SINS OF RECKLESS ( DARK ROMANCE )

CAPÍTULO 16

raven.
cinco anos atrás: noite de devil's night.

A dor aguda irrompeu de imediato, acompanhada pelo gosto cortante e metálico do meu sangue, que se espalhou lentamente pela língua, impregnando minha boca. Era um vício quase instintivo, esse de morder a pele macia do interior da bochecha.

Meus olhos estavam inertes, presos ao vidro, fitando o mundo lá fora com uma apatia quase palpável, enquanto a voz insípida da Sra. Miller ressoava ao fundo, tão distante da minha atenção quanto o próprio tempo que se arrastava. Era a última aula do dia e o cansaço já impregnava cada fibra do meu ser. Um suspiro longo e arrastado escapou de meus lábios quando permiti que meu corpo deslizasse pela cadeira, acomodando-se de forma desleixada.

Atrás de mim, pequenos tumultos em risinhos abafados e cochichos mal contidos atiçavam minha irritação latente. Rolei os olhos com tamanha exasperação que senti uma leve pressão dolorida nas orbes, como se até meus sentidos estivessem cansados daquela rotina tediosa.

Num movimento quase imperceptível, virei o corpo o suficiente para captar a visão parcial das três garotas que se balançavam em suas cadeiras.

— Eles estarão aqui.

A única frase que sobressaiu, entre as outras palavras jogadas, e antes que eu pudesse digerir o significado, meus olhos, quase sem querer, pousaram em Ezekiel. Ele já estava me observando, seus olhos cravados em mim com uma intensidade quase torturante.

Desprendi-me abruptamente daquele olhar, forçando minha atenção para frente, onde a figura da Sra. Miller prendia-me, ainda que de maneira quase forçada. No entanto, eu ainda sentia a sensação ardente do olhar de Ezekiel ainda presente, e não pude evitar o ímpeto traiçoeiro de lançar um breve vislumbre novamente, de soslaio, por sobre os ombros. Ali, no canto de seus lábios, repousava um sorriso pérfido, maliciosamente curvado.

Ezekiel fora uma presença constante em minha vida, uma sombra inevitável que, por mais que eu quisesse, nunca conseguia apagar. Ele estivera lá desde a infância, uma presença intrínseca. Nasci e cresci ao lado dele, compartilhando os mesmos espaços, frequentando os mesmos eventos. Compartilhamos o peso de nossas primeiras experiências, aquele misto de excitação e incerteza. Ainda podia sentir o vestígio do nosso primeiro beijo, quando éramos crianças ingênuas.

Com o passar dos anos, a distância entre nós se tornou uma realidade inevitável, causada principalmente pelas novas amizades dele.

Meus olhos, desinteressados, desviaram-se mais uma vez para o mundo lá fora, uma SUV surgiu em meu campo de visão, avançando com uma brusquidão inquietante, quase como houvesse perdido o domínio sobre o volante. A cada metro percorrido, o veículo se aproximava perigosamente do muro, flertando com o desastre iminente. Meus olhos se apertaram numa expressão de atenção aguçada, e meus dentes prenderam-se ao canto do lábio inferior, pressionando o metal frio do piercing que ali repousava, enquanto eu mantinha o olhar fixo sobre a cena.

Então, vi as portas do carro abrirem-se, revelando figuras masculinas que emergiam do interior do automóvel. Entretanto, todos eles mantinham-se de costas para mim, fora de minha visão para que eu pudesse identificar qualquer detalhe de seus rostos. Suas vestes eram uniformemente escuras, com moletons pretos que envolviam seus corpos de maneira austera, enquanto as toucas ocultavam suas cabeças, tornando suas identidades uma incógnita impenetrável.

Foi instantâneo, quase visceral. O impacto das portas batendo ao mesmo tempo em que, todos os presentes na sala se levantaram de seus lugares como se um ímã invisível os puxasse na direção das janelas. O frenesi era palpável. Uma onda de murmúrios e movimentos descoordenados tomou conta do ambiente, enquanto os alunos se amontoavam para enxergar o que acontecia lá fora. Meninas riam em nervosa excitação, sussurrando segredos febris para as amigas ao seu lado, olhos brilhando de uma curiosidade quase infantil.