5- Olhos que Falham (Dimitri)

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(Embora a solidão sempre tenha sido minha amiga

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(Embora a solidão sempre tenha sido minha amiga.)
Backstreet Boys - As Long As You Love Me

As cores na tela parecem ganhar vida à medida que continuo pintando e a noite avança. Já passa das oito, e as paredes do pequeno apartamento de artes que aluguei com o último dinheiro que me restava estão impregnadas com o cheiro de tinta fresca. O silêncio da noite é quebrado apenas pelo som suave do pincel e dos meus dedos ásperos roçando a tela, criando traços que desenham uma obsessão.

Os olhos de Valência.

Aqueles malditos olhos.

Os olhos de Valência me observam da pintura.

Olhos que não saem da minha cabeça desde o primeiro momento em que os encontrei.

Cintilantes, profundos, com um toque de mistério que me atraiu como um imã desde o início. É quase uma tortura não ter esses olhos na minha realidade, me encarando enquanto eu me perco nesse trabalho incessante.

Apesar de ter passado o dia com ela hoje, eu não tive tanto tempo assim para aproveitar os seus olhos, mas tive a oportunidade de ouvir aquela voz me mandando fazer várias poses, ou sua risada quando eu ficava confuso sobre algo e ela parava para explicar. Suas bochechas ganhavam um vermelho lindo, e o jeito como ela pulava quando capturava uma pose boa e ficava toda animada... Em uma dessas vezes, até um abraço apertado eu consegui ganhar dela.

Eu senti a quentura da sua pele, seus seios tocando em mim, seus braços em volta do meu pescoço, enquanto minhas mãos apertavam fortemente a sua cintura de um jeito que não queria mais soltar.

E eu lhes digo que realmente eu não queria.

Minhas mãos estão sujas, uma mistura de vermelho e marrom que, de algum modo, parece capturar a intensidade que sempre sinto quando penso nela. O rosto provavelmente não está muito melhor - já posso imaginar as manchas de tinta que colei ao longo do rosto ao passar as mãos cansadas.

Dou um passo para trás, admirando a pintura. É a quinta ou sexta que faço dela, mas essa parece a mais real, a mais próxima de como eu realmente a vejo. O coração bate acelerado, uma sensação quase infantil de orgulho ao perceber que consegui capturar o olhar dela de forma tão perfeita, mas também um peso. Como se a realidade se infiltrasse nas cores e lembrasse que, por mais que eu pinte, ela ainda está distante, intocável.

Ah, Cia, você me deixa doido.

Coloco o pincel de lado e limpo as mãos com um pano que está mais sujo do que deveria. O apartamento está mergulhado em um caos organizado; pincéis espalhados, potes de tinta abertos, e algumas telas encostadas nas paredes, todas contendo fragmentos dela.

Valência, sempre Valência.

Quando pego o celular para ver as horas, percebo as notificações não lidas. Três mensagens da enfermeira da minha mãe. Meu coração dá um salto desconfortável, como se a tranquilidade que senti enquanto pintava fosse arrancada brutalmente.

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