Soraya ThronickeSimone estava deitada de lado, virada pra mim, ainda dormindo. Os cortes no seu rosto estavam sarando, e, para a sorte dela, nenhum parecia profundo o suficiente para deixar uma cicatriz.
Se ela abrisse os olhos, me pegaria olhando para ela, então me arrastei para fora do bote e busquei dispersar os pensamentos que andavam vagando em minha mente.
Simone acordou dez minutos depois. Comemos coco e fruta-pão de café da manhã, e depois escovei os dentes, enxaguando com água da chuva.
— Aqui — falei, entregando a escova e a pasta de dentes para ela.
— Obrigada. — Ela colocou pasta na escova e escovou os dentes.
— Talvez haja outro avião hoje — refleti.
— Talvez — disse Simone.
Mas ela não olhou para mim enquanto falava.
— Quero dar mais uma olhada por aí. Ver o que mais tem nessa ilha.
— Temos que ter cuidado — alertou ela. — Não temos sapatos.
Dei a ela um par das minhas meias para que seus pés não ficassem completamente descalços. Eu me abaixei atrás da cabana, coloquei minha calça jeans para proteger as pernas dos mosquitos e entramos na floresta.
O ar úmido se instalou na minha pele. Passei por uma nuvem de mosquitos, mantendo a boca fechada e espantando-os com as mãos. Fomos mais para o interior da ilha, e o cheiro de plantas podres ficou mais forte. As folhagens acima de nós bloqueavam quase toda a luz do sol, e os únicos sons que ouvíamos eram os galhos se partindo e a nossa respiração enquanto inalávamos o ar pesado.
O suor encharcava minhas roupas. Continuamos em silêncio, e imaginei quanto tempo levaria para abrirmos caminho entre as árvores e chegarmos até o outro lado. Chegamos lá quinze minutos depois. Simone estava logo atrás de mim, então eu vi primeiro.
Parando bruscamente, me virei e fiz um sinal para ela se apressar. Ela me alcançou e sussurrou:
— O que é aquilo?
— Não sei.
Uma choupana de madeira, mais ou menos do tamanho de um trailer, se erguia quinze metros à frente. Talvez outra pessoa morasse na ilha. Alguém que não se preocupava com apresentações.
Andamos até a choupana com cuidado. A porta da frente pendia aberta, com as dobradiças enferrujadas, e demos uma espiada no interior.
— Olá? — disse Simone.
Como ninguém respondeu, atravessamos a soleira da porta e pisamos no chão de madeira. Havia outra porta do lado oposto do cômodo sem janelas, mas estava fechada. Não havia nenhum móvel.
Cutuquei uma pilha de cobertores no canto, e pulamos para trás quando uns insetos voaram de lá.Quando meus olhos se ajustaram à pouca luminosidade, percebi que havia uma grande caixa de ferramentas de metal no chão. Eu me abaixei e a abri. Havia um martelo, diversos pacotes de pregos
e parafusos, uma fita métrica, alicates e um serrote. Simone encontrou algumas roupas. Pegou uma camisa, mas a manga se soltou.— Pensei que talvez pudéssemos usar isso, mas deixa para lá — disse ela, fazendo uma careta.
Abri a porta do segundo cômodo, e entramos bem devagar. Sacos vazios de batatas fritas e embalagens de balas estavam espalhados no chão. Perto, havia um recipiente de plástico com uma
abertura larga. Eu o peguei e olhei para dentro. Vazio. Quem quer que morasse aqui provavelmente o usava para coletar água. Talvez, se tivéssemos explorado a ilha mais um pouco, andado além e encontrado a choupana mais cedo, não tivéssemos sido forçadas a beber a água do lago. Talvez estivéssemos na praia quando o avião sobrevoou nossas cabeças.
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Simoraya - Na Ilha
FanficSimone Tebet é uma professora de inglês de 35 anos desesperada por aventura. Cansada do inverno rigoroso de Chicago e de seu relacionamento que não evolui, ela agarra a oportunidade de passar o verão em uma ilha tropical dando aulas particulares par...