8

291 33 17
                                    


Segredos nunca ganhavam consequências boas. Jaekyung, no entanto, mantinha a atenção no ômega, alvo das frequentes anotações de Jaeyoon. Parou ao final da escada, a mão apoiada no corrimão de madeira polida, o olhar frio sobre a imagem do pai na sala, lendo os documentos das várias pastas. Os dedos rapidamente folheando páginas em que o moreno sabia bem do que se tratava, afinal, aquela casa servia agora como o sombrio esconderijo das pesquisas do terapeuta. Jaekyung suspirou, enojado. Ele sentiu que Coilier era assim, enfeitando segredos com palavras sofisticadas. Logo, se lembrava de que o pai acreditava que o filho alfa não cedeu aos impulsos e que apenas dava atenção a um ômega carente para manter os registros do pai.

Jaeyoon andava satisfeito. Por vezes, Jaekyung invadia o escritório e em meio das gavetas lotadas de pastas, lendo o quanto que o pai anotava sobre o "ômega A" e como sua mente distorcida foi fruto de uma seita, e como esse mesmo ômega desenvolvia sentimentos incestuosos sobre o irmão.

Descendo a escadaria principal, pensou em como o pai colocaria isso em um livro. Sem chance de colocar nas páginas de um best seller que observou a relação incestuosa do filho alfa com um ômega que nem ao menos foi adotado realmente, jamais uma editora saberia que Jaeyoon pediu que Jaekyung continuasse dando atenção às necessidades do ômega traumatizado. Jaekyung observou o jardim, onde Youngmi andava perto das flores, fumando. E só fazia isso quando estava estressada. Não era para menos, já que não podia fazer nada ao ver o ômega que ela queria moldar como perfeito, agora frequentemente andava pela casa usando as camisas largas de Jaekyung. Ela olhou pela porta de vidro e o olhar cansado alcançou o filho. Jaekyung apenas ajeitou a mochila para poder esperar Dan, olhando por cima do ombro. O uniforme ainda marcava bem a cintura do ômega, e riu ao ver os passos rápidos, o menor abraçar seu braço para irem.

Youngmi voltou a fumar, encarando o jardim que se tornou sua maior obsessão, a única coisa que poderia controlar.

O problema para o alfa era que Dan não era o primeiro teste de Jaeyoon e esperava que Dan jamais descobrisse sobre isso. Afinal, Jaekyung sabia que o fato de nunca ter ido a uma terapia fora de casa era o exemplo perfeito que as montanhas de Coilier guardavam mais evidências do que uma cena criminal. Jaeyoon tinha o brilhar nos olhos quando avistava uma vantagem para sua carreira, e assim foi quando percebeu que seu filho alfa tinha problemas de raiva. E toda vez em que andava pela cidade com Dan, apressava os passos para não olhar nas vitrines das livrarias de Coilier, sempre sentindo a raiva fervendo dentro de si, a humilhação acabando com qualquer ânimo e querendo ir para casa. Não aguentava mais olhar nas vitrines o exemplar de "O Alfa e o desenvolvimento do ódio", um infame livro sobre os estudos observados de como a raiva crescia durante a vida de um alfa. Em parte, Jaekyung achou que existia uma razão, mas o tempo ajudou a ver que as sessões com o pai, tudo era estranho.

O fato era que as sessões não melhoravam nada, era o oposto disso.

Afinal, como Jaeyoon escreveria sobre aquilo? Era necessário ver de perto e era mais barato usar alguém que via todo dia. Saiu da casa em passos calmos até a moto, guardando as mochilas no compartimento e assim que se sentou na moto, olhou curioso para Dan. Aquela vivacidade, as bochechas coradas, arqueou as sobrancelhas ao ganhar um beijo no rosto, o olhando sem entender. Carinho era estranho, o alfa franziu o cenho, novamente sentindo os dedos delicados ajeitarem a gravata de seu uniforme.

— Ei, hm... Eu estava pensando em irmos no cais hoje.

— Cais? — Jaekyung franziu o cenho, irritado. — Nem pensar, eu tenho treino e... — Demorou um pouco para notar o que significava. Colegas vinham comentando que o antigo restaurante mudou de endereço. Não era algo ruim já que a comida era péssima, mas significava que o local estava vazio. E por mais que pudessem estar juntos em pequenos momentos, no colégio era ainda difícil achar um lugar onde ninguém acabaria os encontrando, e em casa Youngmi insistia em sempre bater no quarto com um lanche ou dando qualquer desculpa. — Huh. Olhe você, pensando em como ficar sozinho com seu alfa. — Riu, olhando os lábios rosados de Dan. O menor encolheu os ombros, sorrindo timidamente.

Can I call you tonight?Onde histórias criam vida. Descubra agora