POV S/N
Cheguei mais cedo de novo, por que minha mãe é extremamente pontual e fica maluca até a gente chegar no lugar antes do horário. Comecei a arrumar as minhas coisas no banco quando sinto alguém se aproximando e automaticamente o meu corpo fica tenso por causa do vexame que Gisele fez ontem.
-Oi- falou Flávia parando ao meu lado.
- Oi- apenas sussurrei. Ficamos sentadas em silêncio até ela perguntar.
- Por que a sua mãe é assim?
- A Júlia falou algo, né? Minha mãe diz que é para me protejer, mas a verdade é que eu tirei o sonho dela quando eu nasci. Sabe, ela sempre queria ser uma grande ginasta, mas engravidou de mim com 16 anos e não pode mais competir. Daí ela jogou tudo isso em mim. Sinceramente, por mim eu não estava aqui- falo, nem sei porque eu confessei isso para ela, mas por algum motivo, me senti confortável para compartilhar.
- Nossa, mesmo a irresponsabilidade sendo dela por não ter usado nenhum preservativo?
- Mesmo a irresponsabilidade sendo dela por não usar nenhum preservativo.
- Seria muito egoísmo falar que eu estou grata dela não ter usado?
- Não- respondi sorrindo.
- Então eu estou muito grata dela não ter usado preservativo- ela deu ênfase no muito.
- Por que você chega mais cedo?- perguntei para ela.
- Me faz relaxar ficar olhando para os aparelhos, consigo colocar os meus pensamentos em ordem aqui.
- Você quer que eu vá dar uma volta? Parece que estou atrapalhando.
- Não, eu gosto de conversar com você, por mais que nos conhecemos ontem- ela da um sorrisinho para mim. Por que caralhos estou sentindo o meu coração acelerar?
- Bom dia meninas- falou Jade chegando.
- Bom dia Jade- falamos juntas. E assim vai chegando o resto do pessoal para começarmos a treinar.
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- A onde vamos hoje?- perguntou Lorrane para as meninas na hora do almoço.
- Vamos no mesmo de ontem- falou Júlia
- A não, eu não gostei de lá - admitiu Rebeca.
- Você vem S/N? - perguntou Flávia olhando para mim.
- Não, vou ficar por aqui mesmo.
- Mas você trouxe algo?
- Sim, pode ir- falei, mas não convenceu nem eu mesma.
- Não minta para mim.
- Tá bom, eu esqueci, mas minha mãe não deixa eu sair, então vou ter que ficar por aqui mesmo.
- Eu trago algo para você.
- Não precisa, é sério, vai lá com as meninas- as meninas já estavam saindo do ginásio.
- Tá bom- ela falou respirando fundo e foi. E aqui está eu. Sozinha. De novo.
Sentei no banco e fiquei mexendo um pouco no celular, até que começou a dar uma falta de ar e minhas mãos começaram a tremer. Não. Aqui não.
Corri para o banheiro e coloquei as minhas mãos na pia. Olhei para o espelho e as lágrimas já estavam caindo de meus olhos. E eu não estava conseguindo respirar. Me encostei contra a parede mais próxima, sentei no chão e fiquei lá tentando me acalmar.
POV Flávia Saraiva
-Cadê a S/N?- perguntou Rebeca.
- Não veio, falou que a mãe dela não deixa ela sair depois de ontem.
- Aquela vaca do caralho- falou Júlia.
- Do que ela gosta de comer?- perguntei para Júlia.
- Porque?- ela pergunto desconfiada.
- Ela não trouxe nada para comer e não pode sair para comprar. Eu falei que traria algo, mesmo ela não aceitando, mas não tenho ideia do que ela gosta.
- Olha, ela sempre teve uma dieta restrita, para não engordar.
- Por isso que ela é tão magra...- sussurro baixinho, mais para mim mesma.
- É, sempre vi ela comendo salada.
- O que você acha de um sanduíche natural?
- Acho que ela vai gostar.
- Então resolvido.
A gente almoçou entre conversas e risos em um restaurante perto do Ginásio. Na volta parei em uma padaria e comprei o sanduíche da S/N.
- Para quem é esse sanduíche?- perguntou Jade.
- Para S/N- respondi.
- Ué, mas ela não trouxe almoço?- falou Lorrane.
- Não ela esqueceu.
Continuamos conversando até chegar no ginásio. Deixei o sanduíche perto da bolsa da S/N e fui ao banheiro rapidinho porque eu estava apertada.
Quando cheguei lá, comecei a ouvir barulho de choro.
- S/A- a chamei, vendo ela encolhida no chão do banheiro- S/N o que aconteceu? Você se machucou?- ela parecia que não estava conseguindo respirar, e o rosto dela estava todo vermelho. Percebi que era uma crise de pânico e rapidamente a abracei pela cintura, ela apenas colocou a cabeça em meu pescoço em quanto eu tentava a tranquilizar com um cafuné- calma, já passou, eu estou aqui- ela agarrou minha blusa e começou a se acalmar. Aos poucos eu me afastei dela e limpei as lágrimas que ainda insistiam em sair- Calma, meu bem, já passou- ela encostou a cabeça na parede e respirou fundo. Eu estava agachada com as mãos nos joelhos dela. Então eu me levantei e disse - vem vamos lavar o seu rosto- e ofereci a minha mão para ela levantar. Ela abaixou a cabeça na pia e eu lavei o rosto dela. Ela o enxugou e disse:
- Obrigada.
- Não tem de que, agora vamos, o intervalo já está quase acabando, eu comprei um sanduíche natural para você- ela pareceu paralisar.
- Eu disse para você que não precisava- falou com a voz baixa e rouca.
- Eu sei, mas eu não posso deixar você treinar sem comer, você vai passar mal.
- Eu não posso comer.
- Tem haver com a sua mãe? Não se preocupe, ela não vai saber...
- Muito obrigada, mas eu realmente não posso- ela passou por mim e me deixou sozinha no banheiro.
Eu voltei para os bancos e vi a Júlia conversando com a S/N em um canto mais afastado com o sanduíche que eu comprei na mão. A S/N parecia que ia entrar em colapso a qualquer momento.
- Vamos voltar as atividades?- Chico chegou e começou a explicar o que a gente ia fazer agora quando Júlia se aproximou de mim e me entregou o sanduíche discretamente.
- Eu tentei fazer ela comer, mas ela não quer de jeito nenhum- falou Júlia.
- Tudo bem, muito obrigada por tentar.
- Meninas, tudo bem aí a trás?- perguntou Chico.
- Sim, desculpe atrapalhar.
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Então gente, esses são os capítulos de hoje. Talvez amanhã tenha mais, não sei se vai dar tempo de escrever.
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E mesmo depois de tudo... (S/N & Flávia Saraiva)
RomanceS/N é uma ginasta de 22 anos que quase não tem vida social por causa de sua mãe controladora. A vida de S/N se resumia em treinar e ganhar competições. O grande objetivo da mãe de S/N era ver a filha ganhando um ouro nas olimpíadas e esse objetivo e...