Can I call you tonight?

Capítulo 9

Jaekyung passou a noite em claro, focado na tela do computador, mas as abas de pesquisa não serviram para muita coisa. Os fóruns não se mostravam uma fonte confiável e era a única, já que a investigação sobre o pai de Dan se manteve em segredo de justiça. O alfa acreditava também que era impossível que mantivessem tudo sob sigilo, em fóruns, as íris escuras leram diversos relatos, sem saber quem estaria falando a verdade. Era a internet, existia quem inventava coisas para ganhar atenção. Entretanto, a atenção se voltava a um fórum em específico. A leitura se estendia ao que relia os relatos de um usuário anônimo alegando ser morador de uma pequena cidade e que já conheceu a dupla de alfas que fazia compras na cidade, de tempos em tempos.

Anotando cada detalhe, Jaekyung mantinha a concentração como quem estudava para uma prova. Não era um desafio, o moreno sempre foi motivo da curiosidade do pai por conta disso. Embora os Joo contassem mentiras sobre serem a família perfeita, algo que não era um exagero seria que Jaekyung era especial. Quando outros meninos tinham dificuldade de empilhar blocos formando palavras desconexas, Jaekyung era aquele pequeno alfa que encarava os cubos como um desafio lógico, formando palavras que ouvia. Tudo era fácil demais para Joo Jaekyung.

Piscou lentamente revisando as anotações, novamente erguendo o rosto a encarar o fórum, e firmando o olhar com a determinação fria. Quando menor, foi um pesar horrível em seu peito quando o pai aplaudia quando se saía bem em um teste. Exceto que não eram testes da escola, não, no primário foi afastado e levado para a frente dos amigos do pai, todos querendo presenciar o que era o filho genial de Jaeyoon. Testes de inteligência, de QI, desafios lógicos. Empilharam tudo e sorriam com o pequeno Jaekyung fazendo no menor tempo possível, e tempos depois, pensaria se isso foi determinante. Talvez se tivesse convivido mais com outras crianças, quem sabe? Talvez não fosse tão estranho e frio.

Mas Jaekyung aprendeu a amar isso. A ausência do pai alimentou a raiva, tendo de encarar a vida como uma peça de teatro. Afinal, atuavam bem como uma família perfeita. Assim, Jaekyung sempre teve um gosto profundo sobre estragar tudo o que o pai amava. Quando criança, notou que isso era relativamente mais fácil e divertido. Não era como uma vingança, na qual ele pensava como algo tolo, era uma vingança diária, em parcelas deliciosamente construídas. Toda vez que o pai o olhava como um objeto de estudo, Jaekyung destruía suas coisas, tirava tudo de lugar para que o trabalho fosse mil vezes mais difícil.

Atrapalhava sessões que Jaeyoon fazia em casa, e Jaekyung amava trocar as anotações do pai para que este prescrevesse remédios errados, ou destruía folhas fazendo desenhos infantis com a desculpa de estar se expressando. Mais tarde, encarou como uma humilhação vil Jaeyoon escrever um livro sobre os problemas de raiva. E por ter sido um rato de laboratório do pai, acabaria com tudo o que ele tinha. Entretanto, para destruir o pai, não existia tanto mistério já que o pai amava sua reputação e luxo.

Olhou por cima do ombro, observando a respiração calma de Dan na cama, os cobertores o rodeando e o transformando em um pequeno ser indefeso.

Voltando para as anotações, pensou em como seria se entendesse melhor sobre a vida de Dan antes de chegar para aquela casa. Ele admitiu, o intrigava como uma pessoa maluca poderia ser o líder de uma seita, por mais que julgasse os seguidores em pessoas que não eram fortes o bastante para o mundo real.

Mai cedo naquela noite, escutou o pai ao telefone, pedindo favores. Ao que parecia, a mulher que perseguiu Dan estava no hospital, internada por conta de como bateu a cabeça na calçada e a polícia a supervisionava. Jaekyung riu disso, mais curioso sobre o que as pastas do pai poderiam conter. Afinal, a investigação não era pequena. E os relatos do usuário "ZeroZero" dizia que a dupla de alfas tinha vestes longas e neutras, sempre com uma aparência suja e barbas que os deixavam mais velhos. Crispou o cenho, encarando o caderno e as anotações, circulando os fatos. Seja lá o que acontecia dentro da fazenda, haviam um conflito maior de interesses.