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A vida de S/n Guimarães na Turquia parecia um sonho realizado. Médica renomada, especializada em esportes, ela vivia em Istambul e mantinha um relacionamento com a talentosa jogadora de vôlei Hande Baladin. Parecia a combinação perfeita: duas estrelas em suas respectivas áreas, unidas pelo amor e pela paixão pelo esporte.

Mas a realidade era bem diferente. O relacionamento com Hande havia se tornado desgastante. Entre as viagens constantes, os compromissos profissionais e as diferenças culturais, o amor se perdeu.

- Você nunca tem tempo para mim, Hande!.- exclamou S/n, visivelmente irritada.
- Estou cansada de sempre ser a última na sua lista de prioridades.- passa as mãos com força no rosto.

- E você acha que é fácil para mim?-  rebateu Hande.
- Você sabia como minha vida era quando começamos isso. Eu não posso simplesmente abandonar tudo por você! - elas ficam em silêncio.

As discussões frequentes e a falta de tempo para resolver as questões pessoais culminaram em um término doloroso. S/n se viu sozinha em um país estrangeiro, onde poucos entendiam sua língua e seus sentimentos.
Quando o convite para acompanhar a Seleção Brasileira de Vôlei Feminino como médica chegou, foi como uma luz no fim do túnel. Gabriela, sua irmã e capitã da seleção, sabia exatamente o que S/n precisava: um recomeço. Saquarema era o lugar ideal para isso, onde poderia estar cercada de pessoas queridas e, quem sabe, encontrar novas motivações.

Ao chegar ao centro de treinamento, S/n exibia uma pose de mulher forte e implacável. Suas expressões duras e o olhar penetrante intimidavam, mas apenas Gabi e Carolana, seu ex-caso, conheciam a verdadeira S/n: uma mulher sensível, dedicada e profundamente afetada pelos recentes eventos.
Enquanto isso, Thaisa Daher, uma das jogadoras mais experientes da seleção, também estava em um momento de transição. Em busca do ouro pela terceira vez, a atleta de 36 anos vinha de um término de relacionamento recente. As dificuldades pessoais não abalavam sua determinação em conquistar mais um título olímpico, mas a solidão era uma sombra constante em sua vida.

Desde que conhecera S/n, Thaisa sempre a olhou de uma forma diferente. Talvez fosse a inteligência brilhante ou a paixão evidente pela medicina e pelo esporte, mas algo em S/n despertava uma curiosidade especial em Thaisa. Observando-a agora, ao longe, percebeu a mudança em sua expressão e postura. A S/n que conhecera antes parecia mais frágil, porém, a nova versão exibia uma força que Thaisa admirava profundamente.

- Minha princesa! Seja bem-vinda de volta! - Gabi fala enquanto corre para abraçar a irmã.

- Minha linda!  Estava com saudades.-  respondeu S/n, retribuindo o abraço com um sorriso sincero, embora um pouco cansado. Carolana se aproximou um pouco mais tímida, mas com um sorriso amigável

- Bom te ver de novo, S/n. - toca o braço da médica.
- Como estão as coisas?

- Estão bem, Carol. - seu tom de voz é suave. Thaisa, observando a interação de longe, decidiu se aproximar.

-  Olá, S/n. Bem-vinda de volta. Espero que essa temporada aqui seja boa para você, de verdade. - abraça meio sem jeito a médica.

- Obrigada, Thaisa. Tenho certeza que será.- respondeu S/n, sentindo um calor inesperado no olhar acolhedor da jogadora.

A preparação para as Olimpíadas estava apenas começando, mas para S/n e Thaisa, parecia ser o início de algo novo. As dores do passado ainda eram recentes, mas a proximidade da competição e a convivência diária prometiam trazer novas emoções e desafios. Talvez, juntas, pudessem encontrar não apenas a vitória nos jogos, mas também a cura para seus corações machucados.
Alguns dias se passaram desde a chegada de S/n ao centro de treinamento em Saquarema. A rotina intensa de preparação para as Olimpíadas estava a todo vapor, e a médica logo se viu envolvida em várias tarefas. Em um desses dias, S/n estava analisando alguns exames de Thaisa Daher. O tornozelo da jogadora vinha incomodando, e isso não era bom sinal.

