Elleanor Torrance.

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Dias atuais

THUNDER BAY.
Elleanor pov.

Desde que cheguei em casa, não consigo entender o que estou sentindo; a casa está vazia. Meus pais não estão aqui, e nenhum dos meus irmãos também.

Meus pensamentos não me deixam em paz, e a sensação de que estão escondendo algo de mim é apavorante.

Subi as escadas até o quarto de Gunnar. O quarto está escuro e bagunçado como sempre, mas é tão acolhedor. Sempre foi meu favorito; Gunnar me deixava dormir com ele quando tinha pesadelos. Lembro de todas as noites em que estava encolhida no meio da cama enquanto ele e Octavia dormiam ao meu lado.

Abro todas as gavetas possíveis, minhas mãos tremem tanto que mal consigo segurar as coisas direito.

Tenho a impressão de que estou sendo vigiada desde que os pesadelos voltaram, e não há sensação mais agonizante do que essa.

Depois de revirar o quarto inteiro de cabeça para baixo, encontro um potinho amarelo com pílulas redondas. Estou fora de mim quando abro o pote e coloco uma delas na minha mão.

Sempre briguei com Gunnar, Ivarsen e Octavia por fazerem isso; sequer passou pela minha cabeça que um dia seria eu.

Não penso antes de levar a pílula até minha boca; sinto-a dissolver em minha língua e não demora muito até que não sinto mais meu corpo tremendo.

Me apoio na cama até conseguir me sentar no chão, encostada na parede. A sensação é esquisita; não sinto absolutamente nada no meu corpo. Não faço ideia do que coloquei na boca, mas sei que deve ter sido algo forte.

Fecho meus olhos e quando os abro não faço a menor ideia de quanto tempo se passou; algumas coisas parecem lentas demais e outras rápidas demais.

Me permito fechar os olhos novamente, e os pensamentos de Madden se repetem na minha mente sem parar. Queria matá-lo, queria dizer que o odeio e que nunca mais quero vê-lo na minha vida. Mas tudo isso seria uma mentira.

Abro os olhos e a sensação de ver tudo girando é péssima. Pensei que isso me deixaria calma e faria as sensações desaparecerem, mas a única coisa que sinto é que estou fraca demais para fazer qualquer coisa. E tenho a impressão de que tem alguém me observando.

Me apoio na cama para levantar; preciso trancar a porta do quarto de Gunnar. Não tem como alguém entrar aqui se estiver trancada, mas não consigo chegar até lá. Sequer consigo sair do chão.

Com esforço, tento reunir minhas forças para me levantar, mas meu corpo parece pesar uma tonelada. A sensação de fraqueza é avassaladora e apavorante.

Minha mente está turva, e os pensamentos continuam a rodopiar me deixando agoniada. Tento lembrar o que aconteceu antes de encontrar as pílulas, mas a linha do tempo é tão confusa.

Os olhos fechados trazem um breve alívio, mas logo sou assaltada por flashes de conversas não finalizadas, rostos preocupados e palavras não ditas.

Madden está lá, sua voz ecoando com acusações e verdades que não quero enfrentar. A raiva queima dentro de mim, mas é sufocada pela sensação entorpecente que as pílulas trouxeram.

Agora, mais do que nunca, desejo poder desfazer tudo. Desejo que Gunnar, Ivarsen e Octavia estejam aqui para me acalmar, para me dizer que tudo ficará bem. Mas eles não estão.

As pílulas parecem ter roubado não só minha capacidade de sentir, mas também minha capacidade de raciocinar claramente. As paredes do quarto parecem se fechar ao meu redor, e a luz da lua que entra pela janela faz minha cabeça doer.

Com um esforço tremendo, levanto-me, apoiando-me na cama para buscar meu telefone. Preciso ligar para alguém, preciso de ajuda. Mas minhas mãos ainda estão trêmulas, e o simples ato de digitar um número parece uma tarefa monumental.

Finalmente, após várias tentativas frustradas, consigo discar o número de Gunnar. O telefone chama várias vezes antes de ser atendido.

— Alô? — a voz dele soa distante.

É difícil falar, minhas palavras saem arrastadas e sem sentido.

— Preciso de ajuda. — consigo finalmente dizer, antes de sentir as lágrimas começarem a escorrer pelo meu rosto.

Gunnar responde imediatamente, prometendo vir até mim. Enquanto espero, encolhida no chão do quarto, sinto o alívio preencher o meu corpo por não estar mais sozinha.

Enquanto esperava por Gunnar, o silêncio do quarto ecoava como um túnel, amplificando meus medos e incertezas. Cada batida do relógio na parede parecia um lembrete do tempo perdido por culpa dos meus próprios pensamentos.

Gunnar finalmente chegou, seu rosto tenso e preocupado. Seus olhos, normalmente tão penetrantes, agora refletiam uma mistura de preocupação e desespero ao me ver naquele estado. Ele se aproximou lentamente, seu olhar avermelhado fixo em mim.

— O que aconteceu com você? — Sua voz era suave, mas carregava um peso de urgência.

Tentei explicar, mas as palavras pareciam ficar presas na garganta. Ele não precisou de uma resposta para saber o que eu tinha feito, as gavetas abertas e o frasco derrubado no chão deixava claro o que havia acontecido.

Gunnar queria discutir comigo, eu sabia disso, ele queria brigar e me xingar por ter sido idiota o suficiente para ter feito isso. Mas ele sabia que não era o momento certo, que cada palavra que falasse só me deixaria pior.

Gunnar se ajoelhou ao meu lado, seus braços envolvendo meu corpo trêmulo. Ele me segurou com firmeza, como se pudesse me proteger de todos os males do mundo.

E eu sentia que ele realmente podia.

— Estou aqui agora. — ele murmurou, mais para si mesmo do que para mim.

Eu me agarrei a ele, meu refúgio temporário contra a escuridão que ameaçava me consumir. Seu cheiro familiar me acalmava e eu não me sentia mais desesperada.

Não importa o que aconteça, Gunnar era um lembrete reconfortante de que ainda havia um lugar onde eu pertencia.

𝐃𝐚𝐫𝐤𝐧𝐞𝐬𝐬 • Mads MoriOnde histórias criam vida. Descubra agora