Sótão

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POV S/N

     Aos poucos vou abrindo os meus olhos, sentindo o chão frio em que eu estava deitada. Tento mexer as minhas mãos, e percebo que elas estão amarradas fortemente por uma corda presa a parede. Gemo de dor, sentindo os meus ossos estralando e minha cabeça rodando, além de minha boca estar seca. A última coisa que me lembro foi de aceitar tomar um copo de whisky com João... Droga, que burra eu fui. Ele com certeza deve ter ligado para minha mãe enquanto estava fazendo os documentos, que eu não me surpreenderia se fossem falsos e falado que eu estava lá. Não consigo sentir o celular em meu bolso, Gisele deve ter pegado ele. Tento me soltar até que a Gisele finalmente aparece.

    - Finalmente acordou, minha preciosa S/N- ela falou entrando no quarto com uma voz de maníaca. Como que eu vim parar aqui? Passo os olhos rapidamente pelo local e reconheço o sótão da casa de Gisele. Estremeço só de lembrar do que eu já passei aqui quando criança.

     - O que eu estou fazendo aqui?- falo me debatendo, ainda tentando me soltar.

     - Oh minha querida filha, achou que ia escapar de mim? Está muito enganada. Eu investi tanto em você, tive que parir, dei a minha vida, gastei rios de dinheiro, e você pensa que pode me retribuir dessa forma? Mas não vai mesmo. Você vai acabar qualquer relação sua com a Flávia, vai acabar com esse negocinho gay nojento seu e vai voltar para cá de onde nunca deveria ter saído e dar orgulho para a sua mãe, que sofreu tanto, e tem uma ingrata como filha. Todas as meninas do mundo querem ter uma chance igual você, de ter uma mãe que se preocupa tanto com seu futuro, e você aí, jogando tudo isso no lixo por causa de uma mulher- ela falou tudo isso com um desprezo enorme que doeu em mim, ela ainda é a minha mãe, mesmo depois de tudo que ela fez.

     - Não, ninguém quer uma vida assim, de treinamentos sem parar, sem amigos, sem vida social, com dieta restrita, ninguém quer isso Gisele. E eu não estou fazendo isso por Flávia, estou fazendo por mim, e por minha liberdade- falei com lágrimas nos olhos, mas não vou dar o gostinho de me ver chorando para ela.

- Você pode ralhar o quanto quiser, mas essa é a sua vida e sempre será, até o dia que você definhar- ela falou se abaixando pra ficar cara a cara comigo.

-Não- falo conseguindo dar uma rasteira nela, que se desequilibra e cai de bunda no chão.

- Ora sua vadiazinha de quinta- ela falou se levantando e me dando um soco forte no rosto- vou deixar você aqui, até mudar de escolha- falou saindo do quarto e apagando a luz, deixando tudo escuro. Senti o gosto metálico de sangue na minha boca, acompanhado com uma dor latejante no lado esquerdo do meu rosto. Onde é que vim me meter?

     Júlia e Flávia devem estar muito preocupadas comigo, olho pela janelinha que está na altura do solo e vejo que a lua já está brilhando lá fora. Minha mãe costumava me jogar aqui quando eu era criança e ficava reclamando sobre a ginástica, os treinamentos em excesso, a dieta, mas conforme eu fui crescendo eu me conformei com a minha vida, os treinos, a exaustão, parei de reclamar e consequentemente parei vir para cá. Mas ainda sinto um arrepio só de lembrar do que eu já passei aqui.

     Me arrumei de um jeito que ficasse mais confortável para mim, as minhas mãos estavam um pouco acima da minha cabeça, e eu escorei a minha costa na parede pensando em tudo o que eu passei nesses últimos meses, as olimpíadas, as medalhas, Flávia. Foi Flávia que aconteceu nesses meses. Ela mudou a minha vida completamente, a transformando em algo novo e belo, apenas por estar nela. Deus, estou tão apaixonada nessa mulher. Quando eu sair daqui, a primeira coisa que eu vou fazer é pedir ela em namoro. Rio me lembrando da pequena discussão que tivemos no avião. Da promessa que eu fiz no dia da competição do solo. Nos nossos momentos compartilhados. Toda vez que eu estou do lado dela sinto o mundo parar e as pessoas ao redor somem, só restando nós. Que saudades daquele abraço, daquele beijo, do carinho e das noites em claro, fazendo amor ou apenas conversando sobre a vida. Agora eu só queria estar nos braços dela, sentindo o seu cheirinho e a mão dela nas minhas costa enquanto assistimos alguma série qualquer.

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     - Acorda inútil- sinto um chute nas costelas e acordo com um gemido.

     - O que foi?- falo sentindo o sol no meu rosto.

     - E então? Você já está pronta para voltar para sua vida normal? Já cansou das aventuras loucas como uma lésbica que vai arder no fundo do inferno?

      - Nossa Gisele, não sabia que você era religiosa- falo revirando os olhos- e eu já falei que não vou me submeter a isso de novo.

     - Não?- falou indo no canto da sala.

     - Nunca- falei vendo ela pegar o bastão.

     - Tem certeza?- ela falou me olhando com aquela cara de maníaca e erguendo o bastão em minha direção.

     - Tenho- sussurrei sabendo o que viria a seguir. Senti o bastão batendo contra a minha pele. Me encolho tentando protejer a minha cabeça. Sinto o bastão batendo fortemente em mim várias vezes seguidas, trazendo uma dor alucinante em todo o meu corpo.

- Idiota retardada- ela fala depois de me surrar. Ela sai me deixando lá.

Me deito no chão, tentando respirar normalmente, minhas costelas doem, tudo dói. Sinto as lágrimas escorrerem livremente no meu rosto. Eu só quero sair daqui, abraçar Flávia. Sinto a minha barriga roncando e a minha boca seca. Gisele não havia deixado nem comida e nem água para mim. Se continuar assim, não sei quanto tempo que vou aguentar. Espero que Flávia e Júlia já tenham chamado a polícia. Eu não estou aguentando.

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Oi gente! Como vocês estão?

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E mesmo depois de tudo... (S/N & Flávia Saraiva)Onde histórias criam vida. Descubra agora