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Dan fungou baixinho, sem saber como aquilo seria. A mala sobre a cama o lembrou de que nada nunca mais seria o mesmo. Dobrou mais uma camisa, sentindo a maciez do tecido antes de colocar entre as demais roupas. Diferente do planejado, não seriam tantas malas. Em parte, por nunca ter pedido muitas coisas como morador daquela casa. Era isso o que ele era, e se convencia de que nunca foi parte da família, encarou as camisas, as roupas quentes e outras mais leves. Encolheu os ombros com a memória vívida da noite passada. Por ser a última noite em Coilier, acreditou que seria diferente. Mas não foi, pediram uma pizza e todos se sentaram à mesa como se nada estivesse acontecendo. Por mais que a pizza fosse apetitosa, Dan encarou a fatia como uma confirmação amarga.

Afinal, jantares da família Joo eram repletos dos mais diversos pratos, e dessa vez, ninguém se dignou a cozinhar. Apenas pediram uma pizza e o silêncio do jantar pairava em meio da atmosfera pesada.

Nem mesmo a noite foi silenciosa, não quando Jaeyoon obrigou Dan a ficar em outro quarto, sem chance de que Jaekyung pudesse fugir com o ômega. Então, a noite terminou com o som da porta sendo trancada do lado de fora, os gritos e discussões dele com o filho alfa. As últimas lembranças em Coilier deveriam ser uma despedida menos amarga, e não o fato de Dan suar frio encarando a porta trancada. A mente mais uma vez contemplava se aquilo era de propósito. Não teve escolha senão pensar que Jaeyoon não sabia sobre o medo do escuro, mas no fundo, entendia que o terapeuta poderia ter cogitado isso. Se sabia sobre a investigação, então era possível que juntasse os pontos.

Dan não gostava de estar no escuro. Geralmente Jaekyung deixava a luminária acesa, mas preso ali, Jaeyoon não deixou nenhuma luminária, nada. E pior, a janela também estava trancada, deixando que apenas tivesse companhia da luz da lua. Para a última noite, pareceu que a sinceridade enfim era palpável e que o alfa estava certo. Jaeyoon queria Dan ali, só enquanto fosse útil.

E agora que não tinha serventia, seria jogado fora.

Logo que surgiu os primeiros raios da manhã, não foi como nos demais dias. A porta foi destrancada e Dan recebeu o aviso de um dos funcionários da casa que ele deveria fazer as malas. Nada da hora do café da manhã onde Youngmi ajeitava seus cabelos ou Jaeyoon desejava um bom dia de aula, assim que o ômega viu que os funcionários que destrancaram a porta. A tristeza cresceu ao notar que Jaeyoon tinha certa pressa para acabar com aquele problema, sem se importar pelo quão forte era o elo de um ômega marcado. Agora, Dan olhava a mala aberta, vendo o que poderia levar. Por algum motivo, não achava que podia levar os livros e outras coisas que havia ganhado, apenas as roupas. Jaeyoon não dissera que ele não podia levar alguma coisa, mas achou que seria melhor não perguntar. Respirou profundamente, secando as lágrimas na manga do moletom preto e ajeitou as roupas em um fraco sorriso.

Jaekyung pegou outro moletom, o dobrando lentamente.

— Ele falou para onde você vai?

Dan negou.

— É meio irônico... Dizem que qualquer lugar pode ser um lar, mas eu ficaria menos triste se soubesse se é muito longe daqui. — Dan pegou o moletom dobrado, admirando o tecido quase felpudo e branco, uma cor tão bela e inocente que não combinava com nada do que aguardava. O ômega não se sentia bonito, nem inocente, muito menos puro. — Acho que nem lembro do rosto dela. Sei que eu devia ficar feliz em ver minha mãe, mas... Tudo que lembro dela era dela me ensinando a rezar. E depois, ela dentro de um veículo lotado, dizendo que eu era especial.

— É só até você ter a maioridade. Depois, não precisará mais dela. — Jaekyung dissera como algo óbvio. Naturalmente, os passos percorreram o quarto silencioso, abrindo o armário e cautelosamente dobrou um casaco acinzentado e grande, o colocando entre as roupas da mala, escondendo ao colocar outras por cima. — Você precisa de algo meu. — O alfa era otimista, ao menos para isso. Dan sorriu sem perceber, achando graça de ele pensar tão seriamente que o acharia não importava o que fosse preciso, Dan entendia que aquilo era complicado.

Can I call you tonight?Onde histórias criam vida. Descubra agora