Elleanor Torrance.

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Dias atuais.

THUNDER BAY.
Elleanor Pov.

Eu não tenho certeza há quanto tempo estou acordada, minha cabeça dói e a luz fraca que entra pela janela faz com que meus olhos pareçam estar queimando. Meus irmãos já acordaram, eu sei disso porquê escutei eles conversando e saindo do quarto.

Mas eu sei que não estou sozinha, Mads está aqui, seu cheiro é praticamente inconfundível e ele se nega a sair do quarto até que eu esteja acordada. Eu sinto o lado da cama afundar e uma mão encosta em meu cabelo e seus dedos o acariciam levemente. Sinto seu olhar vidrado em mim, mas não tenho coragem de abrir os olhos.

— Eu sei que você está acordada, Elleanor... — Seu tom de voz é baixo, mas sei que ele não está calmo como aparenta. — Vai mesmo me ignorar?

Eu suspiro, abro meus olhos e a luz os atinge me deixando atordoada. Me apoio na cama para conseguir me sentar, as mãos de Madden seguram minha cintura como se eu fosse desmanchar a qualquer segundo.

Eu o afasto, tiro suas mãos do meu corpo porque a última coisa que necessito agora é anciar pelo seu toque. Escuto ele respirar fundo, mas a única coisa que consigo prestar atenção é que minha visão está turva e minhas mãos trêmulas.

— Eu não tenho o que falar com você, Madden!

Ele encosta a cabeça na parede, suas mãos se fecham em punhos e tenho certeza que a frustração e a raiva estão tomando conta do seu corpo.

— Porra, pare de ser tão teimosa! Você se drogou, caralho! — Seu tom de voz agora é mais alto e seus olhos encontraram os meus.

— Sério? Eu nem havia notado. — Eu viro meu rosto, me negando a olhá-lo. — Só vá embora.

Sua mão segura meu queixo, mas fecho meus olhos. Sua outra mão vai até minha cintura segurando a com força, ele quer reclamar, quer gritar comigo, mas sabe que não tem direito algum de abrir a boca.

— Porra, O que você quer de mim? Me fala, olha pra mim, grita comigo caralho! Fala que você me odeia, que não quer me ver, vamos Elleanor. Abra a porra da sua boca e fale alguma merda!

Eu abro meus olhos, mas não falo uma palavra sequer. Ele me solta, se levantando. Sua mão atinge a parede com tanta força que o barulho faz eco dentro do quarto e tenho certeza que rachou onde ele bateu.

— Porra, fale comigo! Eu odeio esse silêncio do caralho, grita comigo, briga comigo. Pelo amor de Deus só abra sua boca.

Eu rio fraco, meus olhos focam em Mads e acho que as vezes ele esquece que sou filha de Damon Torrance. Posso ter a parte boa da minha mãe, mas fui ensinada a ser ruim e tomar o que eu quisesse pra mim quando fosse preciso.

— Eu já disse que não tenho nada pra falar com você, faça o favor de sair da minha casa. Porquê se você não se lembra, Madden. Foi você que me mandou ficar longe, que me mandou calar a boca e que disse que eu era nova demais pra toda essa merda.

Madden para, suas mãos tremem e de uma delas escorre sangue, ele tenta respirar profundamente, como se pudesse acalmar tudo que está sentindo. A raiva, o desespero, tudo se mistura com a frustração em seu olhar, que agora está fixo no vazio ao redor. O silêncio entre nós me deixa agoniada.

— Eu... — Sua voz falha por um momento e ele engole em seco. — Eu não posso simplesmente ir embora. Não depois de tudo.

Mads se aproxima lentamente, como se soubesse que qualquer movimento pode desencadear uma nova confusão. Seus olhos encontram os meus, e por um breve instante, o muro entre nós parece vacilar. Seus dedos tocam meu rosto com uma delicadeza inesperada e dessa vez, eu não sei se consigo afastá-lo.

— Eu sei que te machuquei. — Ele sussurra, quase como se estivesse falando consigo mesmo. — E eu não sei como corrigir isso, mas...

Seu tom de voz falha novamente e ele desvia o olhar. A sala parece se encolher em torno de nós, tornando o espaço ainda mais agonizante. O silêncio se torna um peso, esmagador e inevitável.

— Eu só... — Ele começa, mas não consegue terminar a frase. — Eu só quero que você me diga o que fazer, Elleanor. Coloque um ponto final por mim, porquê eu não consigo fazer isso sozinho.

As palavras estão carregadas de um desespero, são como súplicas e há uma agonia em seu tom que nunca vi antes. Meus olhos se enchem de lágrimas, não pela dor, mas pela confusão que suas palavras geram.

— Eu... — Começo a falar, mas minha voz quebra, eu simplesmente não sei como continuar.

Ele estende a mão para tocar meu rosto mais uma vez, e desta vez, eu não me afasto. O toque é um consolo, mas também um lembrete do quanto tudo entre nós está desmoronando.

— Não sei se posso te perdoar, Madden. — Finalmente, as palavras saem, pesadas e difíceis. — Você nunca sabe o que quer e eu não vou ficar parada vendo você ficar com quem quiser, enquanto tenta me manter trancada esperando pela sua boa vontade.

Minhas mãos vão de encontro com o seu peito e eu o afasto, o vazio na sala é agonizante. Meus olhos se fixam em minhas mãos que continuam trêmulas.

— Só vá embora.

Mads não tem tempo para discutir, porque Ivarsen abre a porta e vem até mim, mas ele se vira e seus olhos focam em Madden

— Você a ouviu, saia daqui.

E ele sai, ele vai embora e no mesmo instante que Ivarsen se vira para mim novamente lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu sinto seus braços envolverem meu corpo em um abraço.

— Estou aqui agora... Você vai ficar bem, pirralha...

Seu tom de voz é calmo e Ivarsen é como um lembrete de que nunca estarei sozinha enquanto os meus irmãos estiverem comigo.

𝐃𝐚𝐫𝐤𝐧𝐞𝐬𝐬 • Mads MoriOnde histórias criam vida. Descubra agora