Capítulo III - 🏖️☀️

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Simone Tebet

Duas imagens borradas de Soraya pairavam sobre mim, e pisquei até que elas se fundissem. Ela tinha cortes no rosto, e o olho esquerdo estava fechado de tão inchado.

– Onde estamos? – perguntei, minha voz saia rascante e minha boca tinha gosto de sal.

– Não sei, em alguma ilha

– E o Rodolfo ? – perguntei.

Soraya fez um gesto negativo com a cabeça.

– O que restou do avião, afundou rápido!

– Não consigo me lembrar de nada.

– Você desmaiou na água e, como não consegui acordar você, pensei que estivesse morta.
Minha cabeça latejava. Toquei na testa e gemi quando meus dedos roçaram um grande calombo.
Alguma coisa pegajosa cobria a lateral do meu rosto.

– Estou sangrando?

Soraya debruçou-se sobre mim e afastou meu cabelo com os dedos, procurando a origem do sangramento. Gritei quando ela a encontrou.

– Desculpa – disse ela – É um corte profundo, não está mais sangrando tanto, sangrou muito mais quando estávamos na água. O medo me dominou, viajando pelo meu corpo como uma onda.

– Havia tubarões ?

– Não sei, não vi nenhum mas fiquei preocupada!

Respirei profundamente e me sentei. A praia virou. Apoiando minhas mãos abertas na areia, me segurei até que o pior da tontura passasse.

– Como chegamos aqui? – perguntei

– Enrolei meus braços entre as tiras do seu colete e boiamos com a correnteza até chegarmos a praia. Aí arrastei você pra areia.

E então, percebi o que ela tinha feito. Olhei pra água e não falei nada por um minuto. Pensei no que poderia ter acontecido se ela me soltasse ou se tubarões tivessem aparecido, ou se não houvesse uma ilha.

– Obrigada, Soraya!

– De nada – Disse ela, encontrando meus olhos por apenas alguns segundos antes de olhar para o outro lado

– Você está ferida?

– Estou bem. Acho que bati o rosto na cadeira da frente.

Tentei levantar e não consegui, dominada pela tontura. Soraya me ajudou, e desta vez fiquei de pé. Desafivelei meu colete salva-vidas e deixei que caísse sobre a areia. Me virei de costas para o mar e olhei em direção a terra. A ilha parecia com a da foto que eu vi na internet, exceto por não ter um hotel de luxo, nem casas de veraneio. A areia branca imaculada parecia açúcar sob meus pés descalços, eu não tinha ideia do que havia acontecido com meus sapatos. A praia dava lugar a arbustos floridos e uma vegetação tropical, e depois a uma área de mata onde as árvores cresciam próximas uma da outra, as folhas formando uma cobertura. O sol emanava um calor intenso, a brisa do oceano não conseguia diminuir minha temperatura corporal, que só aumentava e o suor escorria pelo meu rosto. Minhas roupas estavam grudadas na pele.

– Preciso me sentar de novo!

Meu estômago revirava, e pensei que talvez estivesse prestes a vomitar. Soraya se sentou ao meu lado e esperei meu enjôo passar.

– Não se preocupe. Eles devem saber que caímos e vão enviar um avião de resgate!

– Você tem alguma ideia de onde estamos ? – ela perguntou

– Na verdade, não – Usei o dedo pra desenhar na areia – as ilhas são agrupadas em uma corrente de vinte e seis atóis correndo do norte para o sul. É pra lá que estávamos indo – apontei para uma das marcas que fiz. Enfiei meu dedo na areia e apontei para outra – aqui é Malé, de onde partimos. Estamos em algum lugar no meio, eu acho, a não ser que a correnteza tenha nos levado pra leste ou para oeste. Não sei se Rodolfo se manteve no curso e não sei se Hidroaviões seguem um plano de voo ou se são rastreados pelo radar!

Simoraya - Na Ilha Onde histórias criam vida. Descubra agora