemos assim.

Oceano | Capitão Nascimento - Por Agnes B.Onde histórias criam vida. Descubra agora