- Thaisa, você precisa descansar um pouco mais.-  disse S/n enquanto examinava as imagens de ressonância magnética.
-Esse inchaço pode piorar se você continuar forçando assim.- olha para a central que faz uma careta.

- Eu sei, mas a gente está tão perto das Olimpíadas, S/n. Não posso parar agora - respondeu Thaisa, preocupada. O fisioterapeuta da seleção, Fernandinho, entrou na sala.

- Precisamos cuidar disso imediatamente. Se for necessário, você vai ter que reduzir a carga de treinos por alguns dias.

- Eu prometo que vamos dar um jeito nisso, Thaisa.- disse S/n, olhando firme para a jogadora.
-Vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para que você esteja 100% nos jogos, não fica preocupada.

Mais tarde, durante uma pausa, S/n encontrou Carolana no corredor. A tensão entre as duas era palpável, mesmo que tentassem manter a cordialidade.

- Oi, S/n. Como estão as coisas? perguntou Carol, forçando um sorriso.

- Estão bem, Carol. E você, como está? respondeu S/n, sem demonstrar muito interesse.

- Ah, estou bem. A vida casada é ótima, sabe? -  disse Carol, tentando parecer casual.
- Mas, sabe, às vezes eu penso na gente, no que tivemos.- fala um pouco mais baixo que o normal.

- Carol, isso já ficou no passado. Estamos em momentos diferentes agora.-
disse S/n, com um tom firme.
- Eu estou focada no meu trabalho e no que realmente importa, fora que você está casada, caralho.

- Sim, claro. Eu entendo.- respondeu Carol, um pouco desconcertada, uma vez que a S/n nunca agiu assim.
- Mas, mesmo assim, é bom te ver de novo. - S/n apenas assentiu, encerrando a conversa ali.

Mais tarde, no quarto que dividia com sua irmã Gabi, S/n se permitiu relaxar um pouco. Elas estavam jogadas nas camas, conversando sobre a vida e os desafios recentes.

- Eu não aguento mais essas especulações sobre o meu término com a Sheilla. - desabafou Gabi.
- Parece que todo mundo quer uma explicação, mas ninguém entende como foi difícil para mim.

- Eu sei como é isso, Gabi.-  disse S/n, suspirando.
- Meu término com a Hande também foi complicado. Muitas brigas, muitas coisas não ditas foi um alívio sair de lá.

- É, eu vi como você estava. Mas agora, com a seleção, acho que você vai se sentir melhor.-  disse Gabi, tentando animar a irmã.
- Sabe, a Thaisa não para de falar de você. Sempre pergunta como você está, o que você está fazendo. - fala sorrindo e a Guimarães mais nova nega.

- Ah, é? -  respondeu S/n, rindo.
- Não estou muito preocupada com isso agora.

- Como não? É a Thaísa, você devia dar uma chance, S/n. Thaisa é uma pessoa incrível. Eu sei que você está focada no trabalho, mas quem sabe.- fala apertando o rosto da irmã.

- Vamos ver, Gabi. Por enquanto, meu foco é cuidar desse tornozelo dela. Depois a gente pensa no resto.- respondeu S/n, com um sorriso e ganha um beijo na testa de sua irmã.

As duas continuaram conversando, rindo e compartilhando suas experiências, até que a noite caiu e o cansaço tomou conta. Apesar dos desafios e das dores do passado, havia um sentimento de esperança no ar. E, quem sabe, novos começos estavam mais próximos do que S/n imaginava.



Oi.

Entre Cortes E Corpos (Thaísa Daher/you)Onde histórias criam vida. Descubra agora