𝐃𝐚𝐫𝐤𝐧𝐞𝐬𝐬 • Mads Mori

Elleanor Torrance.

Dias atuais

THUNDER BAY.
↳ Elleanor pov.

As mãos de Madden seguram minha cintura com uma firmeza que parece tentar conter uma possibilidade de fuga. Estamos em silêncio há tanto tempo que consigo ouvir sua respiração ofegante.

Quando finalmente seus olhos encontram os meus, o tempo parece desacelerar. Mas essa tranquilidade é interrompida por um estrondo ensurdecedor que faz o chão tremer sob nossos pés.

— Deve ser apenas alguém qualquer. Não se preocupe. — Concordo com um aceno de cabeça, embora algo em mim diga que é melhor conferir o que está havendo.

Mads me mantém próxima, seu corpo pressionado contra o meu como se precisasse desesperadamente da minha presença. Sua boca encontra meu pescoço e um arrepio percorre minha pele instantaneamente.

Seus lábios deixam um rastro de beijos na minha pele, sua respiração quente e irregular contrastando com o ar frio ao nosso redor.

Eu poderia ficar assim o tempo todo, mas o calor se torna sufocante e Mads parece compartilhar do mesmo desconforto. Afasto-me lentamente, empurrando a porta do confessionário, e meu coração dispara imediatamente.

O que parecia ser apenas um leve incêndio do lado de fora agora se alastra descontroladamente, envolvendo todo o interior da pequena igreja.

O fogo se alastra pelas velhas cortinas, cobre os bancos de madeira ressequida e ilumina as estátuas religiosas com uma luz sinistra.

Mads agarra minha mão com urgência, seu olhar está sério e escuro, algo que eu não conseguiria explicar de maneira alguma. Sem palavras, ele me guia entre as chamas, cada passo me lembra uma dança perigosa entre o desespero e a necessidade mútua de sobrevivência.

Atravessamos o corredor principal enquanto o calor sufocante nos cerca, cada vez mais perto.

O teto acima de nós geme ameaçadoramente, enviando uma chuva de faíscas em nossa direção. Sinto algo queimar minha pele, mas não temos tempo o suficiente para conferir o que houve.

Finalmente, encontramos uma saída, uma porta lateral semioculta que nos leva a um beco estreito nos fundos da igreja. Lá fora, a noite escura nos envolve como um manto, mas ainda podemos sentir o calor do inferno que deixamos para trás.

Respiramos fundo, ofegantes, nossas mãos ainda entrelaçadas. Olho para Mads, seus olhos refletindo tanto o alívio por estarmos fora de perigo imediato quanto uma intensa emoção que não consigo decifrar completamente.

— O que foi isso tudo? — pergunto, minha voz trêmula, enquanto observamos a fumaça negra se erguer no céu noturno.

Ele olha para mim por um momento, como se estivesse decidindo o que dizer.

— Eu acho que alguém está realmente te perseguindo.

Sinto um calafrio percorrer minha espinha ao ouvir suas palavras. Olho de volta para a igreja em chamas, agora um cenário de destruição e mistério.

Não sei o que está acontecendo, mas sei que esse incidente mudou tudo entre nós. Não podemos mais fingir que somos apenas dois estranhos, porque sei que Mads deixaria o mundo queimar para me salvar.

O medo agora se entrelaça com a atração que sinto por Mads, e não posso evitar pensar que talvez tenhamos desencadeado algo que não podemos controlar. À medida que nos afastamos do caos que deixamos para trás, sinto uma sombra pairando sobre nós, algo que parece nos seguir, aguardando o momento certo para se manifestar novamente.

Assim que subimos na moto, Madden acelera, deixando tudo o que acabou de acontecer para trás. O vento chicoteia minha pele e só abro os olhos quando ele finalmente para.

— Não aconteceu nada naquela igreja! Você não vai abrir a boca. — As palavras de Mads me atingem como um soco, e sinto meu sangue ferver.

— De qual parte você está falando? Da parte em que você me beijou e me segurou como se eu fosse o centro do seu maldito universo, ou da parte em que alguém ateou fogo naquela maldita igreja para nos matar? — Minha voz sai carregada de raiva, ecoando no silêncio tenso entre nós. Vejo Madden passar as mãos pelos cabelos, soltando um suspiro frustrado.

— Pare de agir como uma pirralha, porra! Só não quero que abra a boca sobre nada, Elleanor! — Desço da moto abruptamente, tremendo de raiva que queima em cada fibra do meu ser.

— Sabe de uma coisa?! Você não merece ninguém mesmo. Da próxima vez que me vir desesperada, não ouse me ajudar. Prefiro morrer a ter você ao meu lado.