Eu tenho direito de chorar por todas as vezes que lhe fiz mal?
E como deve-se fazê-lo, afinal? Sei escrever crônica, poesia, carta, recado, só não sei chorar - como devo fazer? É justo lhe perguntar?
Devo fazer(chorar) sentado? De pernas pro ar ou firmes ao chão? Devo ser firme fazendo? E as minhas mãos, afinal? Onde deverão ficar? Posso escorar no braço do sofá ou nas cordinhas de um balanço de praça - mas, - se é justo questionar - o que devo fazer com os cotovelos?Veja: tenho vontade de chorar por tudo o que lhe fiz, mas não sei fazê-lo. Eu posso? Você me perdoa se eu chorar por ter sido perdoado pelos meus erros descabidos? Você deixa que eu tente, ao menos, chorar, por todas as vezes que lhe fiz mal?
A abundância de perguntas é a mesma abundância de lágrimas e erros e perdões e palavras. Todavia eu só preciso chorar um pouco. Um pouquinho também pode servir. Preciso alimentar meu egoísmo emocional, dizer a mim(chorando) que devo sofrer por ter lhe feito sofrer também e, resignado então, ficar em paz. Escrever algum parágrafo ou outro - sobre amor ou saudade - e seguir a vida. Mas, agora, preciso chorar. Preciso por puro egoísmo emocional, declaro. Eu tenho o direito de chorar por todas as vezes que lhe fiz mal?
Não faltaria àgua para lavar o quintal.
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Antes Tarde Do Que Mais Tarde Ainda
Puisipoesias para guardar na gaveta ou no peito