capítulo um

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- Presta atenção nesse bloqueio, presta atenção, porra Gabi - gritou o técnico.

Sentia meu coração acelerado, pois toda vez que entrava na quadra, ficava muito nervosa, eu era líbero, então tinha que pegar todas as pancadas que vinham.

- Vai, vai, vai - as meninas gritavam.

"SET POINT" comentarista disse ao microfone.

- BOA!!!!! - gritei e nossa equipe se abraçou.

- S/n, quero falar com você - técnico me chamou e as meninas fizeram um burburinho.

- Oi - coloquei uma toalha no pescoço.

- O que está acontecendo? - cruzou os braços e apoio o queixo no indicador, me olhando com um olhar penetrante. Antes mesmo que eu pudesse responder. - Você não tem objetivos dentro de quadra? Não tem ambição de ir pra seleção? - olhei um pouco assustada.

- Sim - respondi.

- Então que caralhos, você fica toda hora olhando pra arquibancada? Não tem nenhum Giba aqui pra te assistir não. S/n, espero que seja a primeira e última vez que eu precise falar o básico pra você. Seu rendimento foi péssimo hoje! - me deu as costas e foi atrás de outra jogadora pra dar "feedback". Suspirei fundo e fui até o vestiário.

- Ei aí!? - Gabi me perguntou.

- Esporro - respondi tirando meu tênis.

- Nada novo sob o sol - respondeu Jéssica.

- Ele não veio de novo - falei cabisbaixa, fui tirando a roupa até ficar seminua. Algumas meninas já estavam finalizando as duchas, e eu aguardava.

- As vezes ele se esqueceu - disse Roberta.

- Ah não vem com esse papo não, o cara já deu bolo na s/n umas cinco vezes, estão juntos há três anos, não tem capacidade de participar de algo importante dela, não vem com essa não - Gabi amarrou a cara após dizer isso, eu sabia que ela odiava meu namorado.

- Aí Gabi, não fala assim, ela já ta mal... - respondeu Jéssica.

- Ela sabe que eu falo pro bem dela - respondeu Gabi me encarando, enquanto terminava de se secar.

-

Ao entardecer do mesmo dia, tinha feito tudo o que eu precisava, fui pro jogo de manhã, finalizei meus trabalhos que preciso entregar semana que vem na faculdade, preparei um Strogonoff para o jantar. E estava ali, entre a minha rotina e a crise de ansiedade. Apesar de ter tentado passar um dia leve, meu peito ficou dolorido, eu fiquei tão mal, poxa, tinha esperado tanto pela presença dele na quadra hoje, fiquei de otária, falei para todas as meninas, e ainda levei um esporro do técnico por isso.

R: "Não vou conseguir ir"
"Desculpa"
"Oi amor"
"Agora que a internet voltou"
"Desculpa não ter ido hoje"
"Tentei avisar"

S/n: "Ricardo, sou constantemente feita de palhaça, nunca sou uma prioridade pra você, não sei como quer continuar nesse relacionamento desse jeito"

R: "É porque você não vai ser prioridade na minha vida com meu tio internado"

S/n: "Como assim? Por que não me disse nada?"

R: "Estava sem internet, depois a gente se fala, estou com a cabeça quente".

No espaço onde estava tomado, antes por ansiedade, agora é tomado por culpa. Eu sabia que ele não queria me deixar na mão. Peguei meu celular novamente e procurei o nome da Gabriela, desde o primeiro dia que nos conhecemos em quadra ela foi tão gentil comigo, sempre me enturmou, e sempre consegui me abrir muito com ela, foi uma amizade que desenrolou rapidamente, isso já tem um ano.

- Diga - atendeu a vídeo chamada e enquanto mexia na unha do pé.

- Tá fazendo a unha? - estranhei.

- Encravou - respondeu dando risada. - E aí? Falou com o mozão? -

- Aí, eu tô me sentindo mal - respondi arrumando o celular para que a câmera fique posicionada enquanto converso.

- Ah pronto - revirou os olhos.

- O tio dele está internado, por isso ele não foi -

- Sério? O que ele tem? - perguntou e eu fiquei quieta, a encarando. Ela percebeu o silêncio e olhou pra câmera. - Que foi? -

- Eu não sei... -

- Porque você não perguntou? -

- Ele me respondeu que estava de cabeça quente -

- S/n, tudo o que você questiona ele, ele fica bravinho ou ignorante, não sabe ter um diálogo, não sabe se posicionar, nunca quer se explicar - ela falava com o alicate na mão chegava a ser engraçado.

- Você tem uma visão muito contaminada dele - respondi.

- Mas é claro, a primeira vez que conheci ele, ele foi um grosso com você, eu detesto ele, justamente por ele sempre te tratar mal - fiquei quieta relembrando do episódio. - E outra coisa, tá muito estranho esse negócio de tio internado -

- Vou desligar - falei.

- Vai ficar bem? - perguntou me olhando chateada e apenas acenei positivo com a cabeça.

Tinha deixado o jantar pronto, mas perdi tanto a fome e fiquei com isso na minha cabeça. Conhecia a família dele mas nunca tinha ouvido falar de tio algum.

Gabi e euOnde histórias criam vida. Descubra agora