Você mal sabe que quando pedi para sair contigo, queria, na verdade, pedir para casar. Sair mesmo eu saio sozinho, de fininho, sem ninguém saber, nem suspeitar. Posso caminhar tranquilamente por qualquer canto, desde que meus pés possam tocar a terra, em qualquer momento durante a caminhada. Devo andar de mãos dadas apenas com você, porém, já que o amor é grande demais para encaixar em outras mãos; a boca é macia demais para querer qualquer outro gosto que não o teu. Exijo-me muito até, devo confessar, já que para mim nada basta se não for contigo – exceto sair e caminhar. Posso caminhar sozinho, tranquilamente, navegar qualquer horizonte descoberto, confrontar qualquer medo e inconsistência pessoal, desde que seja às 17:30 e o sol esteja se pondo – deve ser às 17:30 mesmo, porquê às 18h te encontro para sair, com este teu corpo todo perfumado e estes olhos tão pequeninos, esta boca tão enorme e doce, e este anseio de amar distante sempre, por quê nenhuma proximidade é o suficiente e nunca será. Convém assim viver, infelizmente: resignados de que o abraço é o mais próximo que temos de sermos um só, iludindo-nos à medida que o sol se põe, e as mãos se tocam enquanto as bocas conversam, sem precisar falar mas querendo dizer, com certa modéstia, que se eu quero pedir para casar, tu queres ser pedida por mim, com pressa para que não haja vela para ser impedida, dizer que sim; que claro que sim. E sei que sim, o melhor de tudo é que sei que sim.
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Antes Tarde Do Que Mais Tarde Ainda
Poésiepoesias para guardar na gaveta ou no peito