Entre Cortes E Corpos (Thaísa Daher/you)

12

A atmosfera no corredor era pesada, cheia de incertezas e medos que todos ali compartilhavam. Thaisa estava parada do lado de fora do quarto, tentando se recompor após a dolorosa descoberta de que S/n não se lembrava dela. Cada fibra do seu ser gritava em desespero, mas ela precisava manter a calma, pelo menos por fora.
Hande, ao perceber a dor no rosto de Thaisa, hesitou por um segundo. Ela sabia que aquele momento não seria fácil, mas algo a fez seguir em frente.

- Eu vou falar com ela.- disse Hande, de forma direta, sem esperar uma resposta.

Ela entrou no quarto, sentindo o olhar de Thaisa queimando suas costas. O ambiente estava quieto, exceto pelo som dos aparelhos monitorando o estado de S/n. Quando Hande se aproximou da cama, o coração dela batia forte, cheia de expectativas confusas.
S/n, que estava inquieta e ainda lutando com as lacunas em sua memória, olhou para Hande com os olhos cansados. Por um momento, o silêncio foi absoluto. Mas então, para a surpresa de todos, a voz fraca de S/n ecoou no quarto.

- Hande? - S/n perguntou, com uma expressão de reconhecimento no rosto.
- Eu te conheço.

Aquela simples frase foi como uma faca no coração de Thaisa, que estava na porta do quarto, observando a cena de longe. O mundo dela desabou ali, naquele instante. Hande, a ex-namorada, alguém que deveria ser apenas uma lembrança distante para S/n, era a única pessoa que ela se lembrava. Thaisa sentiu como se o ar tivesse sido arrancado dos seus pulmões.
Gabi, que havia chegado no hospital e estava ao lado de Thaisa, ficou imóvel, sem saber o que fazer ou dizer. Ela olhou para a cena diante dela, incapaz de processar o que estava acontecendo. Isso não pode estar acontecendo, pensou Gabi, sentindo o desconforto crescer. Ela queria confortar Thaisa, mas não sabia por onde começar.
Hande, por sua vez, permaneceu calma, embora sentisse a tensão aumentar ao seu redor. Ela segurou a mão de S/n com cuidado, observando o rosto da médica.

- Sim, sou eu.-  ela respondeu, com um leve sorriso.
- Como você está se sentindo?

- Eu estou confusa.- S/n admitiu, seus olhos se enchendo de lágrimas.
- Eu não lembro de muita coisa, mas lembro de você, eu não sei o que está acontecendo.

Thaisa, incapaz de continuar assistindo aquilo, deu meia-volta e saiu do corredor, o peito apertado. Gabi a seguiu, tentando pensar em algo que pudesse dizer para ajudar, mas as palavras não saíam. Tudo parecia deslocado, como se o mundo tivesse se virado de cabeça para baixo.

- Ela lembra da Hande.-  Thaisa murmurou, a voz quebrada pela dor.
- Ela lembra da Hande, Gabi. Mas de mim? Nada. Absolutamente nada.

Gabi finalmente encontrou sua voz, embora hesitante.

- Isso não significa que ela não vai lembrar de você, Thaisa. A memória dela pode estar voltando aos poucos.

- Mas e se não voltar? E se ela nunca mais lembrar de nós? De tudo o que vivemos?-  Thaisa questionou, as lágrimas finalmente escapando. Gabi, sem saber o que fazer, apenas puxou a amiga para um abraço, tentando transmitir o pouco conforto que podia oferecer. Mas ambas sabiam que aquilo seria apenas o começo de uma jornada muito mais difícil.

Hande se sentou ao lado da cama de S/n, observando cada detalhe da expressão confusa da médica. A amnésia de S/n a deixava desorientada, e o fato de ela lembrar de Hande, mas não de Thaisa, criava um peso no ar, quase insuportável. Hande sabia que precisava fazer algo, e rápido. Não por ela, mas por Thaisa e por S/n.

- S/n, você está se sentindo muito confusa agora, eu sei.-  Hande começou, a voz gentil, mas firme.
- Mas tem algo que eu preciso te contar, algo muito importante sobre você e a sua vida,  e não envolve só a mim. - S/n olhou para ela, os olhos ligeiramente arregalados, mas com curiosidade.

- O quê? O que você precisa me contar?

Hande respirou fundo, pegou o celular e começou a procurar algumas fotos.

- Você e eu, nós tivemos uma história. Fomos próximas, mas, a verdade é que, agora, você está em outra relação. Você tem alguém que te ama muito e que está sofrendo muito com o que aconteceu.

- Alguém? -  S/n perguntou, tentando processar. - Quem? Eu não lembro de ninguém.

- Thaisa. - Hande respondeu suavemente.
- Ela é sua namorada, S/n. Ela te ama, e vocês têm uma história linda juntas. - S/n franziu o cenho, como se tentar puxar a memória fosse doloroso.

- Thaisa ela estava aqui, não estava? Eu vi uma mulher, mas eu não sabia quem ela era.

Hande deslizou o celular para S/n, mostrando fotos de S/n e Thaisa juntas. Em algumas, estavam de mãos dadas; em outras, compartilhando momentos felizes, rindo e aproveitando a vida. Era evidente o carinho e a conexão entre as duas. S/n olhou para as imagens por alguns segundos, em silêncio.

- Essa sou eu? -  perguntou com a voz incerta, os olhos fixos em uma foto onde ela e Thaisa sorriam, abraçadas.

- Sim. -  Hande disse, tentando manter o tom calmo.
- Essa é você. E essa é Thaisa. Ela tem estado ao seu lado desde o acidente, esperando você acordar, esperando você se lembrar dela.

S/n olhou para Hande, claramente abalada.

- Eu não sabia.

- Eu sei que é difícil.-  continuou Hande,
- Mas eu não estou te dizendo isso para te pressionar. Eu só quero que você saiba o quanto ela significa para você, e o quanto você significa para ela. Thaisa é uma parte muito importante da sua vida agora, mesmo que você não lembre disso. - S/n colocou o celular de lado, as lágrimas surgindo de leve em seus olhos.

- Mas eu não consigo lembrar, eu não consigo lembrar de nada, Hande. E quando eu olho para ela, eu não sinto nada. Como posso ter esquecido alguém assim?

Hande sorriu de forma compreensiva, mesmo sabendo o quão doloroso isso seria para Thaisa.

- A memória é complicada, S/n. O importante agora é você ter paciência consigo mesma. As memórias podem voltar, aos poucos. E enquanto isso, Thaisa só precisa de uma chance. Ela está sofrendo muito. - S/n respirou fundo, o peso do que Hande havia revelado se acomodando sobre ela.

- Eu vou tentar, Hande. Eu vou tentar tratar ela melhor. Eu só espero que minha cabeça possa lembrar de quem ela é.

Hande assentiu, aliviada, mas sabendo que a estrada seria longa. O fato de S/n estar aberta a isso era um começo, mas ainda haveria muito a ser resolvido. Para todos eles.

Oi