Elleanor Torrance.

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Dias atuais.

THUNDER BAY.
Elleanor Pov.


Fazem cerca de duas semanas que Gunnar se foi, que ele me deixou sozinha. Não consigo sair do quarto, mais especificamente não consigo sair do quarto que era dele. Chorar e gritar implorando para que meu irmão volte para mim, não adianta, porque eu sei que não vai trazê-lo de volta, mas mesmo assim ainda tento.

Tavi, Ivarsen, Fane e Dag são meus irmãos, e eu andaria pelo fogo por qualquer um deles. Gunnar era o único, no entanto, que eu tinha a certeza de que andaria através do fogo por mim, e eu faria de tudo para ter pelo menos mais cinco minutos com ele.

Eu me sinto uma vadia egoísta; minha família também está sofrendo. Ivarsen está se afundando, mas eu simplesmente não consigo olhar para ninguém. Madden vive em minha casa, não sai mais do lado de Ivarsen como se tivesse medo de que ele planejasse fazer algo contra si mesmo.

Mamãe está péssima, mas seu jeito de lidar com tudo isso foi fugir, assim como meu pai. Eles não souberam lidar e disseram que precisavam viajar a trabalho. Sei que não é culpa deles; eles perderam um filho e não querem ficar em uma casa que contém memórias dele por todo lugar.

Minha casa está em um completo silêncio, e eu sinto que fazem anos que estou sem Gunnar. Eu queria conseguir lembrar do seu cheiro; daria tudo para sentir seus braços me rodeando enquanto ele reclama comigo, dizendo que sou uma "pirralha teimosa do caralho", mas a única lembrança que fica revivendo em minha mente é seu corpo gelado, machucado e seus olhos fechados enquanto eu imploro para que ele pare de brincar.

Quando o cheiro da morte chega aos pulmões, torna-se inconfundível, e eu queria estar no lugar dele. Eu perdi meu irmão, perdi meu melhor amigo e sinto que nunca mais vou ser a mesma de antes.

Se Gunnar soubesse como estou, ele brigaria comigo, falaria que eu não devo abaixar a cabeça por algo assim. Que, se ele não está mais aqui, eu devo brilhar por nós dois, mas eu não consigo; eu simplesmente não consigo sem ele.

Me encolhi na cama, puxando as cobertas para cima do meu corpo, e por um segundo pude jurar sentir o cheiro de Gunnar. Lágrimas escorreram pelas minhas bochechas, e eu afundei meu rosto nos travesseiros. Minutos depois, a porta foi aberta; era Dag, que se sentou na cama e acariciou meu cabelo.

— Podemos conversar? — Sua voz era baixa, e eu queria negar, mas sabia que não podia.

Me sentei, meus olhos encontraram os do meu irmão, que estavam tão vermelhos quanto os meus. Ele se ajeitou ao meu lado, puxando a coberta para cima de si.

— Você precisa sair desse quarto, Nell! Precisa voltar a viver... Eu sei que dói, acredita em mim, eu sei... Mas não quero perder você também. Nossos pais não aguentariam perder mais um filho. Por favor, Nell, eu preciso que você fique bem.

Suas palavras me ferem como facas, porque eu não consigo reagir, não consigo enfrentar o mundo lá fora. No entanto, balanço a cabeça em concordância, buscando a voz que grita dentro de mim há semanas.

— Tudo bem... Mas eu não consigo fazer isso aqui, Dag. — Ele me olha confuso; sua mão segura a minha e ele acaricia.

— Você quer se mudar? — Eu nego, suspirando e o abraçando, sentindo-o me acolher em seus braços.

— Não quero me mudar. Eu quero ir embora! Eu sei, parece egoísmo, mas tudo me lembra ele, Dag. Fala com o papai, me coloca em um internato, me tira de perto disso tudo, por favor...

Minhas palavras são como súplicas e escuto Dag respirar fundo, me abraçando mais forte e afundando sua mão em meu cabelo.

— Tudo bem... Mas prometa que, se precisar de nós, se desistir dessa ideia, você vai voltar para casa. Prometa, Nell! Jure para mim.

Eu odiava jurar, odiava prometer.
Promessas se quebravam.
Juramentos se destruíam.
E minhas orações nunca eram ouvidas.

Da última vez que prometi, que jurei e que implorei em minhas orações, Gunnar foi arrancado de mim.

— Eu juro, Dag, eu juro. — Ele sorriu fraco e deixou um beijo em minha cabeça.

Mas era uma mentira, e eu sabia disso. Esse juramento seria o próximo a se quebrar. Minhas promessas eram sempre amaldiçoadas e nada voltaria a ser como era antes.

𝐃𝐚𝐫𝐤𝐧𝐞𝐬𝐬 • Mads MoriOnde histórias criam vida. Descubra agora