As Horas

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Nós terminamos, ainda que eu ainda quisesse algo. Estava voltando para casa até que passei por uma placa pequenina e chamativa, amarela, que dizia: "retorne". Eu chorei um pouco. Depois disso saí com os meninos, conhecemos um restaurante de comida grega depois, quebrei um prato grego com uma cor branca meio grega e um tamanho de prato meio grego enquanto ouvia uma música meio grega, de fundo e enquanto o garçom meio grego dizia: "vamos, sem medo!", como a quem quisesse me encorajar a sujar o chão que ele mesmo limpou, horas antes. Chorei mais quebrando o prato. Minha amiga diria que é bom colocar para fora, que preciso entender melhor meus mecanismos e esta coisa toda psicologicamente saudável e saudavelmente psicológica. Estou insistindo em acreditar que foi o desabafo da placa, só que horas depois, em atraso, como se o fuso horário entre o caminho da minha casa e o restaurante estivessem em divergência e, apenas quando cheguei, se acertou. Como se o fuso horário do amor estivesse errado ou como se eu não estivesse adaptado ao fuso horário do amor. No meio desta coisa toda, acho que acabamos nos apaixonando tão perdidamente que esquecemos de olhar as horas. E está tudo bem porquê quando a gente ama a gente esquece de tudo mesmo, e não precisa de ver as horas quando a gente ama. Ora, o sol é o dia e a lua é a noite – o resto, é conversa, o resto não interessa. Mas de algum jeito foi ficando tarde e os joelhos cansaram-se e não houve cadeira nenhuma para se escorar e as conversas ficaram poucas e resolvemos, de supetão, que era conveniente olhar as horas. Querida, que péssima ideia foi esta? Por que olhamos o relógio?O seu marca 20:00 e sempre é tarde demais.

Antes Tarde Do Que Mais Tarde AindaOnde histórias criam vida. Descubra agora