Depois de chorar outras vezes, não passar as mãos no rosto ou tentar secar a fim de evitar o inchaço, e por último retocar completamente a maquiagem tentando disfarçar o impossível que foi não inchar a pele ao redor dos olhos, Carol chegou com sucesso à festa de casamento (não que ela acreditasse ser bem sucedida de alguma forma). E já passava das seis da noite.
Tudo foi feito na casa onde tantas vezes esteve como namorada oficial do então noivo, a residência Medeiros.
— Carol?... Carol!
A voz de sua ex-sogra a removeu das lembranças que não a abandonaram e ela torceu para que a mulher não se aproximasse. Sem sucesso, pois D. Laura já estava caminhando sorridente em sua direção.
Como não estaria feliz? A mulher nunca gostou muito dela, devia estar radiante após finalmente encontrar a nora que sempre desejou! Contra a própria vontade, ela aguardou a chegada da senhora Medeiros, pôs um sorriso tão forçado no rosto que com certeza precisaria fazer um exercício de relaxamento quando a mulher saísse.
— Tia Laura! Como está?
Cumprimentou beijando o ar ao lado das bochechas bem maquiadas de sua ex-sogra.
— Estou bem, querida. Não a vi antes.
"Não precisa sorrir tanto...", pensou, acreditando nunca ter visto um sorriso com tantos dentes.
— Eu... tive um imprevisto.
Lembrou-se contra a própria vontade que o imprevisto não passou de um ataque de loucura e dor de cotovelo.
— Pena, a cerimônia foi linda.
Pena para quem? Mulher idiota! Será que não percebia como isso era desagradável para ela? Se Carol não precisasse enterrar urgentemente o sentimento inútil que corroía seu peito, estaria a quilômetros de distância daquele lugar!
— Imagino.
Laura a mediu com o olhar e Carol sentiu vontade de gritar com a mulher. Quem pensava ser para sentir pena dela?! Laura Medeiros deveria estar se perguntando como Carolina conseguia ser patética o suficiente para aparecer no casamento do rapaz e em seguida o homem que mais a humilhou em toda a sua vida.
Antes que pudesse se afastar, a mão da ex-sogra pousou suavemente sobre uma de suas faces.
— Não está sendo fácil para você, eu sei. Mas essa é a história deles, desde muito antes...
— Antes de mim. — Carol completou a contragosto, inspirou tentando segurar as lágrimas — Não se preocupe, eu realmente não espero mais nada dele. E... que sejam muito felizes.
Completou, saindo em seguida.
Pouco importava parecer grosseira ao deixar a mãe do noivo falando só. Ela que ficasse com sua maldita pena!
Às vezes a vida é injusta com algumas pessoas...
Carol não esperava a ingrata surpresa de descobrir que tinha ninguém menos do que o amor de adolescência de Fred como sua prima! A órfã descobriu uma família completa e feliz, tornou-se herdeira de uma fortuna, e como se não bastasse: estava grávida do playboy da cidade, com quem todas queriam estar!
Carol, no entanto, vivia praticamente o oposto, com seu pai perto de ser preso, sua mãe havia sumido no mundo. Ainda por cima, dali em diante teria que dividir a atenção do avô com a "maravilhosa Luz", pensava com amargura, segurando com força uma taça da coisa sem sabor que eles diziam ser champanhe.
Sempre desejou o amor de Fred, mesmo que parecesse algo impossível. Naquele momento, se via presa à maldita festa, presenciando a alegria dos noivos e das pessoas ao redor, enquanto ela se sentia vazia e só.
Estava olhando para a valsa dos noivos. Era para ela estar lá dançando com ele... Se distraiu até perceber que alguém a observava insistentemente. De longe, encontrou o olhar de um homem alto, moreno de aparência estrangeira. Quando seus olhares se encontraram, ele, que mais parecia uma montanha, brindou em sua direção.
Era muito bonito, verdade, mas lhe pareceu... Rude.
Não lhe interessava nada! Virou sobre seus saltos e caminhou até a área da piscina. Pretendia remoer suas mágoas em paz, sem nenhum enxerido para deixá-la constrangida.
— Por que você não parece muito feliz?
Uma voz baixa, que a fez lembrar o rosnado de algum animal selvagem, perguntou.
O sotaque diferente se aproximava do espanhol. Carol levou um susto e ao se virar rapidamente, ficou a um passo de cair na água límpida e fria. Quase... pois ele foi rápido ao estender um braço firme, puxando-a para perto, muito perto... o movimento impediu que ela afundasse na água gelada, e piorasse seu estado de ânimo.
Com tanta proximidade ficou impossível não aspirar o perfume que o homem usava, amadeirado e inebriante. Ela observou as linhas firmes do rosto viril, olhos apertados e uma boca estreita, lábios não avantajados, ainda assim sensuais. Um nariz reto, harmonioso. Os olhos eram negros, com cílios cheios e escuros. Espiou um pouco mais para cima e viu uma mecha teimosa cair do cabelo, cuidadosamente penteado para trás.
Quando se deu conta do tempo que perdia observando o homem, balançou a cabeça rapidamente.
— Pode me soltar agora, por favor? — pediu.
Com o intuito de afastar aquele corpo do dela, apoiou suas mãos sobre o peito do estranho, mas os músculos pareciam de aço sob seu toque. Claro que não conseguiu movê-lo um centímetro do lugar.
— Não sei se quero fazer isso.
O homem a olhou de forma penetrante.
— Mas eu exijo que você me solte.
Carol rebateu com seu característico tom altivo.
O homem continuou observando-a, com sua mandíbula pressionada.
— Tenho certeza que se estivéssemos em outro lugar você não iria querer sair dos meus braços.
Incomodada, Carol arregalou os olhos, preparando-se para dar uma resposta à altura. No entanto, ele girou seu corpo como se não pesasse nada, colocando-a do outro lado. Por último a soltou e para sua surpresa, ela sentiu a perda do calor dele...
"Não seja idiota, Carolina!"
Carol ficou parada no lugar, fora de seu estado comum. Observou-o se afastar, o modo como o passo do estranho era decidido, pois ele sequer olhou para trás... No primeiro olhar que trocaram, havia percebido o jeito rude, só não imaginava que ele fosse tão... desconcertante.
Quando já estavam há alguns metros de distância, ele voltou a olhar para ela. Com uma expressão enigmática, repetiu o movimento anterior ao estender a taça em sua direção.
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Sob seu Toque - Irmãos Villarreal I
RomantizmAna Carolina Silva Alencar não tinha muitos motivos para estar feliz, pois estava na festa de casamento do homem que conhecia desde sua adolescência e que amou mais do que deveria. Carol não esperava a ingrata surpresa de que ele se casasse exatamen...