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Dan enfim sabia como mexer no computador, já tinha visto o de Jaekyung em Coilier, mas um computador era um conceito estranho. Não havia tecnologia na fazenda, a seita não permitia nada que mostrasse o mundo exterior. Mesmo se tivesse, Dan não teria acesso, foi o ômega a viver em um porão escuro, sem acesso a nada. A maior tecnologia foi a luz da lâmpada trêmula. Em Saint Kenneth, vislumbrava uma vida puramente rural. Tudo muito perto e sufocante. A tela do computador ligada mostrava os poucos ícones na área de trabalho, o ômega se empenhava em fazer o controle de gastos, lista de compras, planilhas de controle. A tela não tinha nenhuma foto como plano de fundo, apenas a imagem padrão. Apesar do acesso à internet, frequentemente se via desanimado para conhecer filmes ou músicas. Era estranho ver aqueles vídeos de músicas, cantoras com corpos expostos, homens fazendo performances para milhares de pessoas. Dan se sentiu como se estivesse novamente nas mãos de um líder de seita, pois não conseguia se acostumar com o mundo de verdade.

As abas sempre abertas eram as planilhas, depois a aba de alguma rede social. Dan em segredo criou uma conta do Instagram. A foto de perfil era o de um pardal, a ave que ele se identificava. Pássaros que deveriam ter liberdade, mas que eram presos em uma gaiola. Não postava nada, seguia as contas das pessoas de Coilier, quase em um apego cego à vida de lá. Queria saber como as coisas estavam sabendo que Jaekyung não contava muita coisa. Dan sabia que Jaekyung era um alfa firme nas próprias opiniões. Então, a única forma de saber o que acontecia era literalmente olhar as postagens, viu as fotos de Jaeyoon em uma palestra, Youngmi em um evento beneficente, sempre vestida com longos vestidos de gala e cabelos perfeitamente penteados cheios de adornos dourados. Viu as fotos de Heesung, e seguia a conta de Jaekyung, embora não existissem muitas postagens.

Desceu o olhar para a aba do Skype, mas naquele horário Jaekyung estava em aula.

Encolheu os ombros, suspirando ao saber que devia ajudar no bar. Era só o que tinha a fazer. Levantou-se da cadeira, olhando as próprias roupas velhas. A camisa de mangas compridas, o tecido preto um tanto largo e a calça jeans desbotada. Respirando profundamente, assentiu antes de sair do quarto, não perdeu tempo penteando os cabelos, desceu a velha escadaria até o bar no andar inferior. A mãe esfregava o pano no balcão de carvalho enquanto o rádio tocava uma música antiga. Para um cidade do interior, o lugar parecia mais sincero do que a luxuosa Coilier. Saint Kenneth acordava junto de mentes que não precisavam se esforçar para manter uma boa imagem. Não existia nada elitista naquela pequena cidade, e assim que desceu as escadas, algumas mesas já tinham clientes. Homens que mesmo cedo estavam ali para beber, e era uma bela desculpa como agiam como se estavam ali por causa da torta que Chohee fazia.

— Querido, pode servir as mesas 6 e 9? — Ela dizia, colocando as garrafas no balcão — E pode tirar as roupas do varal? Depois que terminar, pode fazer algumas entregas.

Dan não disse nada. Não havia almoçado, nem tomado café da manhã. Sabia que ela deixava tudo na geladeira, mas o ômega só remexia as coisas no prato, fingindo ter comido. Não tinha fome. E boa parte do tempo se mantinha em silêncio. Coçou o adesivo sobre a marca, forçando um sorriso ao pegar as bebidas, servindo as mesas. Os alfas o olhavam, como faziam todos os dias. Olhares nada discretos e por essa razão a maior parte do trabalho eram tarefas da casa ou entregas, Chohee viu como vez ou outra um alfa fedendo a bebida olhando Dan, e rapidamente o mandava fazer alguma tarefa mais segura.

— Agora vá fazer suas tarefas, huh?

Dan concordou, atravessando entre as mesas até o pequeno corredor, as mãos arrastando a porta de vidro tendo a visão da pequena área externa. A grama seca não era algo que ele admirava, não eram os vastos jardins de Youngmi, e nada florescia ali. Parou perto do muro de pedra, na pouca terra em que tentou plantar algumas flores, mas a terra era tão seca que se sentiu ridículo de tentar. Encarou a tentativa de jardim, abaixou, inclinando o regador perto do muro, a terra mudava de cor absorvendo a água, apenas isso. As sementes de girassol não cresceriam, ele sabia disso. Encarou a terra por alguns instantes antes de apoiar as mãos nos joelhos, erguendo o corpo e mantendo o próprio silêncio ao ver o varal e o balde para as roupas secas.

Can I call you tonight?Onde histórias criam vida. Descubra agora