CAPÍTULO 6

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raven.    cinco anos atrás.

Fechando meus olhos, sentia o calor sufocante da sua respiração, uma corrente fervente de ar que se misturava ao meu próprio alento, tornando-se indistinguível, quase venenosa. Sua proximidade era opressiva, esmagadora, e a fragrância de sua pele invadiu meus sentidos, trazendo consigo uma lembrança que eu, a todo custo, desejava enterrar. Seus dedos, serpenteavam em torno do meu pescoço, envolvendo-o em um aperto que era tanto uma promessa quanto uma ameaça. A palma de sua mão, vasta e implacável, pressionava-se contra a fragilidade da minha garganta, como se pudesse quebrá-la com um único gesto. E ainda assim, havia uma suavidade em seus movimentos, uma delicadeza cruel que me fazia estremecer, pois era essa dualidade que mais me aterrorizava — o poder absoluto disfarçado de ternura.

No entanto, por mais que eu tentasse permanecer no presente, minha mente traiçoeiramente me arrastou de volta para aquela noite que marcara minha alma de maneira irrevogável. Devil's Night. A noite que deveria ser de meras diversões, uma celebração repleta de euforia que todos aguardavam com uma ânsia quase palpável. Thunder Bay, um nome que se tornara sinônimo de mistério e perigo, pulsava com as histórias dos Quatro Cavaleiros — Damon Torrance, Kai Mori, Will Grayson III e Michael Crist— lendas vivas que transformaram a cidade em um teatro de ousadia e terror. Mas naquela fatídica noite, a expectativa de diversão se transmutou em algo sombrio e indomável, uma força que consumiu tudo ao seu redor.

Aquela noite não apenas despedaçou vidas, mas também rasgou o véu de inocência que eu ainda carregava. Minha mãe... havia sido morta, e eu, com meu coração envenenado pela culpa, acreditava que eu naquela noite, ao lado de Ezekiel, fora o estopim de sua morte. Era como se eu tivesse atraído a tragédia, e essa crença, essa convicção horrível, gravou-se na minha alma com a intensidade de uma brasa incandescente. Ezekiel, um espectro sempre presente, era tanto a lembrança viva do meu pecado quanto o espinho cravado em minha consciência, incapaz de ser removido.

Em um último ato de resistência, desesperada para quebrar o laço invisível que ele parecia ter sobre mim, disparei meu cotovelo em direção ao seu abdômen. O impacto foi insignificante, uma gota no oceano de sua força, mas era o bastante para me libertar, para abrir uma fenda pela qual eu poderia escapar. Com o coração martelando contra meu peito, lancei-me em uma fuga cega, os pés movendo-se por instinto, o pavor me impulsionando através da escuridão do parque.

A noite ao meu redor era um manto impenetrável, denso como o próprio breu, e o ar estava saturado com a ameaça iminente. Cada som parecia amplificado, o estalar de galhos sob meus pés, o sussurro do vento nas folhas, o ritmo frenético do meu próprio respirar. Sem orientação, guiada apenas pelo desejo desesperado de me afastar de Ezekiel, meus passos me levaram cada vez mais fundo na escuridão. O terreno começou a inclinar-se traiçoeiramente, e o ar.

Agachei-me, buscando abrigo junto ao que eu presumia ser uma árvore, embora o breu absoluto que me envolvia tornasse impossível discernir qualquer forma ou contorno. O ar ao meu redor parecia pesado, carregado com a umidade e o cheiro de terra molhada, o que reforçava a sensação de estar enraizada naquele ponto, como se o próprio solo me tivesse aprisionado em suas garras invisíveis. Encolhi-me, pressionando as costas contra o tronco áspero, sentindo cada farpa de madeira perfurar minha pele através das roupas, como se a árvore fosse minha única âncora em meio à escuridão que ameaçava me engolir por completo. Cada músculo do meu corpo estava tensionado, pronto para responder ao menor sinal de perigo, e minha respiração, lenta e silenciosa, era um esforço consciente para não trair minha presença.

Raaaaaveeeen! — sua voz ecoou pelo ar, um cântico macabro que dançava entre as árvores, mas ele estava longe, muito longe. Um calafrio percorreu minha espinha ao ouvir meu nome ser estendido por sua voz, como uma promessa velada de que ele me encontraria, não importava o quanto eu tentasse fugir.

SINS OF RECKLESS ( DARK ROMANCE ) Onde histórias criam vida. Descubra agora