Soraya ThronickeSimone estava parada ao lado do bote salva-vidas. Eu lhe entreguei os peixes que havia apanhado e guardei o arpão na cabana.
— Tem alguma água no coletor?
— Não.
— Talvez chova mais tarde.
Ela olhou com expectativa para o céu e começou a limpar o peixe — Espero que sim.
Era novembro, e estávamos na ilha havia cinco meses. Simone disse que a estação das chuvas não retornaria até maio. Ainda chovia dia sim, dia não, mas não por muito tempo. Nós tínhamos água de coco, mas ainda assim estávamos com muita sede.
— Pelo menos sabemos que nunca devemos beber a água do lago — disse ela, encolhendo os
ombros. — Aquilo foi horrível.— Meu Deus, nem me lembre. Achei que fosse colocar meu baço para fora.
Não podíamos controlar a chuva, mas as Maldivas tinham uma vasta vida marinha. O coco e a fruta-pão mal davam para matar a nossa fome, mas os peixes coloridos e brilhantes que eu tirava da
laguna não nos deixavam morrer de fome.Eu ficava de pé na água que batia na altura da cintura e pegava um por um. Nenhum media mais do que quinze centímetros — um brinco e uma corda de violão não aguentariam mais peso —,
e eu estava preocupada em pegar algo maior e acabar rompendo a linha. Era uma boa coisa Simone ter tantos brincos na mala, porque eu já havia perdido um.Embora tivéssemos o suficiente para comer, Sisa disse que nossa dieta não tinha um monte de coisas importantes.
— Estou preocupada com você, Sory, você ainda está em fase de crescimento.
— Estou crescendo bem.
Nossa dieta não devia ser tão ruim, porque meus shorts desciam até o meio do joelho quando o avião caiu e agora estavam pelo menos dois centímetros acima.
— A fruta-pão deve ter vitamina C, senão já estaríamos com escorbuto — murmurou ela
— Que diabo é escorbuto? — perguntei. — Parece nojento.
— É uma doença causada pela falta de vitamina C — explicou ela. — Os piratas e os navegadores pegavam essa doença em viagens muito longas. Não é nada agradável.
Uma manhã, algumas semanas depois...
— Hoje é dia de Ação de Graças.
— É?
Eu não prestava muita atenção às datas, mas Simone se mantinha atualizada todos os dias.
— É. — Ela fechou a agenda e a colocou no chão ao seu lado. — Acho que nunca comi peixe no dia de Ação de Graças antes.
— Ou coco e fruta-pão — acrescentei.
— Não importa o que comemos. O dia de Ação de Graças é para agradecer o que temos.
Ela tentou ficar animada quando disse aquilo, mas então enxugou os olhos com as costas da mão e colocou os óculos escuros.
Nenhuma de nós mencionou o feriado pelo resto do dia. Eu não havia pensado a respeito do dia de Ação de Graças. Achei que alguém teria nos encontrado antes. Simone e eu quase não falávamos mais em resgate — esse assunto nos deprimia. Tudo o que podíamos fazer era aguardar e esperar que alguém sobrevoasse a ilha e nos enxergasse. Essa era a parte mais difícil: não ter nenhum controle sobre a nossa situação, a não ser que decidíssemos partir no nosso bote salva-vidas, mas Simone nunca concordaria com isso. Ela estava certa. Provavelmente, seria suicídio.
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Simoraya - Na Ilha
FanficSimone Tebet é uma professora de inglês de 35 anos desesperada por aventura. Cansada do inverno rigoroso de Chicago e de seu relacionamento que não evolui, ela agarra a oportunidade de passar o verão em uma ilha tropical dando aulas particulares par...