CAPÍTULO 4

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raven.   cinco anos atrás.

O som rouco do motor ainda reverberava atrás de mim, como um predador incansável, devorando o silêncio da noite. O vento cortante rasgava a minha pele, como garras invisíveis, e trazia consigo um sentimento de excitação que queimava em minhas veias enquanto cada centímetro da minha pele se arrepiava. O coração, frenético e pulsante, tamborilava descompassadamente no peito, como se estivesse em um duelo com as engrenagens selvagens de minha moto, que vibravam em perfeita harmonia com a escuridão ao redor. Meus cabelos negros se rebelavam, serpenteando ao vento como correntes de sombras, fundindo-se com a noite.

Fechei os olhos por um instante fugaz, permitindo que a adrenalina se impregnasse, uma corrente elétrica que me envolvia em sua teia viciante. Sentia cada músculo em tensão máxima, cada nervo à flor da pele, pronta para qualquer eventualidade que se apresentasse no caminho traiçoeiro. A estrada diante de mim era uma promessa silenciosa de perigo, e eu, em meio à penumbra, me entregava à sensação vertiginosa de estar à beira do abismo.

Olhei para trás, sobre o ombro, apenas para perceber que a moto que me perseguia havia sumido. dissipado nas sombras da noite. Meus olhos, ansiosos, varreram o horizonte em busca dele. E então, o som estridente de um motor quebrou o silêncio, emergindo do matagal à margem da estrada. A figura metálica irrompeu como uma fera faminta, galhos se despedaçando em sua passagem, e a moto aterrissou diante de mim, bloqueando meu caminho com uma precisão quase implacável.

Meu corpo reagiu antes mesmo que minha mente pudesse processar. foi instantânea, instintiva, e feroz. Apertei com força o manete direito, que controlava o freio das rodas dianteiras, os pneus rasgando como lâminas sobre o asfalto. Fechei os olhos com força, preparando-me para o impacto, enquanto minha respiração se transformava em um frenesi descompassado, e minhas pernas tremiam, vacilando entre a resistência e a rendição.

O coração, agora um martelo impiedoso, retumbava em meu peito, como se quisesse romper as barreiras de carne e osso que o mantinham cativo. Quando finalmente tive coragem de abrir os olhos, a visão que me recebeu foi a de uma figura à minha frente, seu peito nu ofegando em sincronia com a respiração pesada. O rosto, oculto por um capacete, permanecia um enigma impenetrável, mas minhas órbitas foram atraídas pelas tatuagens que marcavam sua pele, principalmente a figura angelical que adornava seu músculo trapézio.

Ezekiel.

Seu nome reverberou em minha mente, evocando memórias longínquas e quase esquecidas. Nos conhecemos nos primeiros anos da infância, mas nossas vidas nunca se entrelaçaram de verdade. Nossas famílias, ligadas pelos negócios, nos proporcionavam encontros ocasionais em eventos, mas à medida que crescíamos, Ezekiel se afastou, como uma sombra que se desvanecia ao longe.

Eu sempre pensei que Ezekiel tivesse vergonha de mim, que preferia manter nossa pequena amizade, como um segredo sujo. Talvez por isso, com o passar dos anos, eu tenha me distanciado. Ele era uma criança adorável, com seus olhos de mel, brilhantes como estrelas em uma noite clara, e cabelos dourados que caíam desordenadamente sobre a testa, conferindo-lhe uma inocência que agora parecia tão distante. Mas o garoto que eu conhecera se transformara em um estranho, alguém cujo olhar carregava uma escuridão que eu não podia penetrar.

Apertei o acelerador com toda a força, girando-o com fúria, e o rugido da moto ecoou como um grito primal, enquanto os pneus mordiam o asfalto, e eu disparava para longe dali, desesperada para escapar. Mas o som do motor de Ezekiel ainda me assombrava, como um predador que se recusava a largar sua presa.

As árvores ao meu redor se tornavam manchas indistintas, sombras turvas distorcidas pela velocidade insana em que eu seguia. A estrada logo cedeu espaço às ruas da cidade, e virei a primeira esquina que encontrei, a mente um turbilhão de pensamentos, buscando desesperadamente uma saída. Falcon's Well. Era uma cidade próxima á Thunder Bay e o parque de diversões abandonado não estava longe, e poderia ser meu único refúgio.

SINS OF RECKLESS ( DARK ROMANCE ) Onde histórias criam vida. Descubra agora