Passo a passo

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Apesar de ser uma conversa íntima e importante, nada mudou desde aquele dia. As semanas passaram e os beijos e abraços continuaram sendo a parte mais importante do dia. Você não queria mais pensar nisso, não queria pensar naquela pobre moça, sua filha. Você se limitou a aproveitar cada vez que via sua dama sair de sua oficina sem o véu, a sentir arrepios com aqueles sussurros sugestivos dela, a se deixar amar, a amá-la de verdade.

E lá estava você, como todas as tardes, lendo com ela em absoluto silêncio, com olhares e carícias ocasionais.

Você se aninhou um pouco mais perto, sem perder aquela necessidade cada vez maior de estar bem perto do corpo dela, perto demais. Você havia prometido a ela que a deixaria em paz, que ela seguiria em frente enquanto estivesse pronta. Mas Donna ainda era extremamente tímida, ela nunca avançaria sozinha, ela precisava de um pouco da Eveline impetuosa e impaciente.

“O que foi, tesoro ? Você está se mexendo muito”, ela sussurrou, divertida, olhando para você pelo canto do olho com aquele sorriso que fazia você querer continuar se mexendo, colocar a mão mais perto da perna dela.

“Desculpe”, você disse com um sorriso inocente, que escondia a realidade dos seus pensamentos lascivos, a incapacidade que você tinha à noite de controlar suas mãos para não descer pelo seu corpo na solidão, imaginando aquela linda mulher cobrindo cada centímetro da sua pele.

“Você está entediado, meu amor? Podemos fazer outra coisa se você quiser,” ela disse a você com uma risada sedutora, inocente ao mesmo tempo. Você balançou a cabeça, uma ideia perigosa em sua mente.

“Sim, sim, vamos jogar cartas!” Angie gritou, ausente até aquele momento. Você gemeu com a aparição repentina dela.

“Angie...” Você suspirou, balançando a cabeça. Não, aquela boneca impertinente não fazia parte dos seus planos malignos.

“Vamos brincar, por favor, por favor”, implorou a boneca, subindo no sofá, fazendo com que você tivesse que se afastar de sua amada.

“Agora não, Angie, estamos lendo”, você disse com um tom autoritário. Por mais estranho que parecesse para você, o aumento considerável em sua confiança com a moça cobrou seu preço da boneca dela, tornando Angie respeitosa e até um pouco mais dócil.

“Você disse que estava ficando entediada...” ela protestou como uma garotinha. Donna parou de ler, observando a conversa atentamente.

“Bem, não. Eu não disse isso em nenhum momento”, você disse, desafiando o boneco com seu olhar.

“Bem, é o que parece, Eveline, sua idiota”, disse Angie presunçosamente, provocando uma risada suave de sua dona, que se limitou a olhar para você.

“Angie,” a moça de preto disse agora. “Pare de incomodar Eveline, nós vamos brincar daqui a pouco, ok?” Ela disse, fazendo a boneca assentir desconfiada.

O relacionamento entre Donna e Angie era digno de estudo. Embora Donna pudesse controlá-la, silenciá-la sempre que quisesse, ela deixava uma certa liberdade para Angie, como se todos aqueles anos ela tivesse precisado desesperadamente da falsa ilusão de que não estava terrivelmente sozinha. Isso era fascinante, mas dolorosamente triste.

“Desde que vocês se beijaram, vocês estão chatos”, disse Angie, sentando-se no sofá e cruzando os braços.

Donna olhou para vocês e vocês dois sorriram conscientemente, como se aquela boneca fosse realmente algum tipo de sobrinha ou irmãzinha da família. Sim, daquela pequena família que vocês encontraram por acaso e da qual não queriam se separar.

A boneca, com um suspiro irritado, levantou-se do sofá, sob o olhar atento de sua dona. Não houve mais comentários ou reclamações, ela agiu de uma forma estranha, mas não era a primeira vez que você a via.

The Hell I want to stay inOnde histórias criam vida. Descubra agora