Cap 21

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Nas horas que restam antes do anoitecer, reúno algumas pedras e faço o melhor possível para camuflar a abertura da caverna.

É um processo lento e árduo, mas, depois de muito suor e de mudar várias coisas de um lado para o outro, me sinto plenamente satisfeita com meu
trabalho.

A caverna agora parece fazer parte de uma pilha de rochas bem maior, como tantas outras nos arredores.

Ainda consigo rastejar até kara por meio de uma pequena abertura
que, no entanto, é impossível de ser detectada do exterior.

Isso é bom, porque vou precisar
compartilhar aquele saco de dormir novamente hoje à noite. E, se eu não conseguir retornar do ágape, kara estará escondida, porém não inteiramente aprisionada.

Embora duvide que ela possa aguentar muito mais tempo sem medicamentos. Se eu morrer no ágape, será
pouquíssimo provável que o Distrito 12 tenha uma vencedora.

Observo o céu, na esperança de que mais um oponente tenha caído, mas ninguém aparece.

Amanhã com certeza surgirão rostos no céu. Os ágapes sempre resultam em mortes.

Rastejo para o interior da caverna, pego os óculos e me enrosco ao lado de kara. Por sorte pude dormir aquelas várias horas hoje.

Preciso ficar acordada. Não acho que alguém possa realmente atacar nossa caverna à noite, mas não posso arriscar perder a hora.

Os ânimos devem estar exaltados no Distrito 12.

É muito raro termos alguém por quem torcer nesse ponto dos Jogos. Certamente as pessoas estão entusiasmadas comigo e com kara, especialmente agora que estamos juntas.

Estou a ponto de sair quando me lembro da importância de manter a rotina dos
amantes desafortunadas, e me inclino sobre kara para lhe dar um longo e duradouro beijo.

Imagino os suspiros lacrimosos emanando da Capital e finjo enxugar também minhas próprias lágrimas. Então, esgueiro-me pela fresta das rochas e saio.

Minha respiração produz pequenas nuvens brancas ao atingir o ar. Está tão frio quanto uma noite de novembro no meu distrito.

Movo-me o mais rápido que posso. Os óculos são realmente fantásticos, mas ainda sinto muito a falta de meu ouvido esquerdo. Não sei exatamente o que aconteceu, acho que a
explosão causou algum dano profundo e irreparável. Pouco importa. Se eu voltar para casa, vou estar tão podre de rica que serei capaz de pagar alguém para ouvir as coisas para mim.

A floresta sempre tem uma aparência diferente à noite. Mesmo com os óculos, as coisas surgem com um ângulo pouco familiar.

Como se as árvores, as flores e as pedras que encontramos durante o dia tivessem ido para a cama e enviado versões levemente mais sinistras delas próprias para ficar em seus lugares.

Não tento ser esperta experimentando
outro caminho. Subo de volta o riacho e sigo a mesma trilha que leva ao esconderijo de Rue perto do lago. Ao longo do caminho, não vejo nenhum sinal de outro tributo, nenhuma lufada de respiração, nenhum balançar de galhos.

Ou sou a primeira a chegar ou os outros se posicionaram ontem à noite. Faz mais de uma hora que estou aqui, talvez duas, quando me insinuo em meio à vegetação rasteira e fico esperando o sangue começar a jorrar.

Mas onde está o ágape ?

No instante em que o primeiro raio de sol reluz na Cornucópia dourada, ocorre um distúrbio na planície.

O chão na frente da boca do chifre se divide em dois e uma mesa redonda
revestida com um tecido branco como a neve surge na arena.

Sobre a mesa encontram-se quatro mochilas, duas grandes e pretas com os números 2 e 11, uma verde de tamanho médio com o número 5 e uma pequena de cor laranja – eu poderia carregá-la até enrolada no pulso – que deve estar marcada com o número 12.

Lena Luthor - Supercorp Onde histórias criam vida. Descubra agora