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“Você gostou?”, perguntou a mulher de preto num sussurro, enquanto vocês comiam cara a cara, como sempre, esquecendo aquele momento tenso na oficina. Tenso? Não parecia. Estranho? Muito estranho.

“Sim... É uma delícia”, você disse com um sorriso sincero, limpando-se com o guardanapo. Você ouviu aquele som novamente, semelhante ao riso de uma criança.

“Adicionei mais pimenta, sei que você gosta”, ela disse, olhando agora para o prato, evitando seu olhar.

“Bom, sim, eu gosto de comida apimentada... Como você sabia?” Você perguntou, começando a se sentir confortável nessas situações, poderia ser por causa daquele beijo de antes?

“Intuição...” Donna suspirou, com um tom que lhe dizia que vinha de uma boca sorridente, uma que você não podia ver e sobre a qual estava cada vez mais curioso.

Houve mais alguns momentos de silêncio constrangedor, ou confortável, dependendo de como você encarasse.

“Eu... eu também perdi meus pais quando eu era uma garotinha”, ela disse, fazendo você engasgar com essas palavras inesperadas.

“Ah, sinto muito”, você disse, sabendo que era uma ocasião para ter todos os seus sentidos focados na conversa.

“Eles...” Ela continuou, com o garfo tremendo perigosamente em sua mão, prevendo outro momento de crise.

“Não, por favor, Donna, você não precisa me contar”, você disse, alertada pelo que estava por vir.

“Eu... eu quero fazer isso... Parece justo para mim,” a mulher disse, controlando sua respiração e seu tremor. Você, que já estava pronta para se levantar, sentou-se novamente, expectante e um pouco nervosa.

“Ok, ok”, você disse com medo, procurando Angie com os olhos.

A boneca parecia estar muito entretida com aquela bola. Angie estava aprontando alguma, porque quando você olhava para ela, ela se virava com uma expressão infantil.

“Eles pularam a cachoeira”, disse Donna, reprimindo um soluço.

Você não sabia o que dizer àquela informação horrível. Você também não queria saber. Isso forneceu outra razão pela qual ela havia perdido a sanidade.

“Isso é horrível”, você disse, inseguro sobre a reação dela.

Com um estrondo alto, fazendo os copos balançarem, a mulher de preto bateu na mesa com raiva, fazendo você recuar.

“Eles me deixaram sozinha!”, ela gritou com a voz quebrada, derivando aquela fúria em um grito mais calmo do que na noite anterior, mas um grito mesmo assim.

Você se levantou, segurando as mãos dela novamente, com medo de que os golpes continuassem e ela se machucasse. Você não queria isso, por algum motivo, você não queria.

“Donna, isso, isso é passado... Você, você não está sozinha... Você tem Angie... Você tem a mim”, você disse, desatando a chorar de coração partido.

Em segundos, sua respiração relaxou.

“Sinto muito,” ela disse se desculpando por sua atitude, por ter perdido o controle novamente. Você assentiu, soltando gentilmente as mãos dela.

“Não se preocupe. Está tudo bem,” você disse, indo embora quando ela se levantou novamente, colocando seu véu no caso de ele ter se movido o suficiente para descobrir seu rosto.

“Eu vou... eu vou pegar isso...” A senhora murmurou num tom quase inaudível, aquele com o qual você estava mais acostumado.

“Você quer que eu te ajude?” Você perguntou educadamente.

The Hell I want to stay inOnde histórias criam vida. Descubra agora