CAPÍTULO 13

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ezekiel. presente.

Meus dedos afundavam-se na seda dos cabelos dela, uma espiral de fios negros que parecia envolver-me em um véu de tentação e perdição. Cada toque, enlaçando-me. As mechas escorregavam suavemente entre meus dedos, e a textura, a maciez quase hipnótica, incitava um fervor que eu não podia nem queria controlar. Ela, ainda um enigma, um espectro sem face, cujo hálito quente pairava sobre o meu, num prelúdio de pecado. Nossas bocas, ainda hesitantes, roçavam-se, e eu sentia o calor pulsante da vida se esvair a cada mordida que lhe infligia na carne sensível dos lábios, consumido por um anseio avassalador.

Nossas línguas se entrelaçavam com uma fome primitiva, um desejo que se enraizava na própria alma, enquanto minhas mãos apertavam sua pele, os dedos gravando na carne de suas coxas. A pressão de suas pernas contra as minhas era um tormento doce, um atrito que acendia em cada nervo de meu corpo, enquanto meu toque descia lentamente ao longo de seu pescoço, os lábios sugando a pele delicada, imprimindo minha presença nela como um selo indelével.

— Zekel...

A voz dela escapou em um gemido, dilacerando o véu de minha inconsciência. O som reverberou em meu ser como uma convocação irresistível. Meus olhos, encontraram-se, finalmente, com a realidade. Ali, em meio à escuridão que dissipava, vi o rosto que habitava meus sonhos. Raven.

Seus lábios, de um rubor natural que evocava inocência e perigo em igual medida, estavam ligeiramente inchados pelas nossas investidas, e os olhos, claros como um amanhecer gélido, fitavam-me sem pestanejar, mantendo um contato visual que me imobilizava. As sardas, pequenas constelações em sua pele pálida, traçavam um mapa de lembranças que eu não conseguia decifrar.

De repente, o torpor se despedaçou. A luz cruel e implacável invadiu minhas pupilas, obrigando-me a encará-la. Eu despertei com um sobressalto, o corpo enrijecido pela posição desconfortável em que adormecera. Cada músculo protestava em uma sinfonia de dor, rasgando-me em agonia, enquanto eu me erguia do chão frio do corredor. A madeira rangia sob o meu peso, como se denunciasse a tortura interna que se alastrava em meus ossos.

A cabeça latejava, o sonho ainda recente pulsando em minhas têmporas, cada detalhe gravado com precisão cruel em minha mente perturbada. Eu passei a mão pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais, como se o gesto pudesse dissipar a confusão que tomava conta de mim. Seria cada fechar de olhos um convite para essas visões torturantes? Estaria eu condenado a reviver fragmentos de uma verdade enterrada sob camadas de esquecimento e dor?

O som de risos ecoou pelo corredor, uma melodia dissonante que fez meus nervos se enrijecerem. Virei-me, e lá estava ela, Raven, um sorriso largo e perigoso em seus lábios. Ela caminhava ao lado de um homem, alto, loiro, com tatuagens que adornavam por sua pele, alcançando as mãos, e trajado de couro, como se fosse uma extensão de sua própria essência. O braço dele envolvia o pescoço dela com uma intimidade possessiva que me enfureceu instantaneamente, reacendendo o ódio latente que me consumia.

Os olhos dela, encontraram os meus. Um silêncio ensurdecedor se instalou, e por um instante, senti o gosto amargo da verdade que tentava emergir de minhas memórias dilaceradas. A saliva desceu áspera por minha garganta, e o peito apertou-se num ímpeto de desespero. Eu a conhecia... Ela me conhecia... O sonho que me atormentara era, de fato, uma lembrança que retornava das profundezas de minha mente despedaçada?

Com um esforço brutal, desviei o olhar, rompendo o laço invisível naquele instante. Meus punhos cerraram-se, os nós dos dedos esbranquiçados pela força com que apertava as mãos, antes de virar as costas e começar a andar. Cada passo ecoava pelos corredores extensos, até algum lugar que eu pudesse me dar alguma direção.

SINS OF RECKLESS ( DARK ROMANCE ) Onde histórias criam vida. Descubra agora