Quatro ou cinco

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Phillip

Voltei para minha casa, seus jardins continuam belos e verdejantes, porém Romney Hall não me traz boas recordações. Suas paredes pintadas em tons claros de amarelo, ao inverso de me dar conforto e aconchego, me parecem ainda mais melancólicas.

Por um momento, senti falta de Aubrey Hall, na verdade, por um momento senti falta de Eloise.

Subi aquelas escadas e fui muito bem recebido por meu fiel mordomo.

— Sir Phillip! O senhor já está de volta? Pensei que fosse passar a temporada longe...

— Sim Gunning, os planos mudaram um pouco e acabei retornando mais cedo.
— As crianças estão bem? — O questionei e antes que Gunning pudesse me responder, fui atingido em cheio na boca do estômago, perdendo o ar dos pulmões pelo impacto.

— Tio Phillip! O senhor está de volta!

Amanda me abraçou forte, cheguei a dar um passo para trás ao cambalear. Tento ser o tio que eles merecem, mas confesso que para mim é um pouco difícil receber essas demonstrações de afeto, que aumentaram ainda mais depois da morte do meu irmão. Eles queriam e precisavam de um pai e de uma mãe. Porém, para mim foi desafiador ter de aceitar que estava fadado à criar os filhos de uma mulher que me enganou e do meu próprio irmão.
Era muito para digerir.

Então, deixei as crianças aos cuidados de minha tia Olivia, enquanto tirei um tempo para espairecer e clarear a mente. Agora, acredito eu, que não tenha sido uma boa ideia. Porque continuo perturbado e com os pensamentos ainda mais confusos.

Apesar de tudo, e apesar de todas as circunstâncias, Amanda e Oliver são crianças formidáveis e sempre acabam arrancando o melhor de mim. No fundo do meu coração, eu os amo e quero ser o melhor pai que eles poderiam ter, além do meu irmão, é claro.

— Oi pequena! Como você está?

— Tio Phillip, já não sou pequena... Em breve farei nove anos e logo mais, farei meu debute.

Amanda era uma garota à frente do seu tempo, e já estava virando uma moça. Já estou me preparando para ter meus cabelos grisalhos de preocupação pelas suas travessuras futuras.

— Tão nova e já pensando em debute Amanda? Não, não, não! Ainda vai demorar uns bons anos!

— Não seja chato tio Phillip! Depois que me casar, eu vou voltar aqui. Às vezes. — Concluiu aos risinhos.

— Olha só! Mas a senhorita está demais hein? Onde está o seu irmão? Queria saber o que ele pensa disso...

— Oliver está fazendo seu dever de casa, a governanta lhe passou um monte de tarefas. Quem mandou gostar de línguas estrangeiras?
Além do mais, temos a mesma idade tio Phillip, Oliver não manda em mim.

Céus! Essa menina vai me dar tanto trabalho, nem vou ficar pensando nisso, vai que eu atraio essas coisas...

_______

Toc... Toc... — Bati na porta do quarto de Ol.

— Pode entrar.

— Quem é o meu garoto?

— Tio Phillip! Que saudade! — O garoto abriu um largo sorriso ao me fitar.

— Também estava com muitas saudades de vocês!

— O senhor sumiu! Pensei que não fosse mais voltar...

— É claro que eu ia voltar! Como poderia ficar sem minhas pessoas favoritas?

— Eu sou uma pessoa favorita? — Oliver é doce demais!

— Mas é claro que é! — Pausei ao reparar uma alegria genuína em seus olhinhos. — E o que está fazendo aí? — Reparei em seus cadernos que estavam dispostos encima da cama. — Hmm está estudando francês, italiano e espanhol?

Dançando na chuva - PhiloiseOnde histórias criam vida. Descubra agora