Cap 2

258 37 3
                                    

Uma vez, quando eu estava de tocaia em uma árvore, imóvel, esperando a caça aparecer, adormeci e caí de costas no chão de uma altura de três metros.

Foi como se o impacto tivesse expulsado cada centímetro cúbico de ar de meus pulmões. E fiquei lá deitada, lutando
para respirar, para me mover, enfim, para fazer qualquer coisa.

É assim que me sinto agora, tentando lembrar como se respira, incapaz de falar, totalmente atordoada, ouvindo o nome ecoar no interior de meu crânio.

Alguém está segurando meu braço, um garoto da Costura, e talvez eu tenha começado a cair e ele me pegou.

Deve ter havido algum engano. Isso não pode estar acontecendo. lorelai era uma tirinha de papel entre milhares.

Em algum lugar distante, consigo ouvir a multidão murmurando com tristeza,como sempre acontece quando alguém de doze anos é escolhido, porque ninguém acha isso justo.

E então eu a vejo, o rosto lívido, os punhos cerrados ao lado do corpo, caminhando com passos curtos
e resolutos em direção ao palco. Ela passa por mim e vejo que a parte de trás da blusa escapou novamente da saia. É esse detalhe, a blusa para fora da saia formando um rabo de pato, que me traz de volta à realidade.

Lori! – O grito estrangulado sai de minha boca e meus músculos começam novamente a se mexer.

– Lori! – Eu não preciso abrir caminho em meio à multidão. Os outros garotos dão passagem imediatamente, permitindo que eu chegue rapidamente ao palco.

Eu a alcanço quando ela está a ponto de pisar no primeiro degrau. Empurro-a para trás de mim com meu braço.

– Eu me ofereço! – digo eu, arquejando. – Eu me ofereço como tributo!

Fazia décadas que o distrito 12 não tinha um voluntário. Afinal quem iria participar do jogos por vontade própria ?

Lena Luthor iria. Pensei.

Maldita colheita.

Não poderia deixar minha irmãzinha morrer assim, não era justo.

– Magnífico! – diz Effie Trinket. – Mas eu acredito que haja um probleminha quando algum voluntário se apresenta depois do nome do vencedor da colheita ter sido anunciado. Se isso acontece... bem... nós... – interrompe-se, um pouco atrapalhada.

Qual é o problema? – indaga o prefeito. Ele está olhando para mim com pesar estampadono rosto. Ele não me conhece de fato, mas alguma coisa em seu jeito indica que ele me reconhece.

Eu sou a garota que leva os morangos. A garota de quem sua filha deve ter falado
em alguma ocasião. A garota que cinco anos atrás estava encolhida com sua mãe e com sua irmã quando ele a premiou com uma medalha de honra ao mérito.

Uma medalha pelo pai dela, que evaporara nas minas. Será que ele está se lembrando disso?

– Qual é o problema? – repete ele, com aspereza. – Deixem que ela se aproxime.

Lori está gritando histericamente atrás de mim. Ela enroscou os bracinhos magricelas em meu corpo como se fosse um parafuso.

– Não, Lee! Não! Você não pode ir!

– Lori, me solta – devolvo, com dureza, porque isso tudo está me deixando descontrolada e não quero chorar.

Quando eles reprisarem o programa hoje à noite, todo mundo vai reparar
em minhas lágrimas e eu serei identificada com um alvo fácil. Uma fraca. Não vou dar essa
satisfação a ninguém. – Solta AGORA!

Eu não poderia demonstrar ser fraca, tinha que tentar voltar viva para ela.

Posso sentir alguém puxando-a de minhas costas.

Lena Luthor - Supercorp Onde histórias criam vida. Descubra agora